plus
plus

Edição do dia

Leia a edição completa grátis
Edição do Dia
Previsão do Tempo 29°
cotação atual R$


home
CRISE POLÍTICA

Alguns pontos para entender a violenta crise no Nepal

A Geração Z no Nepal se levanta contra a censura e a corrupção, desafiando o governo em um movimento que pode redefinir o futuro do país.

twitter Google News
Imagem ilustrativa da notícia Alguns pontos para entender a violenta crise no Nepal camera Batizado informalmente de “Levantamento da Geração Z”, o movimento se destaca por ser descentralizado, espontâneo e horizontal | RS/Fotos Públicas

Em um país cercado pelas montanhas do Himalaia e por uma história marcada por transições políticas conturbadas, o Nepal enfrenta, neste momento, o que pode ser sua mais profunda crise institucional desde o fim da monarquia, em 2008. O que começou como uma medida administrativa com aparência técnica rapidamente acendeu um pavio de indignação nacional, levando milhares de pessoas — especialmente jovens — às ruas em um movimento que agora desafia toda a estrutura política do país.

A repressão a redes sociais, implementada pelo governo como parte de um decreto que restringiu o acesso a pelo menos 26 plataformas digitais — entre elas Facebook, YouTube, X (Twitter) e TikTok — foi o estopim. A justificativa oficial alegava falta de registro legal por parte das empresas estrangeiras, mas, para a população, ficou claro: tratava-se de censura, uma tentativa de silenciar críticas e esconder escândalos que vêm corroendo o sistema político nepalês há anos.

CONTEÚDOS RELACIONADOS

A reação foi rápida e intensa. A Geração Z nepalêsa, conectada, informada e cansada de promessas vazias, tomou as ruas da capital, Katmandu, mobilizada inicialmente por canais alternativos de comunicação. O que era uma manifestação contra a censura logo se transformou em um levante nacional por mudanças estruturais.

Batizado informalmente de “Levantamento da Geração Z”, o movimento se destaca por ser descentralizado, espontâneo e horizontal, dificultando ações repressivas e negociações formais. As pautas são variadas — liberdade de expressão, combate à corrupção, fim do nepotismo, renúncia de líderes tradicionais e convocação de novas eleições — mas compartilham um eixo comum: a rejeição total ao establishment político.

O jornalista americano Michael Shellenberger, especialista em autoritarismo digital, apontou:

“O que ocorre no Nepal é um exemplo claro de como governos usam o pretexto da regulação para impor censura e suprimir críticas legítimas da população.”

Censura que revolta

O bloqueio digital, em um país onde as redes sociais se tornaram espaços centrais de debate público e denúncia, soou como o rompimento final de um contrato social já desgastado. Editorial do portal conservador The Daily Wire foi direto:

“Um grave ataque à liberdade de expressão sob o disfarce de legalidade. A reação do povo nepalês deve servir de alerta global.”

O descontentamento transbordou rapidamente. Jovens marcharam com cartazes, celulares em mãos e gritos de guerra. À medida que a repressão policial se intensificava, com o uso de gás lacrimogêneo, balas de borracha e até munição real, o movimento ganhava ainda mais força.

Relatos de testemunhas e vídeos publicados antes do apagão digital indicam um cenário de violência estatal. Segundo organizações locais, pelo menos 19 pessoas morreram e centenas ficaram feridas até agora. O governo respondeu decretando toque de recolher indefinido em Katmandu e mobilizou as Forças Armadas para patrulhar as ruas.

Quer mais notícias direto no celular? Acesse nosso canal no WhatsApp!

Da internet para as ruas

A repressão gerou reações ainda mais enérgicas dos manifestantes. Prédios públicos, como a sede da Suprema Corte e instalações do Parlamento, foram invadidos e parcialmente incendiados. Casas de políticos influentes, incluindo a do ex-primeiro-ministro Sher Bahadur Deuba, foram depredadas. Em um vídeo simbólico que viralizou nas redes antes do bloqueio completo, o atual Ministro da Economia foi lançado por jovens em um rio da capital. Outros ministros sofreram o mesmo destino.

A resposta institucional não deu conta da pressão popular. Na noite desta terça-feira (9), em um gesto de rendição, o primeiro-ministro K.P. Sharma Oli renunciou ao cargo. Envolvido em acusações de abuso de poder e abandono de compromissos democráticos, Oli viu sua base política ruir em questão de horas. Mas sua saída não acalmou os ânimos — pelo contrário, reforçou a sensação de que o sistema inteiro precisa ser refeito.

“Esta geração de jovens não está apenas protestando contra o governo atual, mas contra a falência moral de toda a classe política que domina o Nepal desde a queda da monarquia”, analisou o cientista político Ravindra Mishra, ex-editor da BBC Nepali.

Repercussão internacional

A crise no Nepal já domina a cobertura de veículos internacionais. O jornalista Glenn Greenwald comentou a repressão de forma crítica:

“Nepal está usando a força contra manifestantes que querem liberdade de expressão e combate à corrupção. Mas, claro, essa violência estatal não mobiliza a indignação de quem diz defender ‘democracia’.”

A jornalista Bari Weiss, em editorial no site Free Press, foi além:

“O Nepal está assistindo ao colapso de uma farsa institucional disfarçada de democracia, e isso está sendo denunciado não por partidos de oposição, mas por jovens que perderam a fé no sistema.”

Desde o início das manifestações, o tema gerou mais de 1 bilhão de menções nas redes sociais, antes do bloqueio geral. O país, que ensaiava reconstrução política após anos de guerra civil, instabilidade parlamentar e escândalos sucessivos, agora volta ao centro de uma convulsão social que pode redefinir seu futuro.

VEM SEGUIR OS CANAIS DO DOL!

Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.

tags

Quer receber mais notícias como essa?

Cadastre seu email e comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Conteúdo Relacionado

0 Comentário(s)

plus

    Mais em Mundo Notícias

    Leia mais notícias de Mundo Notícias. Clique aqui!

    Últimas Notícias