O Irã executou neste sábado (7) mais duas sentenças de morte contra participantes da onda de protestos que se espalha pelo país desde o ano passado. Mohammad Mehdi Karami, 22, e Seyyed Mohammad Hosseini, 39, haviam sido condenados por assassinar um membro da Basij, milícia voluntária afiliada à Guarda Revolucionária iraniana.
Com isso, sobe a quatro o número de manifestantes executados pela Justiça. Outros dois acusados receberam pena capital pelo mesmo caso na Suprema Corte iraniana, dois podem apelar da decisão e seis aguardam um novo processo.
A Anistia Internacional afirmou no mês passado que as autoridades iranianas defendem o mesmo destino para ao menos 26 outros envolvidos nos protestos. A organização alega que o Estado negou a todos eles o direito a uma defesa adequada, impedindo-os de contratar advogados, e chama os julgamentos de falsos, "destinados a intimidar os participantes do levante popular que abalou o Irã".
O regime ainda é acusado de ter torturado e extraído à força confissões de ambos os condenados —o que Teerã nega. O advogado de Hosseini, Ali Sharifzadeh Ardakani, afirmou que seu cliente teve as mãos e pés atados e foi espancado até desmaiar, com golpes na cabeça, além de ter recebido choques elétricos em diferentes partes do corpo.
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A Holanda afirmou que convocou o embaixador do Irã em Amsterdã pela segunda vez em um mês para exprimir preocupação com a execução de manifestantes —na diplomacia, a prática é considerada um ato de reprimenda. O chanceler Wopke Hoekstra disse que as ações de Teerã reforçam a necessidade de a União Europeia impor sanções mais severas ao regime teocrático do que aquelas negociadas hoje.
Também neste sábado, o aiataolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, anunciou a nomeação de um novo chefe da polícia nacional após o fim do mandato de Hossein Ashtari, que ocupava o posto desde 2015.
O escolhido foi o general Ahmad-Reza Radan, chefe-adjunto da polícia nacional entre 2008 e 2014. O militar é alvo de sanções da UE e consta em uma lista negra do Tesouro dos Estados Unidos por supostamente ter violado direitos humanos na repressão aos atos contra a controversa reeleição do presidente ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad em 2009.
Radan assume em meio à maior onda de protestos do Irã desde a Revolução Islâmica de 1979, que teve como gatilho a morte de Mahsa Amini, 22, ocorrida em setembro sob custódia da polícia moral, responsável por aplicar os rigorosos códigos de conduta religiosos do regime.
Amini foi detida devido ao suposto uso incorreto do hijab, o véu islâmico, obrigatório para mulheres no país. A versão oficial é que ela morreu em decorrência de problemas de saúde prévios, mas familiares e ativistas dizem que ela foi agredida e morta por agentes enquanto estava presa.
Nesta sexta (6), o grupo de direitos humanos Hrana afirmou que 517 manifestantes foram mortos durante os protestos —70 deles menores de idade—, além de 68 membros das forças de segurança. A última menção de uma autoridade do regime sobre vítimas é do fim de novembro, dando conta de 300 mortes somando os dois grupos.
Desde o início das manifestações, as autoridades iranianas acusam forças estrangeiras, incluindo os EUA, de alimentar os protestos. Segundo o Irã, Washington se vale das manifestações para tentar desestabilizar o regime de Ali Khamenei.
A primeira execução relacionada aos atos ocorreu em 8 de dezembro. Mohsen Shekari, 23, foi condenado por esfaquear um membro da Basij com um machete, atear fogo a uma lata de lixo e pôr em risco a segurança pública. A segunda foi realizada dias depois, em Mashad, em um enforcamento público com guindaste. Majid Reza Rahnavard, 23, então detido havia menos de um mês, tinha sido acusado de esfaquear até a morte dois integrantes da mesma milícia e de ferir outras quatro pessoas.
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