Os lucros obtidos pelas quadrilhas que fazem roubos por meio do pagamento eletrônico instantâneo PIX têm atraído a atenção de criminoso do Comando da Capital (PCC), perigosa facção criminosa com atuação em diversos estados do Brasil, segundo investigação da Polícia Civil de São Paulo.
O Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) identificou que a facção atua no controle de crimes de transferência de dinheiro com celulares roubados em bairros de classe média alta da capital paulista.
Os investigadores apontam ainda que a quadrilha tem uma célula na Bela Vista, região central, para desbloquear aparelhos roubados no bairro ou em áreas próximas, como a Paulista, Consolação e Jardins. Os assaltantes levam os telefones rapidamente para quartos de pensões em pontos estratégicos, onde transferem valores bem antes que os donos tomem providências de bloqueio de senhas.
"Você vê movimentações de R$ 50 mil, de mais de R$ 100 mil. Teve uma vítima que veio aqui e, em um só Pix, o cara fez um empréstimo de R$ 26 mil e transferiu tudo", diz Anderson Honorato, delegado assistente da 2ª Delegacia do Patrimônio, ao Estado de S. Paulo. Segundo ele, o lucro obtido com as transferências efetuadas após os roubos é, em média, de cerca de R$ 50 mil por aparelho.
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"Geralmente, quem rouba o celular ganha uma porcentagem do que eles conseguem desviar a partir do aparelho. Uma parte fica com o laranja da conta, uma parte fica com o chefão, uma parte com quem faz o trabalho. Vai fatiando: uma porcentagem para cada um", explica o delegado.
De acordo com a polícia, a suspeita é que os roubos começaram a ganhar força, no ano passado, quando não havia muito envolvimento de membros do PCC, uma vez que seriam crimes que atraem a atenção da polícia e atrapalham a venda de drogas. Com o tempo, constatou-se que poderia ser algo lucrativo pelo valor das transações, e a organização criminosa cooptou a quadrilha que atua nas proximidades da Bela Vista.
"O crime mais fácil para eles é pegar o celular aberto (destravado). A pessoa está lá vendo Google Maps no carro, quebram o vidro, pegam o celular e não deixam ele bloquear. A quadrilha aproveita muito o trânsito parado para atuar. Na Paulista, tem o pessoal falando no celular, aí passa o cara de bicicleta, tem cara que se especializa em quebrar vidro de carro", disse o delegado.
No caso de um suspeito de 22 anos que foi preso na última quarta-feira, suspeito de ser um dos responsáveis por fazer o desbloqueio dos celulares, teria sido encontrado com um aparelho roubado na região do Parque do Ibirapuera. Conforme o delegado, ele estava saindo de uma pensão, local utilizado pelos criminosos que desbloqueiam o celular e fazem as transferências. Honorato aponta ainda que os roubos dessa quadrilha específica são concentrados na região da Bela Vista, o que facilita a execução das transferências por Pix.
O delegado aponta que a técnica utilizada para desbloqueio de celular era "bastante rudimentar". "Ele tira o chip e coloca em um outro iPhone dele, que aí não tem senha. Em seguida, manda mensagem para a vítima, tentando enganá-la para clicar em alguma coisa para desbloquear o iCloud", explica. "Desbloqueando o iCloud, ele derruba todo o resto. Troca a senha do celular original, volta o chip e aí começa."
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