
A economia mundial está em alerta após as sanções tarifárias vindas dos Estados Unidos e se reorganiza para não aumentar inflações em preços de produtos importantes na exportação.
O tarifaço de 50% imposto pelo governo de Donald Trump sobre mais da metade das exportações brasileiras para os Estados Unidos deve provocar impactos imediatos e de médio prazo na economia nacional ainda este ano. Embora a medida possa gerar uma queda inicial nos preços internos, sobretudo de alimentos e bens sem mercado alternativo, especialistas alertam que o efeito será passageiro e pode se inverter já em 2026.
A sobretaxa atinge uma ampla gama de produtos, incluindo café, carnes, frutas, pescados, máquinas e equipamentos. Segundo André Braz, economista e coordenador do FGV Ibre, em entrevista a Veja, a redução nas exportações tende, num primeiro momento, a ampliar a oferta no mercado interno, favorecendo o recuo da inflação. “Mais produtos disponíveis no país podem gerar descontos para o consumidor, especialmente em itens com maior dificuldade de reposicionamento no comércio exterior, como frutas e pescados”, explica.
No entanto, a trégua nos preços não deve durar. Braz alerta que, com o tempo, a indústria deve reduzir a produção para se ajustar à nova realidade, o que limitará a oferta e interromperá o movimento de queda. Carnes e café, por exemplo, devem sentir menor impacto imediato, já que seus exportadores indicam buscar outros mercados para absorver a produção.
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Além de temporário, o alívio inflacionário pode vir acompanhado de um freio no crescimento. Pedro Ros, CEO da Referência Capital, observa que o tarifaço deve esfriar a atividade econômica. “Apesar de parecer contraditório, a medida pode sim gerar pressão desinflacionária ao comprimir a demanda, mas isso costuma vir junto com recessão, desemprego e queda no investimento. É um remédio amargo, com efeitos colaterais piores que a própria doença”, afirma.
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O desaquecimento econômico previsto pelos analistas ocorre porque empresas afetadas pelas sobretaxas tendem a desacelerar a produção diante da perda de competitividade e das dificuldades para escoar a produção. O resultado inclui menos contratações, adiamento de investimentos e, em casos extremos, cortes de postos de trabalho — o que reduz a renda e o consumo das famílias, prolongando a fraqueza econômica. “O risco é termos um 2025 com desinflação técnica, mas à custa de uma economia travada. Em 2026, a conta pode vir em forma de inflação mais alta e desemprego”, conclui Braz.
Impacto na economia mundial
O tarifaço de Donald Trump também é interpretado como um movimento político voltado ao público interno dos Estados Unidos, especialmente aos setores industriais e agrícolas que competem diretamente com exportadores brasileiros. Ao elevar o custo de importação, o governo norte-americano busca proteger produtores domésticos, reforçando a retórica nacionalista que marcou o primeiro mandato de Trump. Essa postura, no entanto, pode abrir espaço para tensões comerciais e retaliações no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Para o Brasil, a medida representa um desafio estratégico na diversificação de mercados. Especialistas destacam que, embora alguns setores consigam redirecionar parte da produção para a Ásia, Europa e países árabes, a perda do acesso facilitado ao mercado norte-americano — o segundo maior destino de exportações brasileiras — cria um vácuo difícil de preencher no curto prazo. Essa realocação de comércio exige investimentos logísticos e adaptação de padrões técnicos, o que pode atrasar os resultados.
Outro ponto crítico é o impacto regional. Estados como Mato Grosso, Minas Gerais, Pará e Santa Catarina, fortemente dependentes da venda de commodities e produtos agroindustriais para os EUA, tendem a sentir mais intensamente os efeitos da medida. A queda nas exportações pode repercutir diretamente na arrecadação estadual, comprometendo investimentos públicos e pressionando orçamentos locais.
Há ainda uma preocupação com o efeito em cadeia sobre fornecedores e prestadores de serviços ligados às exportações. Transportadoras, operadores portuários, empresas de embalagem e logística tendem a registrar queda na demanda, gerando um efeito multiplicador negativo na economia. Em alguns segmentos, a redução do volume exportado pode levar ao fechamento de pequenas e médias empresas, que possuem menor margem de resiliência frente a choques externos.
No cenário diplomático, a decisão de Trump pode provocar um realinhamento das prioridades da política externa brasileira. Autoridades já avaliam a necessidade de intensificar negociações com outros parceiros comerciais e fortalecer acordos bilaterais e multilaterais para compensar as perdas. Contudo, especialistas alertam que esse reposicionamento não é imediato e que 2025 deve ser um ano de transição turbulenta para o comércio exterior brasileiro.
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