Paciente que passou por terapia inovadora anticâncer na USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto, o aposentado mineiro Vamberto Luiz de Castro, 62, morreu em Belo Horizonte no último dia 11. A causa da morte é desconhecida, mas policiais ouvidos pela Folha de S.Paulo relataram um acidente doméstico com suspeita de traumatismo craniano como possível causa.
Apesar disso, é preciso aguardar laudo necroscópico para a conclusão. A reportagem não conseguiu contatar os familiares de Castro nesta quinta-feira (19).
"A Polícia Civil informa que somente após o laudo do exame de necropsia será possível saber se há ou não indícios de violência na morte de Vamberto Luiz de Castro. O corpo dele deu entrada no IML em 11 de dezembro, foi examinado e liberado. O laudo fica pronto em 30 dias", diz comunicado emitido pela polícia mineira.
O corpo do aposentado deu entrada no IML (Instituto Médico Legal) da capital mineira no último dia 11 e, após ter sido examinado, foi liberado para o enterro, de acordo com a Polícia Civil.
Castro participou do primeiro teste brasileiro de uma terapia anticâncer inovadora, que modifica o DNA das células do próprio paciente para enfrentar a doença.
A abordagem, conhecida pela sigla inglesa CAR-T, foi usada em setembro em Castro, diagnosticado com linfoma não Hodgkin de células B. Essa forma de câncer do sangue já o tinha levado a se submeter a quatro rodadas de tratamento nos últimos dois anos, incluindo quimioterapia, radioterapia e imunoterapia, sem sucesso. Não havia mais perspectivas para o doente, considerado terminal e sofrendo com fortes dores e perda de peso.
O corpo foi enterrado no cemitério Parque Renascer, em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, às 15h da última quinta-feira (12). A missa de sétimo dia foi celebrada nesta terça-feira (17).
O TRATAMENTO
O filho do aposentado procurou o médico Renato Guerino Cunha, pesquisador do CTC (Centro de Terapia Celular da USP e do Hemocentro de Ribeirão Preto), após saber que o médico tinha ganhado um prêmio da Associação Americana de Hematologia para desenvolver a CAR-T.
Castro se encaixava no chamado uso compassivo, aprovado quando não há outras abordagens que possam ajudar o paciente.
A sigla CAR-T corresponde à expressão "receptores quiméricos de antígenos de células T", terapia na qual pesquisadores levam em conta a assinatura molecular de cada tipo de câncer, de forma a desenhar uma arma específica contra ele.
Algumas células T são retiradas da corrente sanguínea do paciente e modificadas geneticamente para que carreguem os tais receptores quiméricos -que não apareceriam todos juntos em células T normais.
Os receptores funcionam como fechaduras que podem se encaixar de modo exato em moléculas presentes apenas na superfície das células cancerosas (os antígenos). Assim, as células T se tornam capazes de atacar o câncer de modo específico e eficiente.
Após essas alterações no DNA, as células T são multiplicadas e reinseridas no organismo do paciente. É a parte mais delicada do processo.
A avaliação dos médicos é que os resultados em Castro impressionaram. Todos os sintomas que marcam a doença, da abundante sudorese noturna à dor forte, sumiram, e os exames de sangue do paciente estavam normais e ele começou a ganhar peso.
Quando o aposentado foi liberado para regressar a Belo Horizonte, em outubro, outros quatro pacientes já estavam na fila para receber o tratamento.
A reportagem procurou a assessoria do HC de Ribeirão Preto, mas ainda não obteve resposta.
(Folhapress)
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