Desde que a pandemia de Covid-19 se instaurou no planeta, vários acontecimentos passaram a ser relacionados como sinais de que “o fim do mundo está próximo”. Teorias, passagens bíblicas e também notícias falsas chegam a confundir a população. Seja religioso, cético ou cientista, quem nunca se perguntou se haverá mesmo um final dos tempos?
Na Bíblia, alguns apóstolos e o livro do Apocalipse tratam do assunto em passagens que, invariavelmente, são relacionadas ao momento atual. “Levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino, e haverá fome, peste e grandes desgraças em diversos lugares. Tudo isto será apenas o início das dores (...) Muitos sucumbirão, trair-se-ão mutuamente e mutuamente se odiarão”, cita o livro bíblico de Mateus.
Em Lucas, o tema volta a ser citado. “Na terra a aflição e a angústia apoderar-se-ão das nações (...) Os homens definharão de medo na expectativa dos males que devem sobrevir a toda terra”. No livro do Apocalipse, uma praga de gafanhotos é descrita. “O aspecto desses gafanhotos era o de cavalos aparelhados para a guerra”.
As citações são apenas exemplos que podem ser associados com o que tem ocorrido. Nas últimas semanas houve o ciclone bomba em Florianópolis (SC), praga de gafanhotos em algumas regiões do mundo, tempestade de raios em Belém e terremotos no México e até no Ceará, além de nuvem de poeira “Godzilla” atravessando o planeta. Um prato cheio para os “profetas” da atualidade justificarem que “é o fim do mundo!”, tema que já chegou a ser um dos assuntos mais comentados do Twitter.
VISÃO CATÓLICA
Frei Jonas Matheus, franciscano-capuchinho, analisa a situação sob a ótica da Igreja Católica. “Apocalipse é uma palavra grega que significa ‘a revelação’. Tudo de estranho, de esquisito que aparece no Apocalipse, que a gente não vê no nosso mundo normal, significa uma linguagem simbólica. Temos que lembrar que naquela época os cristãos eram perseguidos, então se escrevia em códigos, que eram decifrados para os fiéis pelos catequistas das comunidades”, informa.
O religioso pontua que hoje a ciência, com os estudos astronômicos, é levada em conta pela igreja, que promove diálogos, congressos no Vaticano, como forma de promover um debate civilizado sobre temas variados. “A partir dessa leitura nós sabemos que o mundo vai acabar, o sol é finito, e quando ele acabar, acaba a vida. O mundo é finito, mas a gente não sabe se vai ser agora”, admite.
O frei capuchinho destaca que as aparições de Nossa Senhora em Fátima e Lourdes já preparavam o mundo para os momentos finais, mas lembra que guerras, pragas e desgraças sempre pontuaram a trajetória da humanidade, o que não significa que Deus queira “levar todo mundo para o inferno”, tranquiliza.
“Deus fazendo um sinal sobrenatural, o ser humano pode acreditar e sair dessa letargia, da vida dupla, se voltar para Deus, renunciar à vida pecaminosa e será salvo. Se converter pelos fenômenos sobrenaturais, reconhecer que o ser humano não é Deus e praticar a caridade e a justiça para com o pobre”, sugere. “A caridade encobre uma multidão de pecados. Se o mundo vai acabar agora ou não, o ser humano tem a possibilidade de ser melhor, vivendo a ética cristã e fazendo o bem”, completa Jonas Matheus.
VISÃO ADVENTISTA
O pastor e educador da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Henilson Erthal de Albuquerque, recorda uma passagem de Lucas sobre as situações desafiadoras para a humanidade. “Haverá grandes terremotos, epidemias e fome em vários lugares, coisas espantosas e também grandes sinais do céu”, diz o trecho.
“Esta passagem mostra uma terra inquieta e em tribulação nos últimos dias da História. Jesus Cristo previu que coisas como essas se tornariam mais comuns antes de sua segunda vinda. Ele Se referiu a elas como ‘sinais’ de que o tempo de seu retorno estaria se aproximando. Esses sinais não deveriam nos assustar, nem alarmar”, afirma o pastor.
“Não podemos ver a pandemia do coronavírus e estes outros eventos que temos observado como o cumprimento principal da profecia de Mateus (24:7). Ela faz parte de uma sequência de sinais que estão alertando a sociedade de que o fim se aproxima. Eventos desta natureza aumentarão em frequência e em intensidade”, acredita.
“De uma coisa temos certeza, o melhor está por vir. Essa pandemia nos despertou do sono da estabilidade da vida. Desenvolvemos a percepção clara daquilo que é essencial, as pessoas e a nossa esperança maior, a salvação eterna. Deixamos de dar importância para aquilo que é transitório. Essa é uma herança positiva da pandemia. Devemos aproveitar esta oportunidade”, conclui.
EVOLUÇÃO
O pastor da Igreja Adventista e mestre em teologia, Fanuel Rodrigues de Almeida, concorda que os últimos acontecimentos convidam a humanidade a evoluir. “Podemos avaliar a pandemia do Covid-19 como um aviso de nossa fragilidade e proximidade do fim, mas ainda não é o fim. Tudo isto nos possibilita fazer uma avaliação pessoal e desta forma tomar as decisões necessárias”, observa.
Fanuel cita o livro do Apocalipse. “Encontramos as sete últimas pragas que iniciarão com o surgimento de úlceras malignas e perniciosas sobre os adoradores da besta. Em seguida o mar se tornará como sangue e ficará sem vida e na sequência as fontes de águas também ficarão como sangue e o sol aumentará seu calor queimando os homens”. Segundo o pastor, todos esses são acontecimentos reais. “As sete últimas pragas ainda não se iniciaram. E quando ocorrerem serão o último aviso do fim e a manifestação do juízo de Deus sobre os moradores da Terra”.
VISÃO ESPÍRITA
O diretor da União Espírita Paraense, Edinaldo Calixto, analisa que os eventos citados, exceto as guerras, são ocorrências naturais, facilmente identificadas em vários momentos de nossa história. “O homem precisa compreender esses eventos naturais como partes de aprendizados que Deus nos permite vivenciar e, portanto, é sempre para nossa evolução, sem qualquer relação com o fim do mundo”, assegura.
Calixto explica que o Espiritismo, através das obras básicas codificadas por Allan Kardec, orienta que “os mundos”, através de seus habitantes, passam por etapas de evolução. “A Terra já cumpriu a etapa Primitiva, está cumprindo a etapa de Provas e Expiações, rumo agora a etapa de Mundo de Regeneração. Portanto, não é que tenhamos um fim de mundo, mas iremos evoluir conforme nos fala Kardec na Lei do Progresso, em O Livro dos Espíritos”.
ENTREVISTA
VISÃO FILOSÓFICA E ANTROPOLÓGICA
O filósofo e antropólogo Wladirson Cardoso, da Universidade do Estado do Pará (Uepa), fez uma análise sobre um provável fim do mundo.
P- Existe relação entre esses últimos acontecimentos e o fim do mundo?
R- De acordo com a Ciência, a terra, hoje, possui, aproximadamente, 4,5 bilhões de anos e já passou por diversas eras desde sua formação até aqui. O fim e a completa extinção do planeta, segundo a compreensão da Ciência, se daria ou por catástrofe natural e/ou, também, pela ação do próprio homem (como uma hecatombe atômica).
P- Que relação a ciência faz com o que tem ocorrido?
R- Para a Ciência, os fenômenos naturais ou biológicos e os acontecimentos humanos são plenamente explicáveis a partir da própria manifestação empírica, isto é, pela ocorrência mesmo de tais fenômenos na realidade, a partir da qual se pode, então, identificar suas causas e prever suas consequências.
P- Haverá fim do mundo?
R- Os que creem no fim afirmarão categórica e dogmaticamente que sim. A Ciência dirá, pois, que a extinção da vida humana na Terra e o fim do planeta ocorrerá de forma processual com consequências devastadoras que nos atingirão inequivocamente. Já os céticos sempre cuidarão do fim.
P- O que fazer?
R- Por detrás do medo sobre o “fim do mundo” está, lá no fundo, a nossa dúvida sobre o futuro e a morte. Devemos fazer nossa existência ter um sentido que reforce os valores como a vida, o bem-estar, a saúde, a liberdade e o respeito. Somente assim poderemos acreditar que um novo mundo será possível diante de tantas calamidades como as injustiças sociais.
ENQUETE
Você acredita que o fim do mundo está próximo?
“Não acredito. Pois apesar de estarmos vivendo um ano caótico, ele é só mais um na história da humanidade. Em períodos semelhantes, as pessoas pensaram no apocalipse, que não ocorreu. Espero que não aconteça na nossa vez”. Antônio Carlos Accioli Filho, Universitário.
“Acredito que sim, uma vez que a pandemia tornou esse período apocalíptico cheio de doenças que se espalham rapidamente, de isolamento de entes queridos e seguidamente de quebra das bolsas de valores, guerra entre nações etc.”. Lucas Schuler, Auxiliar técnico em batimetria.
“Não acredito. Acho que Deus ainda vai mostrar para essa humanidade os valores como família, respeitar as pessoas, levar a palavra de Deus. Isso está muito longe ainda." Lorena Teles Administradora.
“Acredito que uma renovação do mundo esteja mais próxima, mas antes disso acontecer, haverá alguns desastres ou coisas das quais estamos passando atualmente, como sinal de alerta, para mudarmos a nossa trajetória na Terra, pensando mais no planeta como um todo”. Ana Alves, Professora.
VOCÊ SABIA?
O Apocalipse é um dos livros que compõem a Bíblia e foi escrito pelo apóstolo João, quando esteve na Ilha de Patmos, por volta do ano 81-96 depois de Cristo. A obra foi escrita em um período em que a igreja primitiva sofria terríveis perseguições de Roma. João destaca que foi uma revelação de Jesus Cristo, ela é cheia de simbolismos que sempre a humanidade procura quando enfrenta situações difíceis.
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