As luzes do Arraial de Nazaré são o que mais fazem falta no outubro da fonoaudióloga Ane Nobre, 40 anos. Moradora do bairro de Nazaré há um ano e três meses, ela lembra com saudade o ano passado, quando chegava em sua casa e podia apreciar o espetáculo de cores. “Tive somente uma experiência com o Círio nesta casa, pois mudamos há pouco tempo. Chegávamos da rua e nos sentávamos na sacada para olhar o movimento. Era tudo muito lindo”.

Não apenas as cores e a luzes não estão ali hoje, como também as vozes e a animação do Arraial. Embora Ane ressalte que, para muitos vizinhos, o barulho incomodasse, este ano, tudo faz falta. “Tudo é diferente para todo mundo. Alguns vizinhos reclamavam do barulho, pois são pessoas mais idosas, e que moram em andares do edifício mais próximo dos brinquedos, como a montanha russa, por exemplo”.

Mas, nem sempre, a ideia de ir morar próximo à Basílica, foi algo bem visto por ela. Casada há vinte anos, Ane conta que já mudou de casa várias vezes com a família e que, na época da mudança para o atual apartamento, não queria ir. Porém, um momento simbólico e de fé, a fez mudar de ideia completamente.

Ane sente falta da movimentação do arraial da janela de casa, que permanece apenas com estacionamento no local
📷 Ane sente falta da movimentação do arraial da janela de casa, que permanece apenas com estacionamento no local |Irene Almeida

“Gostava muito de onde morava antigamente, e no período das obras desse apartamento, tiramos um dia para vir em um horário totalmente fora da nossa rotina. Eram quase 18h e eu não estava muito contente para a mudança. Mas, quando cheguei aqui os sinos começaram a tocar e, em seguida, o hino da igreja. Naquele dia mudei de ideia e queria vir embora e acordar aqui com esse ‘barulho’. Eu precisava vir naquela tarde e, agora, não largo mais a minha vizinha”, diz ela, se referindo à Nossa Senhora.

A atmosfera, neste período, é incomum para todos os paraenses, acredita Ane. Mas, ainda assim, ela ressalta a importância de se manter viva a fé em um período tão difícil. “O Círio é algo mágico. Cada um pode ter seu momento com a Mãezinha e viver essa data especial”.

SILÊNCIO

Com a suspensão do Arraial, no local, permanece funcionando o estacionamento, silencioso e sem muita movimentação. Quem passa pelas manhãs nestes dias, sente o impacto em ver um espaço amplo, sem as cores do Círio. Natural de Macapá, Bernadete Cardoso, 56 anos, diz que, sempre que possível, vem participar da Festa, e este ano enxerga que será atípico sem a parte festiva. “Será o Círio da fé mesmo, e os fiéis vão participar de uma forma distante, longe do outro e da alegria que é esta Festa. Costumava vir para o Arraial e participar de outras celebrações, mas agora, fica somente o vazio”, lamenta ao lado da filha, a universitária Thais Cardoso, 21 anos.

Cancelamento do Arraial de Nazaré por causa da pandemia muda rotina do bairro de Nazaré
📷 |

Quem também sente os impactos desta ausência é a vendedora de artigos religiosos Madalena Cordeiro, 45 anos. Ela conta que, em anos anteriores, já sentia o clima diferente, a movimentação era intensa e Belém já tinha o cheiro do Círio. “Trabalho aqui há 38 anos e está sendo bem difícil este ano. Não sabemos como será o domingo. Só pedimos ajuda a Nossa Senhora, pois, antes, esse Arraial era um estímulo para as nossas vendas. Hoje, não percebemos nada disso. Sentimos falta do clima da Festa”.

📷 |
Onde estão as luzes, cores e o barulho que encantavam aqui? Foto: Irene Almeida

MAIS ACESSADAS