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ARQUITETURA

A influência dos traços de Antonio Landi na imagem de Belém

Arquiteto italiano que viveu na capital paraense por 38 anos deixou sua contribuição para a construção da imagem da cidade, por meio de prédios históricos como igrejas de Santana e São João.

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Imagem ilustrativa da notícia A influência dos traços de Antonio Landi na imagem de Belém camera A Catedral da Sé é um dos espaços mais importantes de Belém e tem a marca de Antonio Landi | Irene Almeida/Diário do Pará

Um passeio pelo centro histórico de Belém chama a atenção pelos traços arquitetônicos de prédios seculares como o Palácio Lauro Sodré, as igrejas da Sé, Nossa Senhora do Carmo e Capela São João Batista, entre outros que podem ser observados principalmente nos bairros da Campina e Cidade Velha. Grande parte desse patrimônio tem a assinatura do arquiteto italiano Giuseppe Antonio Landi.

Desenhista, arquiteto, gravador, geógrafo e astrônomo, Landi é um dos personagens que estão ligados à história arquitetônica desses 407 anos da capital paraense.

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A arquiteta Elna Trindade, 69 anos, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e Faculdade de Conservação e Restauro da UFPA (Facore), é uma apaixonada pelas obras do italiano, fruto de suas teses de mestrado e doutorado na área. “Desde a minha graduação no curso de arquitetura eu já me interessava por Landi, já me interessava pela arquitetura da cidade, já fotografava a cidade, as igrejas e já comecei a estudá-lo”, conta.

“Nessa época ele era muito pouco conhecido, era muito difícil a pesquisa, isso que me motivou a atravessar essa barreira, essa dificuldade”.

Elna destaca que no mestrado se deteve a estudar o Palácio Lauro Sodré e no doutorado todos os desenhos que ele produziu na Itália, Portugal e Belém. “Faço uma comparação. O trabalho está disponível no Curso de História da UFPA”, pontua.

“Ele deixou por volta de 12 obras de arquitetura religiosa e cinco de arquitetura civil. Tem aquelas que se chama de raíz, com os desenhos de projetos dele e tem as obras atribuídas que não se encontram desenhos assinados, mas desenhos soltos, sem assinatura, e se faz essa relação, essa atribuição em relação aos elementos arquitetônicos e relação que ele tinha com esses proprietários”.

Para a doutora em Landi, na obra do italiano “chama a atenção a arquitetura como um todo. O estilo neoclássico. Ele implanta o barroco tardio que anuncia esse barroco neoclássico, bem diferente do que estava sendo implantado no Brasil, como as obras de Aleijadinho. Mais clássico, mais delicado”, descreve.

O Palácio Lauro Sodré guarda características marcantes do artista, mesmo após restauros
📷 O Palácio Lauro Sodré guarda características marcantes do artista, mesmo após restauros |Celso Rodrigues/Diário do Pará

“Muito historiador classifica Landi como neoclássico, mas ele na verdade tinha formação na arquitetura barroca italiana, o barroco tardio. Essas são as características dele”.

Segundo Elna, ter essa percepção sobre o arquiteto é necessária para a população de Belém. “É muito importante que no aniversário de Belém seja feita essa divulgação de Landi, quem foi ele, a população ter esse conhecimento ao visitar as obras dele, como as igrejas”, analisa.

“O Brasil é o único lugar que tem as obras dele. Ele tem desenhos em Bolonha, mas não se chegou a construir. Belém é a única cidade do mundo que tem a obra construída do Landi, além de poucas obras no interior, em Cametá e Igarapé-Miri. Os próprios italianos quando vêm aqui ficam encantados em conhecer a obra dele, a correspondência com a arquitetura da época lá na Itália”.

IMAGEM DA CIDADE

Quem também tem credencial para destacar a importância de Landi para a capital paraense é a pesquisadora e diretora do Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA), Jussara Derenji, também arquiteta. “A importância dele é arquitetônica, na construção de uma imagem da cidade a partir do Século 18. O que mais chama atenção nas obras dele é o papel que elas têm dentro da construção dessa imagem da cidade, como uma cidade que tem um contexto monumental, num período em que outras cidades brasileiras não têm”, observa.

“Além disso, Landi introduz o estilo neoclássico que não existe no resto do país. Porque ele trabalha no Século 18 e esse estilo só chega no resto do Brasil pela missão francesa, no Rio de Janeiro, na época de Dom João VI. Existe a introdução do neoclássico e monumentalidade que outras cidades brasileiras não têm nas igrejas e palácios”.

A Igreja do Carmo fica no bairro da Cidade Velha e tem o estilo neoclássico
📷 A Igreja do Carmo fica no bairro da Cidade Velha e tem o estilo neoclássico |Octávio Cardoso/Diário do Pará

Jussara Derenji acredita que a obra do arquiteto italiano é bastante valorizada. “Embora as pessoas possam confundir bastante o que é dele e o que é atribuído a ele. Landi tem uma série de projetos que são comprovadamente dele, registrados no Século 18. São desenhos deixados por ele para Alexandre Rodrigues Ferreira, que foi um naturalista brasileiro que estudou em Portugal e que veio para a região para registrar as riquezas e possibilidades de exploração”, explica. “Então ele deu as plantas para esse naturalista”.

A pesquisadora ressalta que “temos comprovadamente dele a Igreja de Sant’Ana, construída parcialmente com recursos e escravos dele, porque ele tinha propriedades e o Engenho do Murutucu, que era residência dele, onde tinha olaria e tem vestígios da capela”, conta. “Mas a Igreja de Santana sem as torres, que foram acrescentadas depois”.

Outro templo que tem a assinatura de Landi é a Capela de São João, na Cidade Velha. “É a obra prima, considerada a jóia das obras dele, porque é uma igreja muito extraordinária dentro da nossa arquitetura colonial. Ela é uma igreja que é um octógono, inscrita num quadrado, toda decorada internamente com desenhos de ilusão e isso não tem similar em nossa arquitetura”, diz Jussara.

Capela de São João Batista, na Cidade Velha
📷 Capela de São João Batista, na Cidade Velha |Ricardo Amanajás/Diário do Pará

A arquiteta ressalta que nas outras igrejas ele fez intervenções. “Ele pode ter atuado na fachada da Catedral, partes internas da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, nos púlpitos da Igreja das Mercês”, detalha. “O Palácio do Governo (Lauro Sodré) é projeto original dele, embora tenha sido bastante modificado na época do governador Augusto Montenegro”.

Apesar desse interesse pelo que Landi deixou em Belém, Jussara ressalta que Landi não era reconhecido, nem valorizado no início. “Não havia nenhuma valorização dele, ela começa nos anos 1950 com o professor Robert Smith, que começa a estudar a obra dele, e depois vários historiadores, o Mário Barata, uma série de pessoas, pesquisadores sérios, Augusto Meira”, cita.

“Vão sendo descobertos documentos, até fora de Belém, e se vai construindo uma valorização dele. Há um estudo que eu considero mais completo e mais sério sobre ele que é o da professora Isabel Mendonça, que é a tese de doutorado dela sobre a obra dele, o que pode ou não ser atribuído a ele”.

UM ITALIANO PARAENSE

Antônio José Landi chegou a Belém a convite da Corte Portuguesa com a função de riscar mapas, se destacando, porém, como arquiteto.

Viveu na capital paraense 38 anos. Morreu em 1791 em Belém, onde deixou a maior parte de suas construções.

ROTEIROS GEOTURÍSTICOS

Dentro desse processo de valorização das obras de Antonio Landi, se insere o projeto Roteiros Geoturísticos, idealizado pela professora da UFPA, Maria Goretti Tavares. Na prática, são passeios guiados pelo centro histórico de Belém que mostram aos participantes detalhes das construções e o contexto histórico. Há, inclusive, um roteiro voltado para as obras do arquiteto italiano.

Maria Goretti, nesses passeios, conta um pouco da biografia de Landi. “Ele nasceu em 29/10/1713, na Itália. Foi um arquiteto, muito bom desenhista, contratado por Portugal entre 1750 e 1753, após a assinatura do Tratado de Madrid, que vai redefinir o Tratado de Tordesilhas”, informa. “Landi foi contratado para integrar a comissão demarcadora, como desenhista, na Amazônia. Nessa comissão vieram outros pesquisadores: geógrafos, matemáticos... Ele chega em Belém, participa dessa expedição, mas também é o momento em que vários prédios estão sendo construídos. Ele é contratado para fazer a reforma e o término de outros prédios em Belém”.

A Casa das 11 Janelas seria uma obra que é atribuida ao arquiteto italiano
📷 A Casa das 11 Janelas seria uma obra que é atribuida ao arquiteto italiano |Wagner Almeida/Diário do Pará

Segundo Maria Goretti, esse momento é muito importante porque ele vai fazer prédios fundamentais no Século 18 ligados à Igreja Católica. “Ele termina a fachada da Catedral, fachada do Carmo, das Mercês, a Capela de São João, vai fazer a igreja de Santana, que era devoto. Assim como também vai participar de prédios ligados ao Estado, como o palácio dos governadores e outros prédios ligados a particulares, como a Casa Rosada, na Siqueira Mendes, primeira rua de Belém”.

Sobre o roteiro geoturístico, a professora conta que a ideia surgiu de uma sugestão do falecido professor Flávio Nassar, da UFPA, arquiteto que criou o Fórum Landi. “Ele sugeriu que fizéssemos um roteiro sobre o Landi. Nessa época consegui uma bolsa e fiquei dois meses em Portugal, pesquisando sobre ele, que ficou lá antes de vir ao Brasil. Resolvemos fazer um roteiro em homenagem a ele, pegando as principais obras dele na Cidade Velha e Campina”, ressalta.

“O roteiro começa na Casa das 11 Janelas, que é atribuída ao Landi, depois a Catedral, a primeira rua de Belém com a Casa Rosada, a Igreja do Carmo, de São João, Palácio dos Governadores; depois, na Campina, a Igreja das Mercês e Santana, a maior obra dele. O roteiro visa divulgar a importância desse arquiteto italiano que veio para Belém”.


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