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A SUL-AMERICANA PROVOU

Gerson Nogueira: a simplicidade nunca sai de moda no futebol

A final da Copa Sul-Americana foi uma prova viva, quando o Independiente Del Valle fez um jogo simples e objetivo contra o São Paulo

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Imagem ilustrativa da notícia Gerson Nogueira: a simplicidade nunca sai de moda no futebol camera O Tricolor paulista perdeu o título da Sul-Americana para o Independiente Del Valle | Reprodução/Web

A simplicidade não sai de moda

Acompanhei no sábado à tarde a final da Copa Sul-Americana entre São Paulo e Independiente Del Valle (do Equador), disputada na cidade de Córdoba, na Argentina. Jogo acima do nível médio da competição, que é uma espécie de rebotalho do futebol do continente e consolação para os que são barrados no banquete da Libertadores.

Para minha surpresa, foi bem mais interessante do que a imensa maioria dos jogos do Brasileiro da Primeira Divisão, que submetem o torcedor a um tédio abusivo. E foi um jogo bom exclusivamente por uma razão: o time equatoriano pratica um futebol organizado, com clara estruturação tática, amparada no esforço coletivo.

Ao contrário do futebol praticado hoje no Brasil, salvo exceções, o Del Valle toca e valoriza a posse de bola. Lembra até aquele sistema em moda no futebol argentino tempos atrás, todo trabalhado na exploração inteligente dos passes curtos. Não há a prevalência da correria desenfreada, embora o time não tenha grandes destaques individuais.

Quem esperava brilho maior nas jogadas, obviamente perdeu tempo. Não há espetáculo, mas é importante reconhecer que o time equatoriano pratica um modelo mais próximo ao da escola espanhola, por influência dos técnicos que dirigiram a equipe nos últimos anos.

Em evidência desde 2016, quando foi vice da Libertadores, o Independiente chegou ao segundo título da Sul-Americana assentado num projeto que valoriza as divisões de base. Ramirez, o jovem e firme goleiro do confronto com o São Paulo, é um dos formados no próprio clube.

Predomina uma simplicidade na distribuição, sem espaço para truques esquemáticos e com uso inteligente do 3-5-2. Até o craque do time, o argentino Faravelli, 29 anos, não exagera em firulas. Com Marco Angulo (20), constitui a base criativa. A velha manha de transformar em vantagem os erros do adversário foi usada sabiamente pelo Del Valle, sem que o São Paulo de Rogério Ceni tivesse percepção de que era dominado

Quando o time paulista se deu conta já perdia por 1 a 0. Tentou acordar, pressionou na base do individualismo de Patrick e algumas estocadas com Calleri, mas não passou disso. Veio o 2º tempo e o Independiente manteve a pegada, sem se abalar. Logo fez 2 a 0 e ficou claro para todos – menos talvez para Ceni – que a fatura estava liquidada.

A simplicidade posta em prática pelos equatorianos é algo meio menosprezado pelos técnicos brasileiros. Alguns agem como se fosse feio simplificar os caminhos e economizar nos arabescos inúteis, como o excesso de passes improdutivos no meio-campo e defesa.

Ao mesmo tempo, quando parecem buscar a objetividade, os times brasileiros abusam do chutão e dos lançamentos longos, quase sempre direcionados aos adversários. Não há direção e nem consciência de que o jogo só evolui com o passe certo, nem curto e nem exageradamente esticado. Por isso, prevalece aquele festival de bumba-meu-boi.

É possível observar isso com clareza na Série B brasileira, rica em times que copiam uns aos outros na tarefa de mediocrizar o jogo. O modesto Del Valle deixou lições na vitória categórica sobre o São Paulo, um time hoje superestimado pela empolgada mídia esportiva do Sudeste.

Com simplicidade e método, o representante do Equador deu um tapa na cara do futebol às vezes excessivamente pedante jogado no Brasil.

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Dona Fifa é implacável na hora do faturamento

Uma das maiores máquinas de fazer dinheiro do planeta, a Fifa cresce cada vez mais como sólida corporação financeira. Houve um breve momento de recuo quando o propinoduto chefiado por João Havelange e Joseph Blatter veio à tona, mas, desde 2018, voltou a fazer bom tempo e a chover na horta da entidade, já sob o comando de Gianni Infantino.

As ações de marketing e publicidade que cercam o maior evento esportivo do planeta, a Copa do Mundo, dão bem a medida do poderio da Fifa. É o momento de maior faturamento e, por isso, o uso das marcas oficiais da entidade é controlado a ferro e fogo, a fim de evitar que nenhum não parceiro avance nos limites estabelecidos.

O uso irregular das marcas Fifa pode representar o chamado marketing de emboscada – quando uma marca não patrocinadora de evento se associa direta ou indiretamente a este, beneficiando-se financeiramente ao induzir o consumidor a acreditar que há legitimação da detentora de direitos.

O Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, do Conar, proíbe que empresas explorem o marketing de emboscada e costuma ser rigoroso na punição aos infratores. O problema, para a Fifa, é que as rentáveis fatias de negócios aguçam a criatividade dos criadores e profissionais de publicidade, capazes de inventar truques para driblar os limites legais.

A utilização de termos como Copa do Mundo, Mundial de Futebol ou Jogos Mundiais, dentre outros, são terminantemente vedadas a quem não tem o licenciamento da Fifa e, em caso de exploração, trazem riscos imensos de serem apontados como burla ou fraude.

Já expressões como “Vai Brasil”, “Rumo ao Hexa”, “Explode Brasil”, “Juntos com a Seleção”, dependendo da forma como forem empregadas em peças de propaganda e das imagens ilustrativas, podem permitir o drible aos rigores da legislação e ao controle feroz da Fifa.

Até a fonte dos textos e peças de campanha pode ser barrada, caso seja semelhante ao da Fifa ou da Copa do Catar, configurando desrespeito à “propriedade intelectual dos Jogos”.

Uma rápida espiada no alentado Manual de Diretrizes de Propriedade Intelectual da Fifa permite ver as imensas limitações impostas no terreno dos direitos de propriedade, com ênfase nas recomendações contra associações comerciais não autorizadas.

Os meios de comunicação, por exemplo, precisam ter extremo cuidado com o uso de vídeos, matérias, artigos ou reportagens que tenham proximidade com as marcas licenciadas, a não ser quando o conteúdo tiver fins estritamente jornalísticos e editoriais.

A boa notícia é que torcedores podem eventualmente usar as marcas Fifa nas pinturas e grafites de rua, bandeiras e faixas, desde que sem objetivo comercial, e com moderação. Pelo menos isso.

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