
Durante séculos, o Vaticano se habituou a rituais grandiosos e altamente simbólicos para marcar a despedida de seus líderes espirituais. No entanto, a cerimônia fúnebre do papa Francisco, marcada para o próximo sábado (26), promete romper com a tradição. E não por acaso: as mudanças foram idealizadas e aprovadas por ele mesmo, que até o fim manteve a coerência com sua visão de uma Igreja mais simples e próxima dos fiéis.
Francisco, falecido em Roma na última segunda-feira (21), aos 88 anos, será sepultado segundo diretrizes que ele próprio estabeleceu em abril de 2024 ao revisar o "Ordo Exsequiarum Romani Pontificis", o ritual litúrgico oficial para funerais papais. A principal mensagem do novo formato, segundo o documento, é mostrar que o funeral deve ser o de "um pastor e discípulo de Cristo, e não o de um poderoso deste mundo".
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Esse espírito de humildade já marcava o pontificado de Jorge Mario Bergoglio, o primeiro papa sul-americano e também o primeiro jesuíta a comandar a Igreja Católica. Desde sua eleição em 2013, Francisco se destacou por uma série de gestos simbólicos que contrariavam a ostentação histórica do Vaticano: recusou o luxuoso apartamento papal para viver na residência de Santa Marta, optou por roupas mais simples e buscou aproximar a Igreja dos mais pobres.

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QUESTÃO DE COERÊNCIA
Sua opção por um funeral com menos pompa reflete essa coerência. Um dos elementos mais visíveis da mudança é a abolição do uso de três caixões - tradicionalmente de cipreste, chumbo e carvalho. Francisco será enterrado em apenas um caixão, de madeira com revestimento de zinco.
“Agora, trata-se mais do enterro de um bispo diocesano do que de um imperador romano, e essa era a mensagem que Francisco queria transmitir”, afirmou o teólogo Massimo Faggioli, da Universidade Villanova (EUA), à BBC News Mundo.
COMO SERÁ O NOVO RITUAL
O processo ritualístico também sofreu alterações. A chamada "primeira estação", que confirma oficialmente a morte do papa, será realizada na capela da residência Santa Marta, onde ele vivia, e não no apartamento pontifício. O camerlengo, cardeal Kevin Joseph Farrell, será responsável por bater três vezes com um pequeno martelo na cabeça do pontífice e pronunciar: “Vere papa mortuus est” (“Verdadeiramente, o Papa está morto”), encerrando o ciclo da liderança papal.
Em seguida, o corpo será transferido à Basílica de São Pedro, mas não será colocado sobre um catafalco, como em funerais anteriores. Desta vez, permanecerá no interior do caixão, à vista dos fiéis por três dias. O bastão papal, símbolo do poder pontifício, também estará ausente da exposição. A missa fúnebre, a ser celebrada no sábado, marcará o início dos Novemdiales, os nove dias consecutivos de orações em memória do falecido papa.

SEPULTAMENTO FORA DO VATICANO
Outra mudança significativa diz respeito ao local do sepultamento. Enquanto os últimos papas foram enterrados nas grutas da Basílica de São Pedro, Francisco será sepultado na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, um local de devoção pessoal. “Como sempre prometi à Virgem, e o local já está preparado, quero ser sepultado em Santa Maria Maggiore, porque é minha grande devoção. Antes, quando vinha a Roma, sempre ia para lá nas manhãs de domingo”, declarou em entrevista.
Essa escolha também aparece em seu testamento, escrito em 2022 e divulgado pelo Vaticano: “Sempre confiei minha vida e meu ministério sacerdotal e episcopal à Mãe de Nosso Senhor, Maria Santíssima. Por isso, peço que meus restos mortais descansem aguardando o dia da ressurreição na Basílica Papal de Santa Maria Maggiore.”
O túmulo será discreto, enterrado entre duas capelas da basílica, com uma inscrição única: Franciscus. O papa que tentou remodelar o rosto da Igreja deixará sua marca final não apenas pelas palavras, mas pelo próprio modo como se despede do mundo.
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