O aumento de 63% do número de assassinatos de indígenas no Brasil, em 2020, em relação ao ano anterior também chamou a atenção dos pesquisadores. Em 2020, os registros mostram que 182 indígenas foram mortos no país; em 2019, foram registrados 113 assassinatos, segundo levantamentos do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)
Entrando para essa triste estatística, está o caso de uma menina ianomâmi, de 12 anos, que morreu após ser estuprada por um grupo de garimpeiros numa comunidade na região de Waikás, uma das mais atingidas pela invasão de mineradores ilegais na Terra Indígena Yanomami, em Boa Vista (RO).
A informação foi divulgada na noite de segunda-feira (25) pelo presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, que também é uma das lideranças indígena.
Em um vídeo divulgado nas redes sociais, Hekurari afirma que, além da morte da menina, uma outra criança ianomâmi, de 3 anos, desapareceu após cair no rio Uraricoera. O crime aconteceu na comunidade Aracaçá. Ele planeja ir até a região ainda nesta terça-feira (26) para buscar o corpo da vítima e encaminhá-lo para autópsia no Instituto Médico Legal (IML), em Boa Vista.
"A adolescente estava sozinha na comunidade e os garimpeiros chegaram, atacaram e levaram ela para as barracas deles. A tia dela defendeu [a sobrinha]. Quando estava defendendo, os garimpeiros empurram ela em direção ao rio junto com a criança. Essa criança se soltou no meio do rio, acho que estava em um barco. Eles invadiram e levaram [a menina] para o barraco dos garimpeiros e a violentaram brutalmente, estupraram essa adolescente. Moradores de lá me disseram que ela morreu. Então, é muito triste, muito triste mesmo".
Hekurari disse ainda que há a suspeita que os garimpeiros estivessem armados. A comunidade Aracaçá está localizada no meio de acampamentos montados por garimpeiros na região. A violência sexual contra meninas e mulheres ianomâmi cometida por garimpeiros já havia sido denunciada semana passada pela Hutukara Associação Yanomami. Segundo Hekurari, a Polícia Federal (PF) e o Exército foram informados do crime ainda na noite de segunda (25).
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Na manhã de hoje, Hekurari, por meio do Condisi-YY, enviou um ofício relatando a situação para o Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), ambos de responsabilidade do Ministério da Saúde, além de Policia Federal e o Ministério Público Federal (MPF). No documento, a associação pede apuração do caso.
Em nota, o MPF informou que "busca junto às instituições competentes a apuração do caso e acredita que situações como essa são consequência cada vez mais frequente do garimpo ilegal em terras indígenas em Roraima. Como forma de evitar novas tragédias como as que vem ocorrendo, o MPF já acionou a Justiça e se reúne rotineiramente com instituições envolvidas na proteção do território indígena para que se concretizem medidas de combate sistêmico ao garimpo. Entre essas medidas, estão a retomada de operações de fiscalização, construção de bases de proteção etnoambiental e mudanças nos procedimentos adotados por órgãos fiscalizadores.
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