O 1º de novembro, Dia de Todos os Santos, é comemorado desde o Século IX. No Norte da Europa, os celtas tinham no período de 31 de outubro a 2 de novembro a comemoração do Ano Novo e, com a festa Samhain, celebravam as divindades célticas. O catolicismo, então, passa a celebrar o Dia de Todos os Santos como uma forma de se aproximar dos celtas e inserir os elementos cristãos. De lá para cá, inúmeros santos têm sido canonizados até hoje, para todas as ocasiões, e são frutos de devoção fervorosa.
O processo de canonização de um santo inicia com o reconhecimento das virtudes e, sendo reconhecidas, ele passa a chamar-se ‘servo de Deus’. “O segundo passo é a comprovação de um milagre obtido pela intercessão do servo de Deus, e comprovado ela passa a chamar-se ‘bem-aventurado’; o terceiro passo é a comprovação de mais um milagre ocorrido depois da beatificação, e comprovado passa a chamar-se de santo”, explica o professor de Ciências da Religião e Teologia da Universidade do Estado do Pará (Uepa), José Antonio Mangoni. O processo, em geral, é muito demorado, e pode levar décadas.
“Os santos no catolicismo são vistos como intercessores, mas de maneira particular, são vistos como exemplos e testemunhas de fé, no qual todos podem se espelhar para viver a fé cristã”, afirma Mangoni.
DEVOÇÃO
Uma vivência colocada em prática pela assistente social Alane Santos junto ao marido Márcio e a filha Maitê Santos. A família tem cerca de dez imagens de santos diferentes em casa e a relação com cada um deles é pontuada por histórias de graças alcançadas. Uma delas foi a própria gravidez, um pedido feito à Nossa Senhora de Nazaré em uma novena do Círio. “Fui sorteada com a imagem e, no ano seguinte, tive a alegria junto com meu esposo de descobrir que Nossa Senhora intercedeu junto ao seu Filho para que eu pudesse ser mãe, pois eu e meu marido já tínhamos feito vários exames e dava tudo normal, porém não conseguia engravidar”, conta.
Gravidez confirmada, foi hora de se apegar com Maria sob outro título, o de Nossa Senhora do Ó, padroeira do distrito de Mosqueiro e que é representada ainda gestante de Jesus. “Meu Pais são mosqueirenses e devotos da santa, assim como meu avô que era diácono da paróquia Nossa Senhora do Ó. Foi então que ganhei deles a imagem dela para que me acompanhasse durante minha gestação, que foi muito tranquila, assim como meu parto”, explica Alane.
A fé em São José também tem motivo especial para a família Santos. “Quando nos mudamos para o centro de Belém, viemos morar na Avenida Visconde de Souza Franco e procurávamos uma igreja, foi quando, da janela do nosso apartamento, avistamos a Paróquia de São José do Umarizal”, conta a devota.
“Comecei a frequentar junto com a minha filha, sempre convidava meu marido para irmos à missa e ele sempre dava uma desculpa, foi quando nós intensificamos as nossas orações junto ao Padroeiro das Famílias”, destaca. “Foi aí que, um belo domingo, ele mesmo teve a iniciativa de nos acompanhar para a Santa Missa e desde então nunca mais abandonou a nossa igreja”.
A devoção de Alane vai além e outros santos são citados durante a conversa, entre eles Santa Mônica, padroeira do Grupo Mães que Oram pelos Filhos, do qual faz parte. “Uma cristã exemplar. Mônica preocupava-se com a conversão de sua família, por isso se consumiu na oração pelo esposo violento, rude, pagão e, principalmente, pelo filho mais velho, (hoje Santo) Agostinho, que vivia nos vícios e pecados”, relata, sem deixar de acrescentar Santo Inácio de Loyola, inspirador para que ela e a família virassem missionários. “Os santos representam para mim exemplos de vida, assim como todos os dias peço a intercessão junto ao Nosso Senhor Jesus Cristo, onde peço pela proteção de nossa família, recorro sempre em oração com eles”.
INTERNET DEVE GANHAR SEU PRÓPRIO PADROEIRO
Outra religiosa que sempre recorre aos santos é a administradora de empresas Cynara França. “Os santos de minha devoção tenho em casa e rezo todos os dias. Faço novenas, também, sempre quando está chegando o dia deles”, explica. “Santo Antônio de Lisboa eu tenho uma devoção muito grande desde criança, minha família frequenta a paróquia. Santa Gianna que me ajudou em um momento que eu estava com problemas de cisto. Santa Faustina, tenho uma grande devoção, com a visão que ela teve de Jesus Misericordioso e me dá muita força”, enumera.
A lista de Cynara tem vários outros homens e mulheres que tiveram uma vida baseada no amor a Jesus e que foram canonizados: São Bento, “por ser o santo de devoção do meu filho”; Santa Rita, “a Santa das Causas Impossíveis”; Santa Edwiges, “das pessoas que estão com problemas financeiros, sempre rezo muito para ela”, relata.
Sobre o afeto por Santa Teresinha do Menino Jesus, Cynara dá um pequeno testemunho ocorrido em uma novena do Círio no dia dedicado à carmelita francesa, onde a tradição manda se distribuir rosas. “Entreguei a rosa para uma moça que estava cantando. Se diz que quando você recebe uma rosa no Dia de Santa Terezinha, você vai alcançar uma graça. Essa moça ficou muito emocionada e, logo em seguida, encontrei com ela, e ela falou que tinha alcançado a graça. Este ano entreguei a última rosa para minha filha, que iria passar por um procedimento. Todos falaram, ‘ela vai receber a graça’ e recebeu. É uma santa de devoção muito especial para mim e minha família”, afirma.
A administradora de empresas já devota atenção a outro futuro santo, o beato italiano Carlo Acutis, o Padroeiro da Internet. “Um anjo da juventude que, com certeza, vai ser um grande santo”, aposta. Cynara sugere que quem tiver interesse em conhecer mais sobre os santos reze as novenas dedicadas a cada um deles. “Rezem com muita fé, temos novenas de vários santos e que fortalece muito nesse momento que estamos passando. A gente sempre aprende e conhece um pouco mais do santo do dia”.
SANTIDADE
Para o vigário da paróquia de Santo Antônio de Lisboa, frei Haroldo Pimentel, os fiéis têm buscado viver a sua santidade no tempo presente. “Testemunhando o amor a Jesus Cristo e ao próximo através das virtudes cristãs”, analisa. “É o caso de Santa Dulce, de Madre Teresa de Calcutá, São João Paulo II e mais recentemente Carlo Acutis. Eles compreenderam que Deus é santo e nós somos chamados a sermos santos como nos diz Jesus Cristo no evangelho. Porque vosso Pai é santo. E para sermos santo, não precisa fazer nada de extraordinário, basta viver os valores que Cristo nos ensinou no dia a dia”.
Frei Haroldo lembra que os santos são intercessores junto de Deus. “Pela nossa fé acreditamos que estão junto de Deus. São exemplo de vida a ser imitados por nós, peregrinos que estamos a caminho”, prega. “Ao venerarmos um santo, nos espelhamos, nas virtudes deles, para que também um dia cheguemos ao convívio dos santos, a Jerusalém celeste, nossa morada definitiva”.
Sobre o Dia de Todos os Santos, o religioso avalia que é um momento de reflexão. “É uma oportunidade que a igreja nos oferece para refletirmos sobre o processo de santidade, a que fomos chamados pelo batismo. Todos nós somos chamados a ser santos”, diz.
“O que ocorre é que muitas vezes deixamos sobressair em nós aquele lado que não condiz com a santidade o lado das nossas limitações e fraquezas. Além disso, o lado da santidade que temos precisa ser exercitado e ampliado, até que todo nosso ser seja santificado e alcancemos, assim, aquilo que muitos de nossos irmãos santos já alcançaram”.
O QUE PRECISA PARA SER SANTO
A canonização é o termo jurídico de um processo para afirmar que uma pessoa é santa na Igreja Católica. Os considerados santos pela igreja viveram em profundidade o mandamento do amor ao próximo.
- O primeiro processo é o das virtudes ou martírio, onde é feita uma investigação minuciosa da vida do servo de Deus, verificação a fundo da vivência, das virtudes. Já no caso de um mártir, deve ser estudada a circunstância que envolveu sua morte para comprovar se houve realmente martírio. Ao término desse processo, a pessoa é considerada venerável.
- O segundo processo é a beatificação. Para se tornar beato, é necessário comprovar um milagre ocorrido, por sua intercessão. No caso dos mártires não é necessário a comprovação de milagres.
- O terceiro e último processo é o milagre para canonização. Ele tem que ter ocorrido após a beatificação. Comprovado esse milagre, o beato é canonizado e o novo santo passa a ter um culto de veneração universal.
HISTÓRIA
A palavra “santo”, na sua origem, quer dizer “separado”. No Antigo Testamento, Deus é Santo, aquele que não se confunde com o mundo; no Novo Testamento, santos e santas são os que fazem parte das comunidades cristãs, os batizados. Com a expansão do cristianismo para o mundo greco-romano e com as perseguições, os mártires são vistos como santos, isto é, como testemunhas da fé; no século IV, na aliança com o Império Romano, se traçam estratégias de superar o politeísmo religioso, e os santos passam a substituir as divindades greco-romanas.
SANTOS BRASILEIROS
A primeira santa considerada brasileira foi Santa Paulina, cujo nome de batismo era Amabile Lucia Visintainer (1865-1942). Ela nasceu na Itália, mas morou no Brasil, entre Santa Catarina e São Paulo, sendo canonizada em 2002.
O frade franciscano Antônio de Sant’Ana Galvão (1739-1822), o Frei Galvão, é o primeiro santo nascido no Brasil. Já Santa Dulce dos Pobres, canonizada no ano passado, viveu na Bahia, onde seu trabalho social existe até os dias atuais.
EM NÚMEROS
Existem mais de 20 mil santos e beatos reconhecidos oficialmente pela Igreja Católica em todo mundo.
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