
Entre rios, igarapés e a vasta vegetação amazônica, a Ilha do Combu — localizada na área insular de Belém — dá um passo importante rumo à sustentabilidade hídrica. Um projeto inédito de captação e tratamento da água da chuva começa a mudar o cotidiano das comunidades tradicionais da ilha, garantindo acesso à água potável e fortalecendo a autonomia de empreendimentos locais.
A iniciativa, batizada de “Água para Todos”, está implantando 10 sistemas completos de aproveitamento de águas pluviais, sendo cinco voltados para equipamentos públicos — como escolas e uma unidade de saúde — e os demais destinados a coletivos comunitários. A proposta é simples, mas poderosa: captar a água da chuva, tratá-la com tecnologia apropriada e distribuí-la de forma segura para o consumo humano. Tudo isso com operação local e energia sustentável.
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Atualmente, os trabalhos estão em fase avançada, com estruturas já montadas e a instalação das torres de captação em andamento. O projeto também contempla a instalação de filtros em iniciativas como a Associação de Mulheres Extrativistas do Combu (AME) e a Ygara Artesanal, que atuam com turismo de base comunitária e produção artesanal a partir da biodiversidade amazônica.
Para Iracema Nascimento, representante da Ygara e vice-presidente da AME, a chegada do sistema é um marco para a comunidade: “Era um sonho antigo ter acesso a água de qualidade aqui. Agora estamos vendo isso se concretizar. Vai melhorar muito a nossa vida e o nosso trabalho”, celebrou ela.
Além do alívio imediato trazido pelo acesso à água potável, o projeto impulsiona atividades da sociobiodiversidade, como o beneficiamento de açaí e andiroba, gerando renda e valorizando saberes ancestrais. Empreendedoras como Dona Nena, da marca “Filha do Combu”, destacam que a qualidade da água será essencial também para garantir higiene nos serviços de alimentação oferecidos aos turistas.
A tecnologia implantada foi desenvolvida por uma universidade pública e segue o princípio de inovação com inclusão. O sistema é fechado, de fácil manutenção, alimentado por energia limpa e pensado para ser gerido pela própria comunidade, o que promove independência e sustentabilidade a longo prazo.
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A segurança na qualidade da água será monitorada mensalmente pelo Laboratório de Análises Minerais da CPRM (LAMIN), ligado ao Ministério de Minas e Energia. A cooperação técnica foi firmada durante uma visita técnica à ilha e garantirá transparência no fornecimento hídrico às famílias.
“Vamos produzir laudos mensais para que todos saibam exatamente a qualidade da água que estão consumindo. Essa transparência é fundamental”, explicou Homero de Melo Júnior, da CPRM.
O projeto, que integra o programa estadual “Regulariza Pará”, conta com apoio da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), da Prefeitura de Belém, da Universidade Federal do Pará (UFPA), da empresa Pluvi Soluções Ambientais Inteligentes — responsável pela tecnologia —, da New Fortress (apoio financeiro) e do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio), gestor da Unidade de Conservação que abriga a ilha.
De acordo com o secretário-adjunto de Gestão e Regularidade Ambiental da Semas, Rodolpho Zahluth Bastos, a iniciativa atende diretamente a uma demanda socioambiental identificada nas primeiras visitas à ilha: a dificuldade das famílias para acessar água limpa. “A proposta é enfrentar essa vulnerabilidade com soluções baseadas na natureza, integrando o conhecimento local e práticas sustentáveis”, destaca.
A ação está em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, especialmente o ODS 6, que trata do acesso universal à água potável. Com uma abordagem centrada na justiça hídrica, no respeito ao modo de vida ribeirinho e na redução das desigualdades, o projeto fortalece políticas de base climática e cria modelos replicáveis para outras regiões da Amazônia.
Com previsão de conclusão até outubro deste ano, a expectativa é que o sistema traga mudanças duradouras não apenas na saúde pública, mas também na educação do campo, no fortalecimento de empreendimentos locais e na valorização dos saberes tradicionais — elementos que compõem a verdadeira força transformadora da água na vida das comunidades da Ilha do Combu.

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