Especialistas apontam que para cada R$ 1 investido em Saneamento Básico, o poder público pode economizar até R$ 29 em recursos para outras áreas, inclusive a da Saúde. Aliás, o acesso à saúde é um direito universal garantido pela Constituição Federal de 1988. No entanto, em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, está difícil para a população conseguir um serviço de qualidade nesta área. Há postos de saúde funcionando em condições precárias, colocando em risco os usuários e os trabalhadores.
Na Unidade Básica de Saúde do Conjunto Cidade Nova 6, por exemplo, o mato, lama e lixo pendurado na grade aguardando a coleta são cenas comuns de serem vistas no prédio, que está nítida e visivelmente em situação de abandono pela prefeitura. No terreno por trás, um lixão a céu aberto atrai roedores e baratas para o posto.
Do lado de dentro a situação é ainda pior. As paredes apresentam infiltrações em algumas salas. As macas onde os usuários precisam deitar para receber atendimento estão enferrujadas e várias cadeiras estão quebradas. Isto sem falar dos problemas na fiação elétrica.
Para conseguir trabalhar, as agentes comunitárias de saúde contam com cadeiras e mesas que foram doadas por uma escola, de um material que sido jogado fora porque não estão em condições de uso pelos alunos. Os trabalhadores temem dar entrevistas e denunciar o descaso, pois podem sofrer represálias e exonerações por parte da administração municipal - que tem à sua frente um médico, inclusive.
Apesar de IPTU cobrado, comunidade pena sem saneamento
O universitário Denilson Barreto, de 24 anos, que foi ao posto completar o esquema de vacinação contra a covid-19, ficou assustado com o que viu. "Estava chovendo e a rua, em frente ao posto, estava parcialmente alagada. Tive de meter os pés na lama e o pior é que a água se mistura com a lama do lixão que fica por trás do prédio", relatou. "Quando saí a primeira coisa que fiz foi lavar os pés por causa da contaminação e não é uma contaminação hospitalar", atentou.
Outro fato que chamou a atenção do usuário foi ter visto um saco de lixo pendurado na grade em frente a unidade, localizada na Travessa WE 80. "O saco é preto e não dá para ver quais tipos de resíduos estão sendo despejados junto com o lixo domiciliar. Até onde eu sei, os resíduos deveriam ser recolhidos por uma empresa especializada, pois podem haver seringas, algodão sujo de sangue neste lixo", ressaltou o morador.
Gestora de UPA em Ananindeua é denunciada por assédio moral
Ele não reclamou do atendimento. Até elogiou as funcionárias que o receberam. "Foi rápido. Deu para perceber que elas (as técnicas) trabalham porque gostam do que fazem, mas não é errado dizer que trabalham num ambiente totalmente insalubre. Nem luvas elas tem", observou.
Paciente tenta conseguir cirurgia
Os problemas no serviço público de saúde de Ananindeua não se limitam a situação de abandono da UBS da Cidade Nova 6. No posto de saúde da Cidade Nova 2, a demora para conseguir uma cirurgia tem feito a dona de casa Thaís Costa, de 37 anos, peregrinar para conseguir o agendamento do procedimento.
"Eu fiz a consulta na Policlínica e o médico me deu o encaminhamento para a cirurgia. Entreguei o encaminhamento e meus dados no Posto de Saúde que fica na Cidade Nova 2, mas até agora não consegui dar prosseguimento. A assistente social me disse que leva meses para conseguir a consulta com o cirurgião", relatou.
Remédios devem subir 10% em abril; veja a lista!
Thaís tem tido crises e dores. "Às vezes não consigo nem andar", descreve. Ela já procurou a Unidade de Saúde outras vezes para saber a que tantas está o seu processo para fazer o tratamento, mas não teve resposta. "Só pedem para eu esperar e o meu quadro não me permite mais esperar tanto", atentou.
O DOL solicitou um posicionamento da prefeitura, que emitiu uma nota afirmando que, sobre o posto da Cidade Nova 6, "foi feita a limpeza e assepsia do local recentemente. Sobre os resíduos, a Prefeitura de Ananindeua trabalha com uma empresa terceirizada para fazer este serviço, o que tem sido feito normalmente".
A Prefeitura de Ananindeua ainda afirmo que "tem um cronograma para reformar todas as Unidades de Saúde do município, e segue trabalhando para tal", mas não informou qual a data prevista para a reforma segundo tal cronograma.
Sobre o caso de Thaís, a prefeitura inicialmente afirmou que "foi verificado em nossos sistemas que não constam registros de consultas no sistema do município de Ananindeua sobre a paciência, o que consta no sistema é que a mesma faz tratamento em Belém, e é do município de Chaves" e que "haviam consultas dela marcadas na policlínica de Belém e ela não compareceu", embora a paciente tenha apresentado à reportagem o encaminhamento recebido da policlínica.
Posteriormente, a prefeitura mandou uma atualização da nota afirmando que "foi verificado na Unidade Básica de Saúde Paulo Frota (na Cidade Nova II) que a paciente deu entrada ontem na unidade, e será feito os tramites necessários para o procedimento, por se tratar de uma cirurgia eletiva".
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar