Tatiana Neves, 40, está novamente grávida, de gêmeos., depois de 19 anos do primeiro filho. (Foto: Marco Santos/Diário do Pará)
No início desse ano, o Ministério da Saúde divulgou uma pesquisa mostrando que o número de mulheres que foram mães após os 40 anos de idade subiu quase 50% em 20 anos, passando de 51.603, em 1995, para 77.138, em 2015. Mais ou menos na mesma época, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já tinha apontado um aumento de 17% nesse cenário. Sendo ou não a primeira gravidez, o que se descobre, falando de perto com essas mamães, é que a ideia de que ter um filho aos 40 é uma gestação tardia fica cada vez mais para trás.
Mãe de um jovem de 19 anos, a revisora de textos Tatiana Neves, 40, entendeu que estavam encerradas as suas possibilidades de ter outro filho depois de sofrer dois abortos, entre 2015 e 2016. Mas o marido dela, que nunca foi pai, ainda alimentava alguma esperança. Sem qualquer tratamento para engravidar, mas também sem qualquer preocupação em usar métodos anticoncepcionais, eles se descobriram “grávidos” há exatos dois meses. E não de um, mas de dois bebês.
“Foi uma surpresa para nós. Fiz o exame de farmácia e não acreditei no resultado. Fiz o de laboratório e a dosagem de HCG – hormônio da gravidez – no sangue deu muito alta. Me preocupei e marquei uma ultrassonografia, já achando que algo estivesse errado. Aí a médica disse que estava tudo bem e que eu não só estava grávida, mas que eram duas placentas diferentes”, relata.
Como o tempo de gravidez ainda é bastante pequeno, Tatiana e o marido estão ainda absorvendo tudo o que está acontecendo. No momento, a maior preocupação é com a saúde dos bebês. “Depois de dois abortos a gente fica com muito receio. Estou fazendo acompanhamento da evolução da gestação com uma médica e está tudo bem. Mas até passar do terceiro mês, não tem como nãoficar tensa”, justifica.
EXPERIÊNCIA
Tatiana fala das diferenças físicas entre a primeira gestação, aos 21, e essa de agora. “É diferente, sim, eu não senti nada antes. A idade tem a ver, mas o que tenho ouvido durante o meu acompanhamento é que, de qualquer forma, uma gravidez sempre é diferente da outra”, confirma. Os enjoos, os vômitos e outros ônus que não apareceram na primeira estão marcando presença na segunda - bem comoa enorme ansiedade.
O filho mais velho, Douglas das Neves, 19 anos, foi outro que vibrou com a gravidez inesperada da mãe. “Ele pediu por um irmão a vida inteira. Está super atencioso comigo”,revela Tatiana.
ANOS APÓS PERDER O BEBÊ, UMA GESTAÇÃO TRANQUILA
Raphael e Rosângela Aguiar fazem aniversário no mesmo dia. (Foto: Wagner Santana/Diário do Pará)
De casamento marcado e sete anos após perder o fruto de sua única gravidez no sexto mês de gestação, a jornalista e fotógrafa Rosângela Aguiar (foto), 49, precisou de vários exames para acreditar que estava grávida. Ela estava com 39 anos na época e conta que nem se lembra por que resolveu fazer o teste. “Eu fazia tabelinha, tinha um período super certinho. Eu olhava lá os tracinhos do teste de farmácia e dizia ‘eu não estou grávida, está errado!’”, lembra.
Só que ela estava, sim, e de dois meses! Raphael, hoje com 9 anos, veio de uma gravidez tão tranquila e tão certa para acontecer que nasceu no mesmo dia em que Rosângela fez seu aniversário de 40 anos. “Quando perguntam quem é o aniversariante? Eu aponto para ele, nem comemoro mais o meu aniversário. Foi o presente que ganhei, uma estrelinha, um filho maravilhoso”, baba.
HISTÓRICO FAMILIAR
As irmãs de Rosângela, que são mais velhas, também tiveram filhos depois dos 40. “Elas dão a maior força para eu ser mãe de novo!”, afirma. “Eu acho que a gente evolui. Não existe isso de idade para ser mãe. Antes a expectativa de vida era curta, hoje tudo tende para a longevidade”, analisa.
MATURIDADE TRAZ GESTAÇÃO MAIS TRANQUILA E EQUILÍBRIO
Para a psicóloga Flávia Vieira Tavares (foto), as vantagens de ter um filho a partir dos 40 anos são, primeiramente, a possibilidade de planejar a gravidez, além de poder proporcionar uma vida confortável no âmbito financeiro àquela criança.
Flávia Tavares acredita que a gravidez após os 40 pode ser melhor planejada. (Foto: divulgação)
Já no ponto de vista emocional, a especialista diz que, nessa fase, a mulher tende a estar mais amadurecida e com uma relação conjugal mais equilibrada. “Diferente do que acontece, geralmente, na maternidade aos 20 anos”, pondera. Flávia ressalta que toda a bagagem que uma mãe de 40 carrega, favorece o desenvolvimento emocional do bebê e torna a mulher mais disponível a viver os desafios da maternidade, permitindo que ela aproveite cada estágio do crescimento do seu filho.
Contudo, o acompanhamento psicológico é imprescindível durante os nove meses de gestação. “O pré-natal psicológico é uma prática complementar ao pré-natal tradicional, voltado para maior humanização da gestação, contribuindo para um enfrentamento emocional mais adequado, bem como prevenir situações adversas no pós-parto”, pontua a psicóloga.
UM FILHO DE 24 ANOS, OUTRO DE 16 ANOS E...UM NENÊ!
Mãe de um filho de 24 anos e outro de 16, a chef de cozinha Michelly Murchio (foto), 43, se diz imensamente feliz no aguardo do terceiro filho, que está na barriga há quatro meses. Ela e o marido também não fizeram planejamento ou tratamento para engravidar. “A gente desejou muito, mas não planejei, em razão de já ter dois filhos crescidos”, explica.
Se nas gestações anteriores pairavam as dúvidas e outros questionamentos, o momento agora é de serenidade. “Me sinto mais madura e tranquila para gestar, criar e fazer minhas próprias escolhas. É comum, quando se é jovem, a avalanche de opiniões que nos deixam temerosas e acabamos tomando decisões guiadas pela insegurança e medo”, analisa.
Michelly Murchio, 43 anos, espera o terceiro filho, 24 anos após a primeira gravidez. (Foto: Ricardo Amanajás/Diário do Pará)
Para Michelly, a maturidade permite uma blindagem em relação às opiniões invasivas e curtir a gravidez com mais calma, com experiência e tranquilidade. Os irmãos mais velhos do bebê que vêm aí ficaram muito surpresos com a novidade, mas igualmentefelizes pela mãe.
Os cuidados com a saúde e com a alimentação estão até menos rigorosos do que nas gestações anteriores, já que a chef é adepta de hábitos saudáveis. “O foco é na atividade física e na alimentação, evitando certos alimentos que possam estar contaminados, mal higienizados, açúcar e produtos de higiene e cosméticos que contenhamquímicos”, enumera.
A saúde mental também é uma preocupação. “Essa é a fase em que se sente menos disposição, muito cansaço, tontura e enjoo. Pretendo conciliar o trabalho até onde achar que devo, respeitando meu próprio corpo e as necessidades do bebê, como fiz nas outras gestações, priorizando o bem-estar do meu filho e a qualidade de vida”, diz.
FALA, MÉDICO!
Embora a realidade, engravidar após os 35 anos pode significar gestação de alto risco, conforme destaca o ginecologista obstetra Nelson Santos. Segundo o especialista, o ideal é que a mulher engravide até os 35.
P Quais os principais riscos de uma gravidez aos 40 anos?
R Há aumento no índice de abortos espontâneos; aumenta o risco de hemorragias; aumenta o risco de surgimento de doenças hipertensivas; aumenta o risco de partos prematuros.
P Que tipo de cuidados a mulher deve tomar?
R A grávida aos 40 anos precisa fazer um acompanhamento pré-natal regular, com o obstetra, e se submeter a exames.
P Que conselho daria para quem quer engravidar a partir dos 40 anos?
R Procurar uma clínica de reprodução para congelar os óvulos antes dos 35 anos, que terão melhor qualidade no momento em que decidir engravidar. Também deve procurar um obstetra para iniciar a preparação para uma possível gravidez, fazendo o uso do ácido fólico, por exemplo.
P Os riscos podem ser atenuados?
R A medicina evoluiu e, através de exames especializados durante o pré-natal, podem ser feitos diagnósticos precoces indicando más formações no feto e, também, rastreiam a tendência de problemas futuros na grávida.
(Carol Menezes e Pryscila Soares/Diário do Pará)
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