A CPI da Covid ouviu nesta quarta-feira (4) o depoimento do coronel da reserva Marcelo Blanco, militar que atuou no Departamento de Logística do Ministério da Saúde, e que pediu exoneração em janeiro.
Ele tinha influência na pasta e levou o policial militar Luiz Paulo Dominghetti ao encontro com o então diretor de Logística, Roberto Ferreira Dias. No jantar, teria acontecido o pedido de propina de US$ 1 por dose, segundo revelou a Folha. Depois da reportagem, Dias foi exonerado e depois acabou preso em depoimento na CPI.
Em depoimento a CPI, Marcelo Blanco, revelou que levou o cabo da PM Luiz Paulo Dominghetti a um jantar com o então diretor da área, Roberto Dias, para que ele o conhecesse e tentasse marcar uma agenda para tratar da venda de vacinas.
Blanco indicou que levou Dominghetti ao restaurante Vasto sem o conhecimento de Dias. Naquele encontro, segundo o PM relatou à Folha, o ex-diretor de Logística teria pedido propina de US$ 1 para viabilizar a compra de imunizantes da Astrazeneca.
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"Quando eu fiquei sabendo que o Roberto estaria no Vasto, eu sugeri a ele 'eu te apresento e você pede a sua agenda [no departamento de logística]"
"Eu não falei que foi um encontro casual. Eu sabia que o Roberto estaria no Vasto. Eu posso ter sido inconveniente de levar o Dominghetti sem avisar? Até posso ter sido. Mas eu não vi mal algum", disse Blanco.
O coronel negociava com o PM a compra de vacinas destinadas ao mercado privado, apesar de não haver autorização para a venda de imunizantes a empresas.
Ao explicar a sua participação na negociação de compra de vacinas da AstraZeneca, o tenente-coronel Marcelo Blanco apresentou uma série de mensagens trocada com o policial militar Luiz Paulo Dominghetti, que dizia representar uma empresa americana.
Os áudios e mensagens mostram que Blanco, que nesse momento já havia saído do Ministério da Saúde, tratando de negociação de venda de vacinas para a iniciativa privada. As conversas se deram no mês de fevereiro, entre 9 e 22.
Os membros da CPI apontaram então que se tratava de uma atividade ilegal, uma vez que a legislação que autorizava a compra de vacinas pela iniciativa privada apenas foi sancionada no dia 11 de março.
"A primeira menção a se ter uma lei é do dia 18 de fevereiro. A primeira reunião ocorre no dia 21 de fevereiro, eu participei, sob a resistência do governo [ao projeto de lei]", disse o vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues.
Randolfe ainda explica que a legislação sancionada permite a compra por iniciativa privada apenas após a vacinação de todos os grupos prioritários pelo Programa Nacional de Imunizações. O projeto de lei que previa a compra imediata por iniciativa privada só viria a ser apresentado e aprovado pela Câmara dos Deputados em março. A proposta acabou engavetada no Senado.
Ao se justificar, Blanco disse que estava apenas se adiantando, para estar preparado quando a legislação fosse aprovada.
"Eu só estava querendo construir um modelo de negócio", afirmou.
"A gente vem acompanhando [o debate] no que é público. E eu falei para ele [Dominghetti] 'precisamos desenhar uma estratégia almejando esse mercado'. Eu gostaria de ter algo já desenhado", completou Blanco.
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