O anestesista Giovanni Quintella Bezerra, preso em flagrante na madrugada de segunda-feira (11) por estuprar uma mulher sedada durante uma cirurgia de parto, utilizava ao menos três estratégias para cometer o crime, segundo depoimentos de técnicos e enfermeiros à polícia obtidos pela reportagem.
Bezerra foi filmado pela equipe de enfermagem colocando o pênis na boca da paciente. O médico aplicava sedação excessiva nas vítimas durante o parto, pedia que os maridos se retirassem da sala antes que a cirurgia fosse finalizada e levantava uma espécie de cortina para dificultar que outros profissionais presentes no local vissem a cabeça da paciente.
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O anestesista está sendo investigado sob suspeita de ter estuprado seis mulheres, sendo três no domingo (10), no Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense.
Outras três procuraram a Delegacia de Atendimento à Mulher do município na segunda e na terça-feira (12) para narrar que também foram submetidas a forte sedação durante o parto. Uma delas afirmou, inclusive, que apareceu suja após a cirurgia, com uma "casquinha branca" na região do pescoço.
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Bezerra trabalhava havia cerca de dois meses no Hospital da Mulher. Há pelo menos um, a equipe de enfermagem começou a desconfiar do seu comportamento.
À polícia os profissionais disseram que a sedação aplicada pelo anestesista era incomum e que dificultava a amamentação. Uma das técnicas de enfermagem afirmou que as pacientes ficavam "completamente fora de si" e que nem sequer conseguiam segurar os recém-nascidos.
Ela disse também que as mulheres não ficavam assim quando eram cuidadas por outro anestesista e que, no plantão anterior ao de domingo, percebeu as mesmas atitudes de Bezerra.
Outra profissional afirmou à polícia que, no domingo, o anestesista utilizou propofol na segunda cirurgia. Na terceira, além do medicamento, usou também ketamina. Os frascos foram apreendidos para investigação.
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Uma funcionária disse que chegou a questionar o médico sobre a sedação e que ele respondeu: "Por quê? Você também quer?".
Um dos técnicos afirmou em depoimento que, no meio da cirurgia, o médico dizia que a paciente estava apresentando quadro de náuseas e fazia a aplicação de novas drogas, para apagá-la.
Os profissionais afirmam que, também no meio da cesárea, Bezerra pedia para que o acompanhante se retirasse. O mesmo foi narrado pelas famílias das pacientes que prestaram depoimento na delegacia. A legislação garante que a grávida tenha um acompanhante durante todo o procedimento.
Um dos técnicos disse que, depois que o acompanhante saía e a paciente estava completamente sedada, o anestesista fazia uma cortina impedindo que a equipe visse a parte superior da paciente. Ele se posicionava em pé, perto da cabeça da mulher.
Uma enfermeira afirmou que Bezerra utilizava dois campos cirúrgicos para cobrir a visão das pacientes, o que não é usual. Outro técnico disse que o anestesista falava que a sala estava fria e que, em seguida, usava um avental cirúrgico para fazer a barreira.
Essa estratégia pode ser observada na filmagem feita pelos enfermeiros. Uma espécie de cortina aparece levantada sobre a paciente, entre duas barras de ferro. De um lado, próximo à cabeça da grávida, fica Bezerra. Do outro, os demais profissionais.
É nesse momento que o anestesista abusa da paciente. Na gravação, ele coloca o pênis no seu rosto, enquanto segura a cabeça da mulher e olha seguidas vezes para os lados. Ao fim, utiliza uma gaze para limpar o rosto da paciente e o próprio pênis. O material também foi apreendido pela polícia.
Em entrevista a jornalistas nesta terça-feira (12), a delegada responsável pelas investigações, Barbara Lomba, afirmou que os médicos ouvidos disseram não ter percebido o comportamento criminoso de Bezerra.
Segundo ela, eles afirmaram que a sedação era incomum, mas não disseram que era irregular. Como o anestesista é responsável pela medicação e cada profissional estava concentrado na sua função, não teriam notado a atividade criminosa ou repreendido o colega.
Os técnicos e enfermeiros, porém, perceberam o comportamento atípico do anestesista. Na segunda cesárea do domingo, uma das profissionais viu que ele estava com o pênis ereto, segundo depoimento à polícia. Foi aí que decidiram filmá-lo na terceira cirurgia.
Uma das profissionais afirmou que, depois que assistiram à gravação, as técnicas ficaram desorientadas e "criou-se um clima de horror". Ela disse, ainda, que elas precisavam se controlar porque havia pacientes a serem atendidas em seguida, que não podiam perceber o ocorrido.
Nesta terça, o Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro) anunciou a suspensão provisória do registro médico de Bezerra. Segundo a entidade, a medida "é um recurso para proteger a população e garantir a boa prática médica".
O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), José Hiran Gallo, nomeou nesta quarta-feira um observador para acompanhar junto ao Cremerj as apurações envolvendo o caso do médico acusado de estupro numa sala de cirurgia.
Bezerra ficou em silêncio em depoimento à Delegacia de Atendimento à Mulher. A reportagem apurou que ele estava acompanhado de um advogado na audiência de custódia, na terça, mas sua defesa ainda não se apresentou publicamente.
No processo eletrônico do Tribunal de Justiça do RJ, Pedro Yunes Marones de Gusmão aparece como seu advogado. A reportagem tentou contato em seu escritório, mas não obteve retorno.
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