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GUERRA?

O que significam as operações secretas da CIA na Venezuela? Entenda!

Confirmação feita pelo presidente Donald Trump aumenta temores sobre guerra entre EUA e Venezuela.

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Imagem ilustrativa da notícia O que significam as operações secretas da CIA na Venezuela? Entenda! camera O desenrolar deste conflito será observado atentamente por governos e analistas internacionais, pois pode estabelecer precedentes importantes sobre a política externa na relação entre as nações. | Reprodução/Casa Branca

A confirmação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que autorizou a agência de inteligência CIA a conduzir "operações secretas" dentro da Venezuela representa um possível ponto de inflexão nas relações entre Washington e Caracas.

A declaração, feita durante entrevista no Salão Oval da Casa Branca na quarta-feira (15), indica que os EUA estão dispostos a escalar a tensão a níveis sem precedentes. Durante a entrevista, Trump reafirmou que os Estados Unidos "estão analisando operações em terra" para combater supostas operações de narcotráfico que teriam origem na Venezuela que, segundo o presidente americano, ameaçam a segurança nacional dos EUA.

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Até agora, as operações americanas se limitavam a ações marítimas contra embarcações próximas ao litoral venezuelano.

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Nas últimas semanas, forças americanas afundaram pelo menos cinco barcos acusados de transportar drogas perto da costa venezuelana, resultando na morte de 27 pessoas.

Críticas internacionais

Especialistas em direitos humanos classificaram essas ações como "execuções extrajudiciais", levantando questões sobre a legalidade das operações.

As operações da agência de inteligência americana incluem:

  • Sabotagens estratégicas;
  • Infiltrações em organizações;
  • Campanhas de desestabilização;
  • Apoio a grupos de oposição.

Autorização presidencial necessária

Segundo o ex-oficial da CIA Mick Mulroy, que foi Subsecretário Adjunto de Defesa para o Oriente Médio no primeiro governo Trump: "Para conduzir ações secretas, é necessária uma decisão presidencial da CIA autorizando-a especificamente, com ações específicas identificadas".

Isso significa que o anúncio de Trump indica que essas autorizações específicas já foram concedidas.

O governo americano vem aumentando significativamente a pressão sobre o crime organizado venezuelano, chegando a acusar o próprio governo de Caracas de apoiar essas organizações.

Classificação como grupo terrorista

Em fevereiro de 2025, o Departamento de Estado classificou a organização "Tren de Aragua" como grupo terrorista, marcando uma escalada na retórica oficial.

O governo Trump chegou a acusar o presidente Nicolás Maduro de comandar a organização criminosa. No entanto, documentos da própria inteligência americana obtidos pela Freedom of the Press Foundation indicam que não há evidências que sustentem essa alegação.

Precedentes históricos: a Operação Northwoods

A possibilidade de operações da CIA na Venezuela levanta questões sobre o alcance e natureza dessas ações. Documentos históricos revelam que a agência já considerou táticas controversas no passado.

O plano de 1962

Em 1962, a CIA propôs orquestrar atos de terrorismo contra alvos americanos para culpar Cuba e justificar uma guerra — operação conhecida como Northwoods, que nunca foi implementada.

Especulações sobre as operações autorizadas incluem:

  • Assassinatos direcionados de membros de organizações criminosas;
  • Operações de "bandeira falsa" — atos hostis realizados para culpar o governo Maduro e justificar intervenção militar;
  • Sabotagens de infraestrutura crítica;
  • Apoio logístico e de inteligência à oposição venezuelana.

María Corina Machado e a "fase de resolução"

A ativista de oposição venezuelana María Corina Machado — que vive na clandestinidade desde o ano passado e recentemente ganhou o Prêmio Nobel da Paz — afirmou que o conflito entra agora em uma "fase de resolução".

A declaração da líder oposicionista sugere coordenação ou, no mínimo, alinhamento de expectativas entre setores da oposição venezuelana e a estratégia americana.

A resposta venezuelana: mobilização e doutrina de guerra assimétrica

Há anos, a Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) vem se preparando para a possibilidade de alguma ação militar contra a Venezuela. Documentos estratégicos das forças armadas venezuelanas revelam atenção constante aos sinais vindos de Washington.

A origem da doutrina militar venezuelana

A atual doutrina militar venezuelana tem origens em 2002, quando os EUA apoiaram uma tentativa de golpe contra o ex-presidente Hugo Chávez.

Após aquele episódio, por volta de 2004, o governo venezuelano começou a definir a atual doutrina militar bolivariana, reconhecendo sua impossibilidade de vencer um inimigo muito mais potente em confronto direto.

A estratégia venezuelana se inspira em experiências de "guerra assimétrica" de várias partes do mundo:

  • Vietnã;
  • Cuba;
  • Iraque;
  • Afeganistão.

Esta concepção maoista, aplicada e desenvolvida pelos revolucionários vietnamitas, aceita a assimetria das forças em combate e baseia-se na irregularidade das formações para determinar estratégias de batalha.

Como funciona a guerra assimétrica

Diferente da guerra tradicional que busca controle de posições, a guerra assimétrica:

  • Aceita a perda de território em um primeiro momento;
  • Foca em armar a resistência;
  • Engaja o inimigo em uma guerra de desgaste a longo prazo;
  • Borra as fronteiras entre campo de batalha e sociedade;
  • Transforma cidadãos em defensores ativos.

A encarnação dessa doutrina é a Milícia Bolivariana, criada oficialmente em 2008 a partir da expansão das forças de reserva militar.

A Milícia incorpora a população civil em tarefas de mobilização revolucionária e defesa nacional, baseando-se no princípio constitucional de 1999 sobre a "corresponsabilidade" de civis e militares pela defesa nacional.

"Inteligência popular"

Na eventualidade de um conflito, grande parte dos milicianos se dedicaria ao que o governo chama de "inteligência popular", buscando evitar, por exemplo, uma explosão de protestos sociais na periferia e monitorando movimentações suspeitas.

Há relatos da distribuição de armas a civis comprometidos a defender a Venezuela de uma "guerra não declarada" por parte de Washington. Reportagem da BBC News Brasil do mês passado mostrou em detalhes como é feito o treinamento de civis venezuelanos para um possível conflito.

Documentos estratégicos das forças armadas venezuelanas pesquisados desde 2019 dão pistas de como os militares estão atentos a sinais vindos de Washington.

Fase 1: Período de crise

Segundo os documentos, o "período de crise" que antecederia uma guerra é descrito como um lapso de várias semanas ou meses marcado por:

  • Ações hostis diversas;
  • Ciberataques estratégicos;
  • Campanhas de desestabilização;
  • Possível subversão armada;
  • Bloqueio militar.

O objetivo seria desestabilizar a Venezuela e iniciar desgaste sistemático contra o governo de Caracas.

Fase 2: Primeira fase da guerra

A fase seguinte seria marcada pelo aprofundamento das operações de desgaste sistemático, além de operações terrestres limitadas e ataques aéreos pontuais

De acordo com os cenários avaliados pelos militares venezuelanos, o objetivo americano seria criar uma "zona cinzenta" — um momento em que ações estratégicas são tomadas em um espaço ambíguo entre guerra e paz.

Essa natureza híbrida, muito mais centrada em operações militares não-convencionais que um enfrentamento bélico direto, explica por que a mobilização atual do governo venezuelano tem se centrado na "mobilização popular".

O paralelo traçado por Chávez

O próprio Hugo Chávez traçou paralelos entre a guerra do Iraque e a experiência guerrilheira na América Latina, destacando-as como fontes de inspiração para a doutrina bolivariana.

As palavras dele, em 2004, foram: "Quando vemos os gringos lá em Fallujah, destruindo aquela cidade, pensamos: se algo semelhante nos acontecesse, bem, teriam de nos caçar nas montanhas de Turimiquire, de Falcón, de Lara. Que nos procurem no Pico Bolívar, nas selvas da Guiana!"

Contando com um contingente de apenas cerca de 150 mil tropas — cerca de 80 mil no Exército e o resto distribuído entre Marinha, Força Aérea e Guarda Civil —, a FANB tem plena consciência do seu poder de fogo frente aos quase 1 milhão que servem os EUA.

Limitações atuais

O relatório Military Balance, do International Institute for Strategic Studies, afirma que "as dificuldades econômicas contínuas e as sanções limitaram a capacidade da Venezuela de adquirir novas tecnologias de defesa".

A crise econômica recente impediu novas rodadas de modernização, embora o relacionamento no campo da defesa com o Irã tenha se aprofundado sob Maduro.

Trump 2.0: mais determinado e com mais ferramentas

O governo de Maduro conseguiu sobreviver ao primeiro mandato Trump, quando foi alvo de sanções ao setor petroleiro e de uma crise econômica com um dos maiores índices de hiperinflação do mundo.

Em seu segundo mandato, Trump tem demonstrado que está mais determinado a derrubar seu rival venezuelano. A inclusão da CIA na estratégia pode indicar que agora terá mais ferramentas — e mais flexíveis — para alcançar esse objetivo.

Sem tropas regulares cruzando fronteiras, o envolvimento da CIA adiciona flexibilidade, imprevisibilidade e opacidade à campanha americana, tornando mais difícil para a Venezuela antecipar e responder aos movimentos de Washington.

O desenrolar deste conflito será observado atentamente por governos e analistas internacionais, pois pode estabelecer precedentes importantes sobre a política externa americana na região e a capacidade de resistência de governos que Washington considera adversários.

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