Antigamente, era comum ver equinos servindo como meio de transporte de pessoas e cargas pelo Pará. Durante décadas, estes animais foram usados para trabalho pesado nesse contexto. No entanto, a evolução tecnológica e a popularização dos veículos, principalmente a partir da década de 1990, fizeram com que estes animais fossem, gradativamente, substituídos por carros e motos. Se por um lado, a substituição do animal por veículos motorizados reduziu drasticamente sua exploração, por outro, acabou causando um aumento do número de abandonos e mortes.
Foi este contexto que fez surgir no Pará um projeto pioneiro no Brasil. Criado há quase vinte anos, o Carroceiro da Ufra tem como objetivo resgatar animais em situação de abandono e fazer a ligação entre os bichos e pessoas interessadas em adotá-los. O processo é relativamente simples. O Carroceiro da Ufra atua em parceria com instituições como a Delegacia de Meio Ambiente e as polícias Civil e Militar. A equipe de veterinários do projeto é acionada pelos órgãos de segurança e, em seguida, vai até o local atender ou, em muitos casos, resgatar o animal.
O projeto possui um centro de reabilitação clínico e cirúrgico para o atendimento dos equinos que chegam. A maior parte dos animais tratados no hospital de cavalos na universidade são de trabalhadores carroceiros, mas também existem muitos casos de abandono. Nos casos de maus tratos, os animais são tratados e os seus proprietários recebem uma formação para aprenderem a importãncia de ter um animal saudável. Nas situações de abandono, o animal é socorrido, atendido e encaminhado para o processo de adoção. “Começamos a atender clinicamente estes animais da grande Belém no início. A demanda foi tão grande e, vendo a problemática social, o projeto carroceiro foi crescendo e se expandindo. Com o tempo, montamos centro de reabilitação clínico e cirúrgico, mas vimos que só isso não ia resolver o problema. O carroceiro faz parte disso e também montamos um programa de extensão para esses trabalhadores. Em agosto fazemos 18 anos de atividade, sempre funcionando como um hospital de cavalos, tudo relacionado ao carroceiro”, diz Djacy Barbosa, médico veterinário especialista em equinos, coordenador do Carroceiro.
CARROCEIROS EM AÇÃO
A sede do projeto, que fica no campus da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), em Belém, recebe e atende animais resgatados. Primeiro é necessário registrar um boletim de ocorrência em alguma das instituições de segurança (Dema, PC ou PM). Os órgãos são responsáveis pela averiguação da denúncia e, caso necessário, encaminham o animal aos profissionais.
Além do atendimento de denúncias, O Carroceito da Ufra realiza ações itinerantes em locais com maior concentração de animais em situação de risco. De acordo com o professor Djacy, bairros em Ananindeua, Algodoal, Belém e Marituba são onde se realizam mais atividades de atendimento do projeto. Na ilha de Algodoal, onde os cavalos são os únicos meios de transporte de moradores e turistas, o projeto ajudou na criação de uma associação de charreteiros responsável pelo cuidado com os animais utilizados no transporte de pessoas. A conscientização dos trabalhadores foi surpreendente e hoje os animais de lá servem como referência ao projeto. Afinal, são eles a fonte de renda de centenas de nativos da ilha.
ADOÇÃO
A adoção de um equino é uma possibilidade, mas requer uma série de condições para que uma pessoa seja considerada apta a ter um animal de grande porte em sua propriedade. Os animais são destinados, na maioria dos casos, à chacaras e sítios, onde possuam espaço suficiente para levar uma vida digna. Os Carroceiros recebem os animais, os tratam, e em seguida fazem a ponte entre os interessados na adoção e as instituições responsáveis.
Existe atualmente uma fila de espera para adoção de equinos pelo projeto. Os interessados no processo devem realizar, primeiramente, um cadastro na Delegacia do Meio Ambiente, que é o órgão responsável por encaminhar as demandas ao programa. Geralmente, os animais são adotados por donos de sítios em todo o Estado. A regra é apenas uma: o bichinho não pode ser utilizado para trabalho. Apenas um merecido descanso após uma vida dura de exploração. Tem surtido efeito.
“O número de animais de 10 anos pra cá diminuiu muito. Com o tempo, muitos foram sendo substituídos por veículos. Agora, ou o cavalo está trabalhando na carroça ou foi abandonado, só tem esses dois destinos. Quando ele está inativo pra carroça, ele está abandonado. Ananindeua e Marituba tem muitos animais que estão nessa situação. O carroceiro acha que não tem responsabilidade e lava as mãos quando o animal não serve. Aí entra a segunda fase do projeto, em que recebemos esses animais, cuidamos e em seguida arrumamos tutores que queiram adotá-los. Ao longo de 10 anos, temos quase 200 animais em que conseguimos tutores, a maioria para sítios e chacáras, onde possuem outra vida”, explica Djacy.
SANTUÁRIO
Os coordenadores do projeto observam que as atividades de resgate e atendimento dos equinos são importantes para a redução dos danos, mas ainda existe uma intensa demanda de animais desta espécie em maus-tratos em todo o Estado. A criação de um santuário que possa receber estes animais em grande número é a solução mais próxima para o problema. A possibilidade é real, mas tudo depende da vontade política. “O próximo objetivo do nosso projeto é fazer com que nossos órgãos legisladores criem um santuário para estes animais que são abandonados por todo o Pará. Ao longo destas quase duas décadas tivemos importantes avanços com representantes políticos, que passaram a ver a questão como se deve ser. Por enquanto, vamos trabalhando com o máximo que temos”, diz Djacy.
A demanda foi tão grande e, vendo a problemática social, o projeto carroceiro foi crescendo e se expandindo. Com o tempo, montamos centro de reabilitação clínico e cirúrgico. Em agosto fazemos 18 anos de atividade, sempre funcionando como um hospital de cavalos, tudo relacionado ao carroceiro”
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