Um dos principais gasodutos ligando a Rússia à Europa e seu irmão gêmeo, ainda não em operação, sofreram "danos sem precedentes" e apresentam vazamentos. O Kremlin não descarta sabotagem e se disse "extremamente preocupado", enquanto o governo da Dinamarca afirma ser difícil acreditar em coincidências.
Os vazamentos foram detectados pelas autoridades marítimas suecas e dinamarquesas, que avaliaram a gravidade, e confirmados depois pela Rússia. Eles afetam os ramais Nord Stream 1 e 2, símbolos da integração energética entre europeus ocidentais e russos que agora está no centro de uma crise devido à invasão promovida por Vladimir Putin na Ucrânia.
O Nord Stream 1 opera desde 2011, ligando diretamente Rússia e Alemanha sob o mar Báltico. Ele e seu irmão integravam o plano de Putin de desviar o trânsito do gás, que abastecia até 40% das necessidades da União Europeia até a guerra, do território da Ucrânia.
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Por lá segue passando o produto russo, mesmo com a guerra, por dois antigos gasodutos soviéticos, o Irmandade e o União, que têm capacidade conjunta de enviar até 156 bilhões de metros cúbicos de gás por ano. O Nord Stream 1 adicionou um potencial de 55 bilhões de metros cúbicos e transitava por seus dutos 60% do produto comprado pelos alemães, mas desde junho só está operando a até 25% de sua capacidade.
Os russos alegaram problemas técnicos devidos às sanções ocidentais, como a falta de uma turbina de compressão em conserto no Canadá. Parte significativa das punições impostas a Moscou devido à Guerra da Ucrânia é na área tecnológica.
A Europa e os EUA acusam Putin de transformar sua dependência do gás russo em uma arma, com cortes no fornecimento a países que se recusaram a pagar em rublos, manobra para fortalecer a moeda de Moscou. O presidente russo nega, mas já disse que pode religar o Nord Stream 1 "com o apertar de um botão". A carta do gás é uma das mais poderosas que tem, e seu antigo maior cliente, a Alemanha, fechou um acordo com os Emirados Árabes Unidos neste fim de semana para tentar mitigar um pouco a questão.
Países da União Europeia já reduziram sensivelmente a compra de petróleo russo, e discutem se irão colocar um limite de preço para compras energéticas. É tema controverso, pois há nações que não veem na guerra motivo para entrarem em insegurança no setor, o que tem pressionado governos já que pesquisas mostram que a população é mais favorável a saídas negociados do que a embates prejudiciais ao cotidiano.
Isso já está acontecendo. O preço do gás ao consumidor já chega a dez vezes a média da última década em alguns países, como o Reino Unido, e o inverno europeu está se aproximando. Com ele, a necessidade não só de indústrias terem energia, mas de casas serem aquecidas.
Na Alemanha, além da tentativa de estabelecer uma rede para gaseificar o produto líquido enviado por navios do Golfo Pérsico, o governo está tentando religar parte de sua rede desativada por motivos ambientais. A gigante Siemens, por exemplo, teve duas termelétricas a carvão, modal muito poluente, reativadas, e três usinas nucleares poderão ter seu desligamento adiado.
Não há detalhes ainda sobre a natureza do que está acontecendo. O Nord Stream 1 está praticamente paralisado, e o Kremlin afirmou que "está extremamente preocupado". "Nenhuma opção pode ser descartada agora", disse o porta-voz Dmitri Peskov.
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"São notícias preocupantes. Estamos falando de algum dano de natureza incerta na zona econômica da Dinamarca", afirmou, sem saber precisar quando a operação vai retomar. Sobre o Nord Stream 2, se sabe ainda menos, até porque ele não está operacional.
Ele foi finalizado em setembro de 2021, ficando como polêmico legado da longeva premiê Angela Merkel, mas nunca foi ligado. Inicialmente, havia dúvidas regulatórias em Berlim, vistas em Moscou como políticas já que o governo estava em transição. A guerra interrompeu de vez o processo, e o novo líder alemão, Olaf Scholz, já afirmou que o ramal "não vai fornecer gás nunca".
Ocorre que ele é um projeto de US$ 11 bilhões (R$ 54 bilhões se fosse pago à vista hoje) que envolve diversas empresas europeias, lideradas pela estatal russa Gazprom, então muito da fala grossa é posição política. Do outro lado, claro, o mesmo: "Essa é uma questão relacionada à segurança energética de todo o continente", afirmou Peskov, em tom mais de ameaça do que de preocupação.
Em uma entrevista na Polônia, a premiê dinamarquesa, Mette Frederiksen, disse que é "muito difícil imaginar" que os vazamentos são uma coincidência, mas evitou especular. A Comissão Europeia, braço executivo do bloco continental, afirmou que ainda não há risco de segurança ambiental grave detectado, mas que é cedo para avaliar.
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