
Em momentos de despedidas, há gestos que falam mais do que mil palavras. O simbolismo de uma rosa branca nas mãos de quem pouco ou quase nada possui transcende o ritual e revela a força de um legado. É assim que cerca de quarenta pessoas - entre elas moradores de rua, imigrantes, transgêneros, detentos e famílias em situação de vulnerabilidade - se reunirão no sábado (26), nas escadarias da Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, para dizer "adeus" ao Papa Francisco. Mais do que uma despedida, será um "obrigado" carregado de afeto, feito por quem, por tantos anos, se sentiu acolhido como filho.
A homenagem, comovente e inédita, foi confirmada pela Santa Sé nesta quinta-feira (24). Os participantes, considerados os "últimos" pela sociedade, foram justamente os escolhidos para estarem entre os últimos a se despedirem do pontífice antes do sepultamento. A cerimônia ocorrerá entre a Capela Paulina e a Capela Sforza da Basílica Liberiana, como desejado por Francisco após a missa na Praça São Pedro.
CONTEÚDO RELACIONADO
- Quem é a amiga do papa Francisco que quebrou protocolo do velório para se despedir
- Papa Francisco deixa reflexões sobre morte e velhice em livro
- Vaticano abre velório de papa Francisco ao público e multidão se despede
A iniciativa nasceu de uma conversa entre dom Benoni Ambarus – conhecido como dom Ben – e dom Diego Ravelli, mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias. A intenção era clara: destacar, mesmo no fim, o olhar generoso e atento do Papa Francisco aos marginalizados. "Parece-me uma escolha comovente, porque o Santo Padre Francisco é acolhido pela Mãe que tanto amou e por seus filhos prediletos, que serão como uma coroa nestes últimos passos. Parece-me algo realmente bonito...", emocionou-se dom Ben durante entrevista à mídia vaticana.
Quer mais notícias internacionais? Acesse o canal do DOL no WhatsApp.
Dentre os convidados, estarão representadas diversas realidades: migrantes, famílias pobres, ex-detentos, moradores de rua e um grupo de pessoas trans acompanhadas por religiosas que vivem com elas. "Eles têm histórias muito bonitas por trás. Uma em particular, quando nos conhecemos antes do Natal, tinha acabado de assinar seu primeiro contrato de trabalho verdadeiro com a ajuda da Cáritas Diocesana de Roma. Estava toda emocionada", compartilhou o bispo, revelando o impacto concreto do trabalho social apoiado por Francisco.
"APEGADOS À ESPERANÇA"
Alguns dos participantes já haviam tido encontros com o papa em ocasiões anteriores. Muitos vieram do cárcere de Rebibbia, onde, em 26 de dezembro, o pontífice realizou um dos gestos mais simbólicos do seu pontificado ao abrir a Porta Santa. "Resta para eles, para as pessoas que vivem esta realidade prisional, um grande sentimento de orfandade, porque é isso que chega a mim, é isso que me escrevem, é isso que me contam. Sentem-se órfãos de pai, por um lado; por outro, escreveram-me outro dia: 'Permaneceremos apegados àquela esperança à qual ele nos convidou a nos agarrar", relatou dom Ben.
Além da presença física, o apoio de Francisco aos mais vulneráveis sempre foi acompanhado por ações concretas. “O Santo Padre sempre convidou todos a fazerem algo, e ele mesmo o fez pessoalmente. A grande maioria de sua ajuda permanecerá no segredo de Deus, mas algumas coisas foram comunicadas. Ele certamente sempre contribuiu pessoalmente; como costumava dizer: a caridade passa pelo bolso e ele nunca recuou”, destacou o bispo.
EM FAVOR DOS NECESSITADOS
Entre os exemplos citados estão o Fundo Jesus Divino Trabalhador, criado com um milhão de euros durante a pandemia para ajudar trabalhadores informais e famílias em dificuldades, e a reforma de um antigo imóvel do clero em Roma para transformá-lo em moradia digna para famílias carentes. "O pontificado de Bergoglio está repleto de contribuições em todo o mundo", ressaltou dom Ben, lembrando também a mudança de rumo na administração dos bens da Igreja em favor dos necessitados.
A despedida, portanto, será marcada por um gesto simples e profundo: uma rosa branca. "Elas o acolherão com uma rosa branca, todos, e o gesto da rosa branca é uma forma de dizer seja bem-vindo, porque irá para a Casa do Pai, uma rosa para dizer obrigado pelo que fez por nós", disse o bispo, com a voz embargada. "São os filhos que saúdam o pai."
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar