Uma das principais festividades em importância para a economia paraense, o Círio de Nazaré deste ano compromete o faturamento dos empresários e preocupa o setor hoteleiro do Estado. Isso porque a festa católica não ocorrerá nos moldes tradicionais devido à pandemia, diminuindo a geração de emprego e renda no Estado, principalmente na capital. Por conta disso, o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado do Pará (SHRBS-PA) prevê fechamento de mais empreendimentos.
“A receita do Círio, de pequenas e médias empresas, dava fôlego para o pessoal pagar a folha do décimo. E com a renda das festas de final de ano, gerava receita para aguentar até março do ano seguinte. Agora, o setor vai sentir muito. Cerca de 12 empreendimentos estão sem operação na capital, como pensões, hostels e afins”, afirma Fernando Soares, assessor jurídico do SHRBS-PA.
De acordo com o Sindicato, desde o semestre passado o movimento no setor de hospedagem, principalmente em Belém, vem sendo acompanhado gerando preocupação tendo em vista que a pandemia impactou na queda de 100% no índice de reservas para o turismo de lazer e baixa de 75% na ocupação de leitos para o turismo de negócios (carro-chefe da hospedagem na capital).
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“Sem o Círio é um problema grave. Além das dificuldades eventuais, outras empresas virem a fechar é real, assim como o risco de grande desemprego. A alimentação fora do lar, por exemplo, também ganhavam muito dinheiro nesse período em relação aos outros meses. Era um faturamento extremamente alto que não vai acontecer”, avalia Soares.
CANCELAMENTOS
No ano passado, a primeira quinzena de agosto, o índice de confirmação de reservas nos meios de hospedagens na capital já estava em 41% do total de leitos disponíveis para a época da festa católica, percentual menor que em 2018, quando o período registrava 60% das reservas. Para este ano, em maio, cerca de 8% dos leitos disponíveis nos meios de hospedagem associados ao Sindicato estavam reservados para o 2º domingo de outubro. No entanto, os cancelamentos começaram.
Para esta situação, o Sindicato orienta os empresários que negociem com os clientes com reservas pagas para o prazo de um ano para que a hospedagem seja utilizada, já que a maioria das empresas não possui reserva para ressarcimento. Caso o cenário não permita a utilização da reserva nesse período, os empresários devolverão os valores pagos.
Ainda segundo o assessor jurídico do SHRBS-PA, o setor de hospedagem que gera 398 mil empregos diretos em todo o país, já teve 95 mil empreendimentos fechados. “Essa questão da pandemia abala todo o segmento. É uma cadeia que vai desde o vendedor de chiclete até o grande empresário”, ressalta Fernando. No Pará, o Sindicato representa cerca de 3 mil associados e já estima que 1/4 das empresas fechadas estão ligadas ao setor de hospedagem e alimentação fora do lar. “E mesmo que já tivesse vacina, o mercado demora cerca de um ano para se recuperar. Não temos como prever”, comenta Soares.
Vendas de objetos de cera devem continuar em alta
Casas, barcos e partes do corpo humano, em especial o pulmão, são alguns dos principais objetos de cera que prometem ser os mais vendidos para quem pretende pagar promessa no período do Círio 2020, em plena pandemia da Covid-19. Nem mesmo o anúncio do cancelamento das romarias, na última quinta-feira (6), promete diminuir a procura pelas peças, tradicional nas festividades religiosas no mês de outubro.
Nas fábricas de velas, localizadas no bairro da Cidade Velha, em Belém, a expectativa é de boas vendas. Na Casa Círio, localizado na rua Dr. Malcher, o mês de agosto é o último de produção das peças de cera visando a festividade em homenagem à Nossa Senhora de Nazaré e seus promesseiros. Pedro Manoel é o proprietário do lugar e afirma que a produção não diminuiu. Este ano a estimativa é de até 120 mil peças de cera produzidos. “Eu não espero uma retenção de venda. A promessa não está muito agregada às procissões porque normalmente elas têm a opção de pagar uma semana antes, levar na Basílica que também monta postos na praça para receber essas promessas. Eu entendo que Nossa Senhora vai olhar para o lado de pagar a promessa e não terá muito impacto econômico”, diz.
Ele também afirma que a produção começou cedo. Meses antes da procissão e hoje encontra-se na fase final de produção para o período do Círio. A partir do mês de setembro, todo objeto produzido em gesso será de olho na data do dia de finados, no mês de novembro. “Claro que tivemos um período de quarentena até para proteger os funcionários, mas voltamos com segurança. Esse é nosso último mês de produção para o Círio”, observa. Entre as peças mais vendidas, o pulmão tem sido um dos que têm se destacado na procura entre os fiéis. “Geralmente a campeã de peça produzida é cabeça e casa, só que esse ano teve essa pandemia, o problema com esse coronavírus, e decidimos focar na produção do pulmão que é o órgão mais afetado por quem teve a doença”, completa.
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Em funcionamento a mais de 80 anos, a fábrica São João, localizada na rua Dr. Assis, também tem recebido demanda já para o período do Círio. Mas com as restrições impostas pela pandemia, a responsável pelo estabelecimento, Ana Brahuma, disse contar com a tecnologia para fazer a venda das peças de cera. Apostando inclusive na modalidade delivery, que está sendo estruturado para entregar em todo o Pará e outros estados do Brasil para quem não tiver condições de vir a Belém. “Além de vendermos na loja, a gente está criando ao promesseiro um catálogo para escolher nas redes sociais, entrando em contato conosco pelo WhatsApp e vamos produzir e identificar a promessa referente a pessoa e faremos a entrega. Uma forma de mostrar que estamos comprometidos com o trabalho”, destaca.
A produção na fábrica São João promete começar nesta segunda-feira (10). “Houve tempo em que o telefone era o mais pedido, quando era difícil conseguir uma linha telefônica. Já houve o tempo da casa e hoje as peças são voltadas a órgãos do corpo humano”, finaliza.
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