Já pensou em pegar um carro e sair dirigindo por aí fazendo fretes? Parece comum, né? Mas, e quando se trata de uma "freteira"? Pois é, além de lidar a violência, os medos, a mulher também precisa também enfrentar o machismo e o preconceito.
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Mas, tudo isso, agora, é fichinha para dona Júlia Telma Martins da Silva, de 49, anos. Há quatro anos, ela é a dona do próprio negócio, fazendo fretes por Belém, no Pará, transportando cargas pequenas em seu veículo.
Trânsito do grande centro urbano. Carregando e descarregando. A rotina pode até ser cansativa, estressante. Apesar de ter quem diga que "isso não é coisa de mulher", dona Julia deixou para trás todos os palpites "disfarçados" de preconceito que ouve todos os dias.
"Algumas pessoas me tratam mal, principalmente os homens do mesmo ramo, mas também recebo muitos elogios de fregueses", conta dona Júlia, mãe de três filhos.
E dona Júlia já enfrentou muito coisa para continuar na profissão, inclusive, xingamentos e agressões. "Levei uma vez um bofetão no rosto porque eu tava embarcando uma mercadoria, aí eu tava empatando os outros saírem, aí ele foi lá, começou a me desmoralizar, falar um monte de palavrões e de aí quando eu me levantei, ele me deu um bofetão na minha cara, mas todos os outros homens ficaram só olhando o cara me batendo", relembra ela.
E lá, já na delegacia, a "freteira" também enfrentou o machismo estrutural e discriminação. "Parece que os policiais, delegados têm o mesmo preconceito. Disseram que não podiam fazer nada, só se fosse alguma coisa gravíssima, se ele tivesse quebrado a minha cara, me arrebentado toda ou me matado. Aí eu fiquei revoltada", conta ela.
Dona Júlia começou a trabalhar com fretes, depois que sua barraca, onde vendia comida, na praça dos Estivadores, foi remanejada. Ela começou a trabalhar no Ver-o-Peso, mas não se adaptou. E foi, então, no dia que recebeu uma ligação de um amigo, que ela viu no frete, uma possibilidade de trabalho e renda para a família.
"Um dia, eu estava lá debruçada no balcão um amigo me ligou pedindo para transportar açaí para um amigo dele. Aí o homem me deu cinquenta reais. Eu peguei o dinheiro, voltei para o meu ponto, guardei as comidinhas que tinha lá em cima do balcão e fui embora para casa. Quando foi duas horas da madrugada, fui embora lá para Ver-o-Peso. Foi assim que começou. Aí até hoje, aos trancos e barrancos, com porradas e tabefões e e choros, estou aqui sobrevivendo", vibra dona Júlia.
VIRAL
A "freteira" viralizou esta semana após uma publicação feita no Twitter, por Sheila Melo, uma de suas clientes. Na postagem, ela conta que precisou transportar uma máquina de levar e contou com a ajuda de dona Júlia, que teve seus serviços indicados.
Essa é a Dona Júlia, faz fretes em Belém. Hj precisei transportar uma máquina e ela ajudou, no caminho ouvi seus vários relatos de preconceito por ser "freteira" disse q ouve todo dia q isso não é coisa de mulher...
— Sheila de Souza Corrêa de Melo (@segueasheila) July 3, 2021
Se vc precisar de um frete pequeno chama ela ❤@belemtransito pic.twitter.com/PUcnaNMKBH
"Se você precisar de um frete pequeno, chama ela", na publicação, que teve mais de 2 mil curtidas e inúmeros comentários, elogiando o trabalho da "freteira".
"Vou salvar o contato porque sempre preciso desse tipo de serviço. Todo trabalho é coisa de mulher sim!", disse uma internauta. "Quando tiver em Belém vou chamar. Que guerreira!", disse outro. "Vou já passar pra mudança da minha mãe", disse mais um.
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