Milhares de moscovitas fizeram fila perto do Kremlin neste sábado (3) para prestar homenagem a Mikhail Gorbatchov, ex-líder soviético morto na terça (30) aos 91 anos. Muitos disseram que queriam honrar sua memória como "um pacificador" que desmantelou o totalitarismo e lhes deu sua liberdade.
Gorbatchov deve ser enterrado sem honras de Estado e sem a presença do presidente Vladimir Putin, que alegou conflito de agenda para faltar à cerimônia.
No entanto, Gorbatchov recebeu uma despedida pública, com as autoridades permitindo que os russos vissem seu caixão no imponente Salão das Colunas, à vista do Kremlin, onde líderes soviéticos anteriores foram velados.
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O caixão de madeira, coberto com uma bandeira russa, foi disposto no centro do salão, onde uma música melancólica do filme "A Lista de Schindler" tocava ao fundo. Russos de todas as idades deixavam flores em um pedestal ao pé do caixão, sob um retrato gigante em preto e branco de Gorbatchov na parede.
Gorbatchov era muito admirado no Ocidente por suas reformas políticas e econômicas na União Soviética, no final dos anos 1980, que abriram caminho para o fim do comunismo na Europa Oriental e também para a reunificação da Alemanha. O líder ainda costurou importantes acordos de desarmamento com os Estados Unidos.
Não foi surpresa, portanto, que Putin –para quem o colapso da União Soviética era uma "catástrofe geopolítica"–negasse um funeral oficial.
Os muitos chefes de Estado e de governo ocidentais que normalmente compareceriam estarão ausentes, afastados pelo abismo nas relações entre Moscou e o Ocidente aberto pela invasão da Ucrânia.
Uma exceção é o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, nacionalista conservador e um dos poucos líderes europeus a ter boas relações com Putin –ele estará no funeral, segundo seu porta-voz, Zoltan Kovacs.
Autoridades russas e figuras culturais, incluindo o legislador Konstantin Kosachyov e a cantora Alla Pugachyova, também prestaram homenagem à família de Gorbatchov, que estava sentada à esquerda de seu caixão, mantido aberto, conforme a tradição no país.
O funeral de Gorbatchov contrasta fortemente com o dia nacional de luto e o funeral de Estado na principal catedral de Moscou, concedido em 2007 ao ex-presidente russo Boris Iétsin.
Após a cerimônia, Gorbachtchov, no entanto, será enterrado como Iéltsin no cemitério Novo Devichy, em Moscou, ao lado de sua adorada mulher Raisa, que morreu há 23 anos.
O intérprete e assessor de longa data de Gorbatchov afirmou nesta semana que a invasão da Rússia na Ucrânia deixou o ex-líder "chocado e perplexo" nos últimos meses de sua vida.
"Não é apenas a operação que começou em 24 de fevereiro, mas toda a evolução das relações entre a Rússia e a Ucrânia nos últimos anos foi realmente um grande golpe para ele. Isso realmente o esmagou, emocional e psicologicamente", disse Pavel Palazhchenko, à agência Reuters.
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