O segundo dia da campanha militar russa contra a Ucrânia começou com uma intensificação do cerco à capital do país, Kiev. Forças de Vladimir Putin voltaram a bombardear a cidade, desta vez com efeitos mais claros sobre civis, e se aproximam por dois flancos. Soldados russos já operam na cidade.
À noite, em pronunciamento horas após confirmar que continua em Kiev, o presidente Volodimir Zelenski afirmou que as forças russas irão tomar a cidade na madrugada deste sábado (26). “Não podemos perder a capital. Falo com nossos defensores, homens e mulheres em todas as frentes: hoje à noite, o inimigo vai usar todas as suas forças para romper nossas defesas da maneira mais vil, dura e desumana”, disse. Ele pediu resistência e orientou as pessoas a jogar coquetéis molotov nos invasores.
À pressão militar, o Kremlin abriu as portas para uma negociação de paz sob seus termos. Segundo o porta-voz Dmitri Peskov, Putin aceita enviar uma delegação a Minsk (Belarus) para discutir “a neutralidade da Ucrânia” com uma missão de Zelenski.
Peskov comentava sobre uma fala anterior do ucraniano, que havia dito estar aberto a conversas e afirmou “não ter medo de discutir a neutralidade” -certamente não desta forma. Os russos em resumo querem o vizinho renunciando a entrar nas estruturas ocidentais, Otan (aliança militar) e a União Europeia.
A coreografia seguiu com um comunicado chinês, segundo o qual Putin disse em conversa com o líder Xi Jinping estar pronto para negociar.
Algumas horas depois, Putin voltou a atacar Zelenski, sugerindo que as Forças Armadas ucranianas deveriam derrubá-lo. “Parece que será mais fácil para nós nos acertarmos com vocês do que com essa gangue de viciados e neonazistas”, disse em uma entrevista à TV. Alguns observadores políticos russos viram na agressividade um sinal dúbio, contudo, acerca da capacidade de resistência do rival.
O movimento militar confirma a hipótese de que a Rússia de fato mirava Kiev como seu principal alvo nesta guerra, ainda que haja combates e ataques ocorrendo em quase todas as partes do país, particularmente na costa do mar Negro.
Numa avaliação vazada pelo Pentágono às TVs americanas, os russos teriam diminuído a velocidade de seu ataque no final da tarde, ficando a dúvida se isso seria uma sinalização para abrir a negociação ou se haveria alguma perda de ímpeto. No caso de a observação ser correta, claro.
Os moradores da capital acordaram com sons de explosões de mísseis balísticos, provavelmente modelos Iskander lançados de Belarus, e de cruzeiro, disparados de aviões. Um caça Su-27 ucraniano, modelo soviético usado por Moscou e Kiev, foi abatido sobre a cidade e caiu sobre um bloco residencial, deixando um número incerto de vítimas.
A imagem correu a internet, com o avião em chamas iluminando o céu da madrugada. A Ucrânia fala em 137 mortos de seu lado e talvez 800 baixas russas, o que não é aferível. Ambos os lados relatam ter destruído equipamento inimigo.
Enquanto isso, a batalha pelo aeroporto Antonov, em Hostomel (25 km a noroeste do centro de Kiev) seguiu noite adentro, após forças aerotransportadas russas o terem tomado na véspera. As informações são confusas, como sempre são em guerras.
Os ucranianos disseram ter retomado a pista, enquanto em Moscou analistas militares dizem que a 76ª Divisão Aerotransportada de Pskov já está pronta para ser levada em aviões de transporte Il-76 para estabelecer uma cabeça de ponte no aeródromo.
Seja como for, de lá já saíram forças especiais russas infiltradas nas periferias da capital, segundo disse em pronunciamento o presidente Volodimir Zelenski, que significativamente se disse abandonado pelo Ocidente na crise e apelou aos manifestantes pró-paz na Rússia, que estão sendo reprimidos pela polícia.
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