
Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump tiveram um breve encontro nesta terça-feira (23), após o brasileiro terminar seu discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas e antes de o americano subir à tribuna para fazer o seu.
Em meio a tensões entre os dois governos, decorrentes do apoio de Washington ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), os dois tiveram uma interação breve e amistosa, afirmaram integrantes da equipe do petista.
Trump sugeriu que os dois conversassem, ao que Lula respondeu que sempre esteve aberto ao diálogo, de acordo com membros da equipe do governo brasileiro. Mais detalhes sobre o encontro, como data e formato, ainda serão acertados.
Conteúdo relacionado
- Pentágono exige pré-aprovação de reportagens e gera críticas nos EUA
- Papa critica exílio forçado de civis em Gaza e condena violência
- Macron é obrigado a provar na Justiça que esposa nasceu mulher
Em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, afirmou que a conversa deve ser por telefone ou videoconferência. "O presidente está muito ocupado, tem uma agenda cheia. Talvez não seja possível se encontrar pessoalmente, mas encontraremos alguma maneira", afirmou.
Para a equipe de Lula, o gesto de Trump foi encarado como uma vitória. Ao anunciar o encontro em seu discurso na ONU, o republicano ainda disse que teve "uma excelente química" com o brasileiro.
No entanto, há um temor de que o presidente americano use a ocasião para pressionar ou mesmo humilhar Lula, como já fez com líderes europeus na Casa Branca. Por isso, para membros do governo brasileiro, é crucial que a interação não saia do esperado.
A aproximação ocorre em meio ao tarifaço do republicano contra o Brasil e a um novo pacote de sanções americanas. As declarações animaram os mercados brasileiros —o real valorizou cerca de 1% em relação ao dólar e o índice de referência Bovespa subiu mais de 1%, atingindo uma máxima histórica.
Trump acompanhou todo o discurso de Lula em uma sala reservada da ONU. Como o Brasil é tradicionalmente o primeiro país a discursar e os Estados Unidos, o segundo, essa dinâmica é normal. Segundo membros do governo Lula, foi o americano quem tomou a iniciativa de falar com o brasileiro.
Ao deixar o púlpito, Lula se dirigiu à bancada da delegação brasileira na Assembleia-Geral, onde sentou-se ao lado da primeira-dama Janja, do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, do assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, e do embaixador do Brasil na ONU, Sérgio Danese.
Com exceção de Lewandowski, nenhum membro da comitiva brasileira bateu palmas para Trump quando ele subiu ao palco. Muitas outras delegações também permaneceram em silêncio.
Ao final de seu discurso, Trump falou sobre a interação com Lula nos bastidores, disse que houve "excelente química" e anunciou o encontro na próxima semana. "Eu só faço negócios com pessoas de quem eu gosto", afirmou. "E eu gostei dele, e ele de mim. Por pelo menos 30 segundos nós tivemos uma química excelente, isso é um bom sinal."
Em seu discurso, Lula fez uma fala permeada por recados aos EUA, de críticas a sanções a ações militares no Caribe. Enquanto falava, a delegação americana presente na Assembleia, capitaneada pelo secretário de Estado, Marco Rubio, não reagiu. Em momentos de palmas ao brasileiro, como durante as críticas à inação na Faixa de Gaza, a mesa de Washington permaneceu imóvel.
Esta foi a primeira vez que Lula ficou no mesmo ambiente que Trump desde que o americano aplicou sanções ao Brasil, a partir do final de maio. Em abril, os dois foram à missa do funeral do papa Francisco, mas Lula afirmou nem ter visto Trump na ocasião. Depois, em meados de maio, havia expectativa de que eles pudessem se esbarrar na cúpula do G7, em meados de maio, no Canadá. Mas isso não ocorreu porque Trump antecipou sua volta aos EUA.
O encontro entre Lula e Trump, embora tenha sido rápido, não estava na agenda de nenhum dos dois presidentes. Ela ocorre num momento de distanciamento inédito entre Brasil e EUA em decorrência do julgamento de Bolsonaro, um aliado de Trump.
Quer ver mais notícias? Acesse nosso canal no WhatsApp
O republicano classificou o processo contra o ex-presidente de caça às bruxas e, com base nisso, aplicou uma série de medidas punitivas contra o país. Entre elas, a cassação de vistos de autoridades, a imposição de sanções financeiras contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros.
Na mais recente escalada, Trump incluiu a esposa de Moraes, Viviane Barci, em punições financeiras com base na Lei Magnitsky, e suspendeu os vistos de uma nova leva de autoridades brasileiras, entre elas o do ministro Jorge Messias (Advocacia-Geral da União).
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar