Depois de quatro dias, o protesto da polícia da província de Buenos Aires se dissipou na tarde desta quinta-feira (10), com o anúncio do governador Axel Kicillof de que haveria um aumento de salário e compras de equipamentos -atendendo assim a parte das reivindicações.
Na quarta-feira (9), os policiais chegaram a rodear, armados, a residência oficial de Olivos, onde vive o presidente Alberto Fernández. Também realizaram atos em outros pontos da região metropolitana de Buenos Aires.
A decisão do governo nacional, porém, de autorizar Kicillof a oferecer esse aumento, ocorre com uma contrapartida: a de que a verba usada para o benefício fosse transferida da cidade de Buenos Aires (que tem status de província) à província. Trata-se de 1% dos repasses nacionais à capital federal, que agora irão à província.
No início da noite desta quinta, o chefe do Executivo da cidade, Horacio Rodríguez Larreta, anunciou que levará o caso à Justiça, porque defende que a transferência dos recursos é inconstitucional.
O caso reativou as fricções entre peronistas (governo nacional e da província) e macristas (governo municipal), que voltaram a trocar críticas por meio de parlamentares e comunicados nas redes sociais.
Em seu anúncio, na manhã de quinta, Kicillof disse que nenhum oficial que participou dos atos seria punido e pediu que as forças voltassem às ruas para não deixar a população desprotegida.
Logo após suas declarações, grupos de policiais organizaram assembleias em vários pontos da cidade, uma vez que não possuem uma liderança única e, por lei, não podem se sindicalizar.
Um dos porta-vozes dos grupos, Carlos Agustín Fernández, afirmou que as tropas voltariam ao trabalho, mas que as outras reivindicações deveriam ser ouvidas.
Entre elas, está a equiparação dos salários dos oficiais da província com relação aos da capital, e também que tenham direito ao mesmo plano de saúde.
Até a reivindicação, o salário dos policiais era de 37 mil pesos (R$ 2.633). Kicillof anunciou que, num primeiro momento, parte da tropa passaria a receber 44 mil pesos (R$ 3.131) e logo haveria um cronograma para que todos tivessem o salário reajustado. Porém, não foram estabelecidos prazos, e a categoria espera maiores detalhes.
Também foi anunciada a contratação de novos oficiais, a abertura de hospitais que atenderão exclusivamente os agentes e a melhoria da manutenção de armas e uniformes.
Um dos locais que ainda tem manifestações é Adrogué, onde grupos de policiais permaneciam reunidos até a noite, tocando bumbos e bloqueando ruas. Ali, havia também um rodízio de oficiais que subiam em um carro para discursar usando um alto-falante.
Em La Matanza, foco principal dos protestos, a situação havia se tranquilizado no começo da noite.
Outra demanda dos policiais é a renúncia do ministro de segurança, Sergio Berni, a quem eles acusam de utilizar a força pública para propaganda pessoal e de se opor ao reajuste de salários.
Kicillof não fez mencionou a possibilidade de Berni deixar o cargo. Tanto Kicillof quanto o ministro são protegidos políticos da vice-presidente Cristina Kirchner.
Por fim, os policiais pedem que o aumento seja maior para compensar as horas extras que estão fazendo para garantir o cumprimento das medidas de quarentena, o que os impede de fazer "bicos" em empresas de segurança –prática que lhes permitia complementar a renda.
O pedido de Rodríguez Larreta para que a transferência de verbas da cidade para a província de Buenos Aires seja revista será apresentado à Corte Suprema, afirmou ele em pronunciamento na noite desta quinta. Larreta diz ter sido avisado por Fernández da retirada da verba por meio de mensagem de WhatsApp.
"Vamos à Corte em defesa de nosso direito de preservar os recursos da cidade", afirmou.
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