Denúncias contra o empresário Saul Klein, de 68 anos, ganharam um novo capítulo, desta vez adolescentes mantidas reféns e ameaçadas por ele, revelaram estar sendo vigiadas e impedidas de se alimentar e de dormir, com pouca ou nenhuma comunicação com o mundo externo e cercadas por seguranças armados.
O esquema de aliciamento e violência sexual do qual o empresário é acusado desde dezembro de 2020, ganhou um capítulo mais sombrio agora, Klein é denunciado por tráfico e escravidão sexual pelo Ministério Público do Trabalho de Barueri (SP), que pede uma indenização de R$ 80 milhões.
A Universa teve acesso ao processo onde os procuradores reúnem depoimentos de mulheres que revelam camadas ainda desconhecidas do que acontecia nas festas do herdeiro, nos anos de 2006 e entre 2016 e 2019.
Todos esses relatos fazem parte do inquérito policial em andamento na Delegacia de Defesa da Mulher de Barueri, onde corre a investigação criminal. Mas, por se tratar de um caso sob segredo de Justiça, ainda não haviam sido revelados.
O herdeiro nega todas as acusações de crimes sexuais. Segundo sua defesa, ele não fazia nada diferente do que faz um "sugar daddy": um homem mais velho que tem o fetiche de sustentar mulheres mais jovens em troca de afeto ou sexo. Não houve, segundo ele, violência ou agressões.
Álan Richard de Carvalho advogado de Klein na esfera trabalhista foi procurado por Universa para comentar a ação e as acusações feitas pelo MPT. Por meio de nota, disse que, "até o presente momento, não recebeu qualquer tipo de notificação ou citação oficial sobre a referida ação civil pública, de modo que se mostra impossível apresentar quaisquer esclarecimentos sobre o tema".
Segundo reportagens publicadas por Universa, as jovens eram atraídas por promessas de emprego, mas acabavam confinadas por dias seguidos em uma mansão e em um sítio de Klein, onde eram submetidas a penetração anal e vaginal mesmo enquanto dormiam ou passavam mal, entre outras violências sexuais.
Segundo combinado, as jovens recebiam quantias de até R$ 3.000 por final de semana para estar ao lado do empresário. Sem trabalhar nem estudar, a maioria era de baixa renda e aceitava os acordos. Em entrevista no documentário "Saul Klein e o Império do Abuso", produzido por MOV.doc e Universa, citam nunca ter visto cifras tão altas na vida.
O relatório do MPT também revela, que grande parte desses pagamentos eram feitos com atraso, mais um indício de trabalho análogo à escravidão, pois a demora era estratégia usada para mantê-las reféns.
O relatório do órgão dizia que a remuneração pela presença nas festas de final de semana em Boituva (onde fica localizado o sítio de Klein) na maioria das vezes não era acertada imediatamente, "mas postergada para o outro final de semana, a fim de prender as vítimas no local". "Só não atrasavam o pagamento das 'novinhas', uma alusão às garotas recém-chegadas à casa.".
Mesmo "satisfeitas as demandas" de Klein, o valor ficava prometido para uma próxima ocasião, "como forma, na verdade, de manter as mulheres vinculadas ao esquema de exploração sexual, obrigando-as a retornar".
Caso as jovens reclamassem ou tentassem ir embora, diz o relatório, sofriam ameaças das cafetinas ou viam Saul Klein e seus seguranças ostentarem armas de fogo.
Em uma ocasião, uma das vítimas pediu para ir embora, Klein a levou até uma sala com várias armas e mostrou a presença dos seguranças armados, o que a inibiu de sair do local por medo.
Outras jovens citam a presença de armas com seguranças e nas casas. Uma delas afirma ter visto "armas grandes, pistolas, revólveres".
Uma menina em outro depoimento diz que Klein, no sítio, levou-a para ver a casa do caseiro e disse "que teria uma bomba, que iria explodir". "Era uma ameaça para a meninas no sítio." "Sem poder ir e vir, ficavam totalmente à mercê das vontades de Saul", sustenta o MPT.
A coação e chantagem financeira contribuiu para compor o quadro de "tráfico de pessoas para fins de trabalho escravo sexual" o fato de as mulheres ficarem completamente subjugadas, submetidas a restrições alimentares, de sono e de comunicação.
As vítimas contam que o empresário não podia vê-las comendo: precisavam se manter magras. Não tinham permissão para montar o prato como quisessem. Uma delas diz que "tinha de comer saladas e tomar suco"; outra afirma que chegou a ficar deitada com ele no quarto, acordada, por 24 horas, tomando apenas sopa.
Mais relatos da vítimas detalha que elas eram obrigadas a fazer academia e a ingerir bebidas alcoólicas nas festas, além de um medicamento que diminuía a capacidade de resistência às penetrações anais forçadas. Elas também eram obrigadas a tomar remédios para ressaca que eram colocados em pratos à mesa, as jovens recebiam ordens para ingeri-los.
Ao frequentar os locais com o herdeiro, as vítimas precisavam entregar seus telefones celulares aos seguranças, ficando completamente sem comunicação. Em um dos relatos, uma jovem diz que chegava a esconder o aparelho para tentar usá-lo sem que ninguém visse.
Uma botina de Klein ouvida pelo órgão afirmou que o empresário "pisava em cima de nossas costas", outra, que ele "batia na gente com um violão de madrugada para acordar e fazer as suas vontades".
Um dos relatos confessou ter visto Klein rasgando o umbigo de uma garota por não gostar do piercing que ela usava. "Houve uma briga entre uma menina e Saul, sendo que ele a segurou pelo braço e a colocaram num carro, mas ela não foi embora. Durante essa briga, a menina chorava muito. Saul estava muito nervoso e, ao ver o piercing no umbigo da vítima, ele puxou e rasgou seu umbigo."
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