Não houve indústria que não foi afetada pela pandemia, mas uma das que menos sofreu foi a espacial. Em 2021, enquanto o mundo vai se recuperando da crise sanitária, veremos uma transformação nas perspectivas desse tipo de turismo. E até Tom Cruise vai dar uma voltinha pelo espaço.
Comecemos, porém, com o que é mais acessível. A um custo de pelo menos US$ 250 mil (cerca de R$ 1,3 mi) por assento, 2021 deve ser o ano dos primeiros voos suborbitais com passageiros.
Nessa modalidade de turismo espacial, o viajante vai até a "divisa" entre a atmosfera e o espaço (80 km a 100 km de altitude) e pode ver a Terra lá de cima, experimentando alguns minutos da sensação de ausência de peso, antes de descer de volta à superfície.
Não chega a ser um voo até a ISS (Estação Espacial Internacional), que envolve cerca de dez dias em órbita (com velocidade e altitude maiores), mas sai mais barato que os ao menos US$ 20 milhões (R$ 103 mi) desembolsados por quem pagou aos russos para ir para lá numa nave Soyuz.
As duas principais empresas de turismo espacial suborbital devem ter resultados importantes em 2021. A mais tradicional delas, Virgin Galactic, concluiu seus testes na Califórnia e se mudou para o Novo México, de onde pretende lançar seus voos comerciais.
Neste mês, a Virgin realizou um voo-teste de sua nave VSS Unity na casa nova, mas a escalada ao espaço foi interrompida por uma falha de comunicação. É certo, contudo, que eles devem tentar de novo no começo de 2021 e que há chances de começar a voar com passageiros no ano que vem.
Já há fila para embarque (mais de 640 pessoas compraram a reserva), e até mesmo a Nasa decidiu contratar um voo de "astronauta-cientista", enviando o pesquisador Alan Stern para realizar um experimento de curta duração em microgravidade. Mas a verdade é que o projeto está atrasado, após um acidente em 2014 que matou o copiloto Michael Alsbury e feriu seriamente o piloto Peter Siebold durante um voo de teste. Um longo processo de revisão e aperfeiçoamento dos sistemas se seguiu, e agora a Virgin parece na trilha para iniciar operação comercial.
Em contraste com ela, a rival Blue Origin, também nos EUA, decidiu não vender reservas antes de ter o sistema pronto para voo. Entre 2015 e 2020, a companhia de Jeff Bezos testou 13 vezes seu veículo suborbital New Shepard, com 12 sucessos (e uma falha parcial, que no entanto não ameaçaria a vida de passageiros, em 2015). Mas todos esses voos foram não tripulados.
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A empresa ainda está por fazer um voo com gente dentro, o que espera que ocorra em 2021, abrindo o caminho para operações comerciais.
Tom Cruise e diretor filmarão fora da Terra na nave Crew Dragon Embora o custo seja muito mais alto, o mercado de turismo espacial orbital também deve ganhar grande impulso a partir do ano que vem. Isso porque a SpaceX qualificou sua cápsula Crew Dragon para voos tripulados em 2020, realizando duas missões com astronautas da Nasa.
As viagens à ISS para a agência espacial americana devem continuar, mas a empresa também pretende comercializar voos e assentos a terceiros. Por sinal, a empresa Axiom já contratou uma missão para 2021 e está em estágio final de acertar outros três voos, para 2022 e 2023.
Em outubro, devem subir à órbita na AX-1 (como está sendo designada a missão) o astronauta Michael López-Alegría (como comandante contratado pela Axiom), o empresário israelense Eytan Stibbe, o ator Tom Cruise e o diretor Doug Liman –esses dois últimos trabalharão juntos em um projeto cinematográfico com filmagens no espaço.
Os valores por assento não foram divulgados, mas certamente permanecem na casa de dezenas de milhões de dólares. A esperança, contudo, é que o preço caia, conforme as viagens se tornem mais comuns e a concorrência entre empresas aeroespaciais aumente. Isso não é para 2021, mas vai acontecer.
E, olhando para o horizonte, vale a pena seguir de olho no projeto Starship, da SpaceX. A empresa de Elon Musk espera com ele não só construir uma nave capaz de promover a colonização de Marte como também promover viagens espaciais ponto a ponto na Terra. Imagine ir de São Paulo a Tóquio em 45 minutos com uma passada pelo espaço?
Essa é uma das ideias que o Starship pode tornar realidade, se realmente tiver sucesso. E, segundo Musk, ao preço de uma passagem aérea convencional. Fantasia? Pode até ser. Mas o pouso vertical de primeiro estágios de foguete também era, até a SpaceX torná-los corriqueiros, em questão de poucos anos.
Para a imensa maioria dos humanos, contudo, o voo espacial continuará a ser, ao menos em 2021, algo caro e perigoso demais. Mas isso não deve impedir ninguém de se envolver com o espaço e a exploração espacial. Teremos alguns eventos muito interessantes, como dois pousos em Marte (um rover americano tentará a façanha em fevereiro, e outro, chinês, em abril-maio) e o lançamento do Telescópio Espacial James Webb, em outubro, que vai produzir imagens das mais distantes profundezas do Universo.
E, se você quer uma desculpa astronômica para passear pelo nosso planeta, em 10 de junho haverá um eclipse solar anelar (em que a Lua cobre praticamente todo o Sol, salvo um estreito anel) visível no norte do Canadá e em partes da Groenlândia e do noroeste da Rússia.
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