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História de Belém: Palacetes viram patrimônios esquecidos

A suntuosidade de outrora está dando lugar a espaços visivelmente abandonados, cada vez mais deteriorados e sem utilidade. Os palacetes Bolonha e Pinho são memórias físicas que guardam parte da história da capital paraense, mas que parecem ter ficado no e

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Imagem ilustrativa da notícia História de Belém: Palacetes viram patrimônios esquecidos camera A fachada do Palacete Pinho, no bairro da Cidade Velha, mostra que o imóvel não recebe serviços de manutenção há bastante tempo. | Fernando Araújo

A suntuosidade de outrora está dando lugar a espaços visivelmente abandonados, cada vez mais deteriorados e sem utilidade. Os palacetes Bolonha e Pinho são memórias físicas que guardam parte da história da capital paraense, mas que parecem ter ficado no esquecimento da administração municipal. Situado na avenida Governador José Malcher, bairro de Nazaré, o Palacete Bolonha encontra-se com a fachada deteriorada, pintura descascando, janelas e vidraças quebradas e empoeiradas, além de mato e pichações.

Quem conhece o espaço se entristece ao vê-lo completamente abandonado. O belenense Miguel Torres Oliveira, 60, conheceu a edificação bem de perto atuando por vários anos como taxista em Belém.

Ele cita o abandono não só do Bolonha, como do Palacete Pinho, referências históricas e que atraem olhares de turistas que visitam a cidade. “Patrimônio antigo tem de ser preservado e utilizado para alguma finalidade. Precisamos de tantas coisas na cidade. É uma tristeza. Trabalhei em porta de hotel e sentimos falta de mais pontos turísticos em Belém”, lamenta.

Segundo ele, o turista que chega à cidade quer conhecer e visitar os espaços como os palacetes. Mas sem a opção de uso público, isso se torna impossível. “Trouxe vários turistas aqui. A pessoa só fazia foto do lado de fora, porque o espaço não tem funcionalidade. Eles perguntam o que funciona aí, mas não tem nada. Podia funcionar como espaço cultural, traz renda, emprego e o turista volta para ver. Se não for o Círio para trazer o turista...”, acrescenta Miguel.

PATRIMÔNIOS

O palacete Bolonha foi erguido em 1905 e, assim como o Palacete Pinho, está inserido no contexto de um abastado período da economia da capital, conhecido como a Belle Époque ou Época da Borracha. O casarão foi projetado pelo engenheiro paraense e proprietário do imóvel, Francisco Bolonha.

De acordo com historiadores, ele o projetou para a esposa que amava arte, a pianista carioca Alice Tem-Brink. Professora da Faculdade Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (UFPA) e doutora em história, Ana Léa Nassar explica que tanto o Bolonha quanto o Palacete Pinho foram erguidos em um estilo eclético europeu. No caso do Bolonha, suas características reúnem estilos neoclássico, art-noveau, barroco e rococó.

“Foi um prédio singular porque ele construiu de acordo com as suas necessidades. É muito compartimentado em função dos costumes de vida do Bolonha. A administração é do poder municipal, mas seu tombo foi na esfera estadual, em 1982. Hoje encontra-se em estado de abandono, a cobertura com alto grau de deterioração. São elementos preocupantes para sua conservação”, esclarece.

“Todos esses palacetes são integrantes do ecletismo, porém cada um se mantém com uma característica: o Bolonha tem influência francesa pela sua ornamentação, quase um rococó, art-noveau, por isso é marcante na paisagem da cidade e na referência visual do perímetro em que está inserido. No meu ponto de vista, o ideal era que ganhasse múltiplas funções porque a sua divisão é muito peculiar”, explica a pesquisadora.

Os centenários prédios Pinho e Bolonha continuam abandonados pelo poder público e em estado de precariedade total.
📷 Os centenários prédios Pinho e Bolonha continuam abandonados pelo poder público e em estado de precariedade total. |Fernando Araújo

REFERÊNCIA

Ela ressalta que, na década de 1970, Belém era a detentora do maior repertório da arquitetura eclética do País, mas ao longo dos anos foi perdendo esse posto. “Se continuarmos perdendo, será realmente algo muito sério para memória da cidade. Não devemos ficar órfãos da nossa própria história, da expressão da vida e economia que Belém viveu. São referências de memória e pertencimento da população que precisam ser vistas prioritariamente pela administração. A arquitetura tem como uma de suas qualidades ser um livro vivo para contar histórias das épocas”,
pondera a historiadora.

Ana ressalta que os palacetes testemunham o estilo de vida europeu e foram construídos com empregos de novos materiais e tecnologias, em perfeita sintonia com práticas europeias. O palacete Pinho também carrega o sobrenome de seu proprietário, o português Antonio José de Pinho. Ele encomendou a construção no ano de 1897 ao engenheiro Camilo Amorim. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1986, a edificação possui um formato de “U”, possivelmente pela influência portuguesa, o que diferencia das demais construções do bairro da Cidade Velha, que são sem recuo.

“O Palacete Pinho passou por várias intervenções e encontra-se sem uso. Está com infiltrações consideráveis que podem ameaçar sua estabilidade. Passou por depredações, onde despareceram lustres; goteiras apagaram a pintura interna que desfigurou o ambiente. Quanto mais o tempo passa, mais vamos perdendo características importantes que testemunham a situação do seu proprietário original”, pondera a historiadora.

Moradores lamentam falta de uso e dão sugestões de projetos

Localizado na rua Dr. Assis, na Cidade Velha, o Palacete Pinho também reflete anos de abandono. Partes da fachada estão quebradas e com rachaduras; o mato cresce nas paredes e no piso de entrada está tomado pelo limo. Também é possível observar janelas abertas.

Nascido e criado naquele bairro, o consultor de vendas Marcelo Amorim, 51, esperava que o espaço fosse aproveitado pelo poder público.

“Quando fizeram a última reforma, na época do Duciomar, ia ser uma escola de música. Depois falaram em museu de artes. A banda da Guarda Municipal chegou a utilizar para ensaiar. Aqui na Cidade Velha a maioria dos prédios é antigo. E estão abandonados e deteriorados. Recentemente caiu uma fachada”, relatou.

Para o morador do bairro, se o problema for falta de recursos financeiros para manter o espaço em funcionamento, uma opção seria o espaço ser administrado conjuntamente pelo poder público e iniciativa privada.

“Tinha um lustre no salão de entrada e levaram. Tinha tapetes que foram carregados. Já foi invadido várias vezes. Na frente mesmo tinham luminárias. Na época da reforma foi gravada novela da Globo. Podia ser muito bem aproveitado para fazer uma escola, um restaurante, uma forma de não deixar abandonado”, assinala.

Em nota, a Prefeitura de Belém informou que o Palacete Bolonha possui projeto para transformá-lo em um museu que represente uma casa do início do século XX.

O Palacete Bolonha também vai abrigar o Memorial Francisco Bolonha, onde o visitante poderá conhecer quem foi Francisco Bolonha. Este projeto foi aprovado para receber recursos do PAC Cidades Históricas e o início das obras aguarda liberação do Iphan.

A prefeitura esclarece que na última terça (21) foi aberta licitação para contratação do projeto para reforma do Palacete Pinho. Após a elaboração do projeto serão feitos os procedimentos para execução das obras com recursos do Banco do Brasil.

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