
A fachada do casarão localizado na Passagem Pedreirinha, no bairro do Guamá, ainda preserva a arquitetura do final do século XIX e início do século XX. Quando a porta se abre é mãe Eloísa quem dá as boas-vindas. Acolhedora, faz da casa dela a casa de todos os que a procuram. Tem sido assim desde que assumiu a liderança do lugar, há sete anos. Mãe Eloísa é quem cuida do Terreiro de Mina Dois Irmãos, o mais antigo templo afro-religioso do Pará, e acaba de completar 131 anos de fundação. A instituição é tombada pelo Departamento de Patrimônio Histórico Artístico e Cultural do Governo do Estado. O aniversário foi no último dia 23, mas a programação comemorativa segue até este sábado com uma festa dedicada à cabocla Herondina.
O terreiro é mais que um símbolo da cultura e da religiosidade afro-brasileira, é um símbolo de resistência. “Aqui a gente preza pelo respeito. Respeito entre as pessoas, respeito entre as instituições”, ressalta a Mãe Eloísa. “Acho que isto tem sido uma das coisas que mais temos trabalhado nesta casa. Temos de amar ao próximo, a cuidar mais uns dos outros”, comenta. Enquanto conversa, a líder religiosa pega uma imagem centenária de São Benedito, que no sincretismo religioso é Toy Averequete, um dos guias do templo. A imagem foi trazida pela fundadora do terreiro, a mãe Doca, que esteve à frente da casa por quase 40 anos. Depois dela, quem assumiu a chefia da casa foi sua filha de santo, que se tornou mãe Amelinha.
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De mãe Amelinha a liderança passou para a sua filha biológica e de santo, mãe Lulu - que hoje tem 86 anos de idade e está com Alzheimer. Devido à sua condição, foi mãe Eloísa (filha biológica e de santo de Lulu) quem assumiu a liderança do terreiro de Mina Dois Irmãos.

Neste sentido, o terreiro já está na quarta geração e tem à frente sempre uma mulher. “Na verdade, não somos nós quem escolhemos. São os caboclos e os orixás que nos escolhem”, explica mãe Eloísa.
LIDERANÇA
A pesquisadora da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Taissa Tavernard, cita essa liderança exclusivamente de mulheres como um ponto importante a ser observado sobre a trajetória do terreiro Dois Irmãos. “É muito característico. Também é importante destacar que é o único terreiro tombado em toda a Amazônia. No Brasil, os outros terreiros de mina tombado ficam em São Luís (MA) e na Bahia”, acrescenta.
Taissa estuda as religiões no Brasil, principalmente as de matriz africana. Sobre o terreiro mais antigo, ela cita que outra particularidade foi ele se manter mesmo após a morte de quem o fundou, no caso a mãe de santo Doca. “Poucos são os terreiros que sobrevivem depois da morte do fundador”, disse.
SERVIÇO
Neste sábado, o terreiro encerra a programação de aniversário com uma festa dedicada à cabocla Herondina. A celebração começa a partir das 21h, com número reduzido de pessoas por causa da pandemia.
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