Entre a cruz e a espada
A rodada decisiva da fase de classificação da Série C flagra o Remo de novo em situação de desespero, exatamente como ocorreu na Série B 2021. O torcedor ainda nem assimilou direito o golpe sofrido com o rebaixamento e já mergulha em outro turbilhão de emoções. A partida de amanhã, às 17h, contra o Botafogo, em Ribeirão Preto, vale a manutenção do sonho de acesso. A rigor, o Remo depende dele mesmo – e é aí que mora o perigo.
Ao longo da temporada, desde o certame estadual, o Remo esteve sempre abaixo das expectativas. Conquistou o Parazão com uma campanha cheia de altos e baixos, mas não conquistou a confiança plena da torcida. Havia a sensação de que o time poderia render mais do que entregava.
Muitas das queixas sobre a performance se dirigiam ao técnico Paulo Bonamigo, repatriado após ter sido dispensado no começo da Série B. Pela indiscutível competência e a identificação que tem com o clube, Bonamigo foi escolhido para ser o responsável pela reestruturação do elenco, visando disputar a Série C tendo o acesso como foco.
O trabalho no Estadual foi marcado por desconfianças por parte do torcedor, ainda agastado com as circunstâncias da queda. Bonamigo teve que enfrentar esse obstáculo e não foi bem sucedido, apesar do título. Mantido para a Série C, iniciou a competição com resultados razoáveis, mas com um time sempre muito questionado.
Os reforços que chegaram não deram o necessário ganho técnico que a competição exigia. Rodrigo Pimpão, Fernandinho, Renan Castro e Netto entraram em ação desde o primeiro jogo, contra o Vitória. Nas rodadas seguintes foram perdendo espaço ou sendo mantidos à força, casos de Pimpão e Fernandinho.
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Os maus passos atingiram o ponto culminante com as derrotas para Volta Redonda (fora) e Altos-PI, numa inacreditável virada dentro do Baenão. Bonamigo saiu de cena e a diretoria trouxe o semi desconhecido Gerson Gusmão, de passagens vitoriosas no Operário-PR e no Botafogo-PB.
Poucas mudanças foram observadas após a troca de comando. Várias influências de Bonamigo seguiram vivas na nova gestão, para desespero do torcedor: a lentidão na troca de passes, a ausência de jogadas para o trio de ataque e a assustadora falta de vibração.
Gusmão parecia hesitar em modificar o modelo de jogo. No Re-Pa, foi tímido em excesso e perdeu grande chance – com ajuda e tanto de Vinícius, que falhou nos dois gols – de igualar a pontuação do maior rival. Faltou ousadia para explorar melhor o fator campo e a presença maciça da torcida.
Essa imagem amedrontada passou a acompanhar o treinador. No confronto com o Atlético-CE, lanterna da competição, a insegurança tática e a falta de comprometimento do time falaram mais alto. O Remo sofreu uma derrota tão inesperada quanto frustrante dentro da campanha.
Junto com o empate no clássico, as derrotas para Altos e Atlético respondem pela enrascada em que o Remo se meteu nas últimas rodadas. Para piorar, o time foi incapaz de superar a marcação da Aparecidense e deixou escapar a oportunidade de se tranquilizar na tabela.
O jogo será disputado sob angústia e pressão. O Remo terá que se apresentar melhor do que tem mostrado na competição, com o adendo de que não poderá cometer erros defensivos. Soares deve ser o articulador de uma equipe que tem obrigação de vencer para se classificar - e, além disso, precisa ainda torcer contra Bota-PB, Aparecidense e Vitória.
Um gigante na última linha alviceleste
Se o campeonato estivesse terminando agora, nesta 19ª rodada marcada para amanhã, o PSC poderia atribuir boa parte do êxito de sua caminhada na Série C a um trio de jogadores – Genilson, José Aldo e Marlon. Foram responsáveis pelos melhores momentos do time e garantiram triunfos estratégicos para a classificação à fase de grupos.
De todos, o destaque mais improvável é o do zagueiro Genilson, de comportamento apenas mediano no Campeonato Paraense e de surpreendente segurança na Série C. Graças a ele, o PSC conseguiu resistir até a situações de fragilidade no setor defensivo.
E olha que jogou, em grande parte dos confrontos, sem um companheiro à altura para dividir as responsabilidades. Como seus parceiros, o técnico Márcio Fernandes utilizou nada menos que cinco atletas – Lucas Costa, Bruno Leonardo, Marcão, Douglas e Neylor. Marcão e Bruno foram dispensados por deficiência técnica.
Foi com esse tipo de parceria que Genilson teve que lidar ao longo dos jogos e, mesmo assim, ainda encontrou tempo para liderar a defesa com extrema competência. Suas raras ausências representaram desassossego para o time, como na derrota para o Vitória, em Salvador.
Contra o Altos, no último sábado, brilhou com um gol de cabeça que abriu caminho para a vitória fora de casa. Impulsão, velocidade e capacidade de recuperação são algumas das virtudes do zagueiro, que está entre os melhores do Brasileiro.
Sobre os outros jogadores que sobressaíram na campanha, cabe dizer que José Aldo e Marlon sofreram com a sobrecarga de tarefas em campo e o aumento da vigilância imposta pelos adversários, situação exposta nas últimas rodadas. Em várias ocasiões, José Aldo foi o homem do desafogo, aparecendo como construtor e finalizador de jogadas.
Aconteceu isso diante de Manaus, Botafogo-PB e Volta Redonda. Ao mesmo tempo, com a desenvoltura técnica para armar jogadas e auxiliar o ataque, ele contribuiu bastante para o excelente desempenho de Marlon na primeira metade da fase de classificação.
Aberto pelo lado esquerdo, Marlon marcou gols importantes e deu assistências primorosas para os companheiros. Caiu de rendimento, deixando de fazer gols por seis rodadas. Diante do Campinense e do Altos, voltou a balançar as redes e reassumiu a ponta da artilharia.
O futebol é calcado no jogo coletivo, mas seria injusto não reconhecer o papel exponencial de Genilson, Marlon e José Aldo – escalados para a partida de amanhã contra o Floresta – para o êxito do Papão nesta Série C.
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