A morte do policial militar Leandro da Silva, durante um patrulhamento no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro, no último sábado (20), pode ter sido o estopim para uma operação que deixou pelo menos oito mortos. Os corpos foram encontrados em um manguezal, na manhã desta segunda (22).
O episódio macabro desta segunda-feira guarda semelhanças com outro caso, ocorrido no Salgueiro em 2017. À época, uma ação da Polícia Civil, com participação das Forças Armadas, deixou sete mortos em um baile funk, durante uma madrugada de sábado, um dia após um PM ter sido assassinado na região.
No último domingo (21), o Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM do Rio) realizou uma outra operação na comunidade após receber informações de que uma das pessoas que atacaram os agentes no sábado estaria ferida na região.
Operação da PM deixa váriosmortos no Complexo do Salgueiro
Durante a ação, uma idosa foi baleada e encaminhada para o hospital estadual Alberto Torres, em São Gonçalo. Segundo o Instituo Fogo Cruzado, neste ano, 25 idosos já foram baleados na região metropolitana do Rio e 9 deles morreram.
A polícia diz ainda que, neste domingo, os agentes foram atacados em uma área de mangue, na qual ocorreu troca de tiros com os suspeitos. Os policiais apreenderam munições de fuzil, cinco carregadores e uniformes camuflados. Os corpos foram encontrados perto da área em que houve o confronto.
Vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-Rio, Nadine Borges, diz que os moradores relatam que os corpos apresentam sinais de tortura e que a ação se trata de uma chacina.
"O que nós sabemos dos moradores é que há muita tensão e muito medo. Ao que tudo indica, foi uma represália à morte do policial no sábado. É um caso muito grave", diz ela, acrescentando que os corpos foram retirados de dentro de um mangue da comunidade. "O nosso medo é que, depois dessas chacinas, a repressão aumente nas comunidades. O poder público precisa sair da omissão perene e acabar com o que a gente chama de operação vingança." Borges diz que, pelos relatos dos moradores, dez corpos já foram encontrados.
Procurada, a PM disse que não teve acesso aos corpos e não comentou sobre os relatos. A Defensoria Pública do Rio diz que recebeu relatos sobre a operação no domingo e que comunicou o caso ao Ministério Público para a adoção de "medidas cabíveis a fim de interromper as violações". O órgão diz que representantes da ouvidoria vão à comunidade para coletar informações que possam embasar medidas, inclusive judiciais.
Em nota, o MP-RJ (Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro) afirmou que o caso está sendo analisado pela 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada do Núcleo Niterói e São Gonçalo, que acompanha as diligências no local e tomará as medidas cabíveis. Ainda segundo a nota, a polícia militar comunicou a operação ao MP-RJ.
Em agosto do ano passado, o Supremo proibiu operações em favelas do Rio enquanto durasse a pandemia. Caso a polícia precise fazer operações, é necessário avisar ao Ministério Público com antecedência.
Em maio, uma operação da Polícia Civil na favela do Jacarezinho, na zona norte, terminou com 28 pessoas mortas, sendo considerada a mais letal da história do Rio. Presos durante a ação relataram terem sofrido tortura. Já os boletins médicos dos mortos descrevem corpos com as vísceras para fora ou com "faces dilaceradas".
A polícia afirmou inicialmente que a investigação que motivou a incursão tratava de aliciamento de menores, homicídios, sequestros de trem e roubo. Em um relatório feito após a ação, porém, não constam esses crimes, mas o cumprimento de 21 mandados de prisão por associação ao tráfico de drogas.
Em outubro, o Ministério Público do Rio denunciou dois policiais civis por envolvimento em um homicídio durante a operação na favela do Jacarezinho. Trata-se da primeira denúncia oferecida pela força-tarefa montada pelo MP-RJ para investigar a ação.
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