No mês em que se comemora o papel da mulher pelas conquistas de direitos e espaços para o desenvolvimento do protagonismo em diferentes caminhos, a história de uma jovem paciente do Hospital Oncológico Infantil, em Belém, é um exemplo de superação.
Aos 16 anos, e perto de ingressar no vestibular, Dandhara dos Santos foi diagnosticada com sarcoma de Ewing, um tumor raro que ocorre nos ossos ou em partes moles do corpo, afetando, principalmente, crianças e adolescentes. De acordo com Instituto Nacional de Câncer (INCA), esse tipo de câncer registra menos de mil casos por ano no Brasil, com incidência em torno dos 15 anos.
Com a doença, Dandhara precisou mudar completamente a sua rotina. Trocou as horas de estudo, por horas na sala de quimioterapia e corredores do hospital.
Ela começou o tratamento em 2016, na rede particular de saúde no município de Ananindeua, Região Metropolitana de Belém, no Pará, mas depois de dez meses, foi transferida para o Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, referência no tratamento de pacientes com câncer infantojuvenil no Norte do País.
“Passei minha vida toda estudando e de olho no vestibular. Quando fui diagnosticada, minha rotina foi toda abalada. Comecei a usar muleta para andar e passei por um processo longo de tratamento”, ressalta.
Normalmente, o tratamento oncológico também muda bastante a rotina dos familiares, principalmente daqueles que acompanham tudo de perto. Para Maria do Socorro Sousa, mãe de Dandhara, a descoberta da doença e o início do tratamento foi de muito medo.
“Durante o tratamento, senti que tinham arrancado algo de mim. Não era justo. Senti tristeza, medo de perder minha filha, medo de não conseguir lidar [com a situação]”, revela a mãe. “Mas também aprendi que, com o câncer, você não tem tempo para se agarrar ao sofrimento. É uma doença que não dá trégua.”
Entre consultas, exames e quimioterapias, Dandhara e sua mãe resolveram participar do projeto Canto da Empreendedora, uma iniciativa do Hospital Oncológico Infantil e que integra as estratégias na assistência promovida pela Pró-Saúde, gestora da unidade.
O projeto busca estimular o empreendedorismo e a autonomia financeira dos acompanhantes dos jovens em tratamento, formada em sua maioria por mães, que muitas vezes precisaram se afastar dos seus empregos e do próprio lar.
A mãe de Dandhara é esteticista e deixou o trabalho para ficar ao lado da filha durante o tratamento. Sem ter uma renda fixa, as duas resolveram empreender e, por meio da ideia de uma colaboradora, criaram uma linha de alimentos saudáveis.
A descoberta de uma nova atividade
Dandhara conta que a sua mãe era autônoma e que durante o tratamento “mais de 70% da renda da família foi afetada”. Participar do projeto permitia “pensar em outras coisas além da doença”.
O projeto é apresentado aos acompanhantes dos usuários em tratamento no hospital desde 2017, oferecendo palestras para que todos possam adquirir novos conhecimentos e aumentar o retorno financeiro, possibilitando um retorno ao cotidiano de maneira natural e mais segura.
Para Fábio Machado, diretor Hospitalar do Oncológico Infantil, o Canto da Empreendedora vai além do empoderamento. “O tratamento para muitos pacientes é longo e doloroso, desenvolver essas ações traz um respiro para quem sofre junto, é uma maneira de olhar para o futuro e dizer que existe algo além das paredes do hospital”, diz.
Hoje, com 21 anos, Dandhara está no seu segundo ano de remissão do câncer, já prestou outros vestibulares e passou, mas por conta do tratamento e da prótese que precisa, resolveu esperar.
O trabalho realizado no Oncológico Infantil tem o selo da Organização das Nações Unidas (ONU) Mulheres e visa promover a igualdade entre os gêneros e o empoderamento das mulheres.
Ajudando outras empreendedoras
Em razão da pandemia do novo coronavírus, o projeto precisou ser pausado. Porém, com a flexibilização no estado do Pará, a atividade voltou com uma nova modelagem seguindo todos os protocolos sanitários.
“Devido a Covid-19, precisamos reaprender a viver e encarar as situações de outras formas e foi isso que fizemos com o projeto. Todos os protocolos são seguidos à risca, as vendedoras usam máscaras, além de ter álcool em gel disponibilizados nas bancadas”, revela Karla Luiz, coordenadora do projeto.
O Dandhara’s Alimentação Saudável, que já vendia seus produtos online, também precisou inovar nos negócios: começou a fornecer cardápios virtuais e investir nas redes sociais. O resultado foi tão positivo que o empreendimento aumentou a capacidade de produção e, agora, vai ajudar outras empreendedoras da iniciativa a vender nas plataformas digitais.
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