Uma das expressões das mudanças ocorridas no processo de urbanização de Belém a partir do final da década de 1930 e início da década de 1940, a avenida Presidente Vargas guarda inúmeras memórias que, ainda hoje, podem ser vivenciadas em uma rápida caminhada pela via extensa. Em meio às copas das mangueiras que margeiam a avenida, ainda é possível ver edificações que ajudam a contar parte da história do processo de urbanização de Belém.
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Antes que chegasse à atual nomenclatura que homenageia o ex-presidente da República Getúlio Vargas, a avenida que hoje é uma das mais conhecidas do centro de Belém recebeu o nome de Avenida 15 de Agosto, em alusão à adesão do Pará à Independência do Brasil. Professor do curso de história da Universidade da Amazônia (Unama), Diego Pereira Santos explica que essa mudança para Av. 15 de Agosto se deu ainda em 1916 e esteve relacionada com o período de intensa comercialização da borracha.
“A borracha teve uma importância muito grande na Amazônia e, pelo menos até 1912, ela teve um grande despertar para essa urbanização efetivamente da cidade de Belém”, explica. “Em 1912 a borracha entra em crise e interrompe esse período de grandes mudanças urbanísticas na cidade de Belém, mas, com a Segunda Guerra Mundial, já entre 1939 e 1945, a gente vai ter um revigoramento, até porque a ideia era reativar muitos seringais que tinham na Amazônia até aquele período”.
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A partir desse período, portanto, observa-se uma mudança urbana na cidade de Belém, já na década de 40, e a avenida Presidente Vargas, segundo aponta o professor, é uma das expressões desse momento, dessas transformações que já são mais próximas do que se vê hoje em relação ao cenário urbano. “Inclusive, não havia grandes prédios em Belém naquele contexto. O primeiro lugar onde vai iniciar essa ideia de se ter grandes prédios em Belém é exatamente na Presidente Vargas, quando foram construídos, lá em 1945, dois grandes edifícios”.
Diego aponta que, antes disso, havia uma determinação de que os prédios construídos ao longo da avenida não poderiam ultrapassar o gabarito de 12 andares. Foi neste período, inclusive, que foram construídos os Edifícios Piedade e Renascença, que tinham efetivamente este tamanho e que ainda hoje podem ser vistos na esquina da Presidente Vargas com a rua Riachuelo. “Depois isso foi mudando. Ainda naquele momento era a avenida 15 de Agosto e aí você tem essa mudança para Presidente Vargas”.
A via ganha efetivamente o nome de Presidente Vargas já na década de 1950, passando a uma forma de organização mais próxima da vista hoje. “A estrutura que a gente vê hoje já é uma estrutura mais próxima dessas mudanças ocorridas na década de 40, 50 e 60, onde você vai ter mais presente essa ideia dos arranha-céus”, aponta Diego.
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CENÁRIO URBANO
“A gente pode pensar que na cidade de Belém que vem nesse período pós-borracha, a ideia é essa experiência da Presidente Vargas relacionada ao cenário urbano. Ela vai acompanhando essas mudanças urbanísticas, inclusive em relação ao tamanho dos prédios, porque já na década de 60 e 70 vai se permitindo que os prédios maiores fossem criados. É o caso, inclusive, do próprio Manoel Pinto da Silva que já ultrapassa esse gabarito de 12 andares que havia”.
Na arquitetura, na forma de organização dos espaços e no próprio uso, a avenida Presidente Vargas consegue apresentar diferentes momentos da cidade de Belém. “É uma avenida que tem, hoje, uma presença muito forte enquanto centro urbano, não é à toa que há uma disputa em relação ao território entre o Estado e as pessoas em relação ao uso das calçadas, das transversais que a cortam, então, é uma das ruas que contam ou ajudam a contar essa história de uma Belém republicana”.
Em um dos pontos mais icônicos da avenida, a Praça da República, o chaveiro José Maria da Silva, 73 anos, acompanha parte das mudanças mais recentes vivenciadas na Presidente Vargas. Trabalhando há 27 anos em uma das bancas de revista instaladas na praça, ele conta que a avenida foi ficando mais organizada com o passar do tempo.
“O que mudou muito foi o movimento de carros que hoje é bem maior do que há 27 anos. Mas a avenida mesmo ficou mais bonita, melhor do que era na época que eu vim para cá”, avalia. “Eu gosto muito daqui porque todo o movimento da cidade passa por aqui, dia e noite”. Para além das observações da Belém de hoje, José Maria lembra que a avenida guarda muito da memória da cidade de um tempo que ele não conheceu pessoalmente, mas que admira. “Aqui era onde passava o bonde, tem muito prédio antigo ainda, prédios muito bonitos”.
Do outro lado da avenida, um empreendimento instalado às proximidades da esquina com a Rua Carlos Gomes é um exemplo claro da observação feita por José Maria e preserva ainda os armários originais de 1906 da antiga pharmácia. Apesar de hoje funcionar no local uma conveniência, toda a estrutura da farmácia está preservada. No topo dos armários, inclusive, ainda é possível ver a inscrição dos nomes de antigos remédios da época. “Tem pessoas que entram só para perguntar do prédio, admiram a farmácia, acham lindo. Mas a maioria das pessoas que se interessam são os turistas estrangeiros”, conta o atendente Augusto Cantão.
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