Nesta terça-feira (18), a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados agendou a votação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visa permitir que adolescentes a partir de 14 anos possam trabalhar.
A proposta tem enfrentado resistência por parte da base governista, que enxerga como uma possível restrição de direitos e um incentivo apenas para os empresários. Por outro lado, a oposição argumenta que essa discussão se tornou uma questão ideológica que impede os jovens de buscar oportunidades para sair do ciclo de pobreza.
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Atualmente, a legislação brasileira permite o trabalho a partir dos 16 anos na modalidade de jovem-aprendiz, com carga horária limitada a seis horas diárias e sem exposição a trabalho noturno ou insalubre. A PEC em discussão propõe reduzir essa idade mínima para 14 anos.
A proposta, que está em tramitação na CCJ desde 2011, já recebeu vários pareceres favoráveis e contrários, além de votos separados. A retomada da discussão na comissão ocorre após outras votações controversas, como a aprovação da PEC que criminaliza o porte de qualquer quantidade de droga.
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O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), membro da CCJ, criticou a iniciativa e afirmou que os parlamentares contrários à proposta devem obstruir a sessão. Ele ressaltou que a proposta está engavetada há 13 anos e que quem a desengavetou tem interesse em restringir um direito importante.
Por outro lado, o relator da PEC, deputado Gilson Marques (Novo-SC), defendeu que a proposta não obriga os adolescentes a trabalhar, mas oferece a oportunidade para aqueles que desejam ingressar mais cedo no mercado de trabalho. Ele mencionou a evolução tecnológica como um facilitador para os jovens adquirirem experiência e recursos financeiros.
"Nós estamos dando, através do conhecimento, da evolução tecnológica, da evolução do próprio ser-humano, métodos e formas diferentes de se viver. Até por intermédio de tecnologia, a minha filha de 15 anos entende mais de rede social e marketing do que eu. É possível, portanto, o acesso a esse tipo de mercado com poucas horas, com pouca experiência, para que ela aprenda ainda mais e ainda tenha recurso financeiro para fazer as coisas dela ou de qualquer um que opte, se quiser, por esse tipo de trabalho", destaca.
Porém, o procurador do Ministério Público do Trabalho e vice-coordenador do Combate ao Trabalho Infantil, André Canuto, argumentou que a PEC representa um retrocesso nos direitos das crianças e adolescentes. Ele alertou para o risco de os jovens serem empurrados para o trabalho informal, de baixa remuneração e muitas vezes exposto a condições precárias.
"O adolescente, aos 14 anos, não tem a qualificação necessária para o ingresso de trabalho num posto de trabalho qualificado. Ele não tem capacidade de competir com profissional de formação técnica ou formação de nível superior. Na verdade, o que vai sobrar para o adolescente vai ser o trabalho informal, ou o trabalho precário, trabalho de mão-de-obra de baixo valor agregado, ou de baixa remuneração, e muitas vezes com exposição ao risco", reforça.
A proposta também contraria a Convenção 138 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário, que estabelece uma idade mínima para o trabalho aos 16 anos, visando fortalecer a proteção aos jovens.
A votação na CCJ pode ser marcada por pedidos de vista ou retirada de pauta, refletindo a complexidade e as divergências em torno do tema.
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