O alto preço do açaí da capital tem pesado no bolso dos consumidores de Belém. O litro do açaí do tipo médio, por exemplo, custava em média R$ 18,65 em dezembro passado. No início deste ano, em janeiro, o produto era comercializado a R$ 22,04 e em fevereiro, R$ 23,05, o que corresponde a uma alta de 4,58% somente em 2022, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/PA).
Preço dos alimentos também vai subir no Pará
Na Feira do Açaí, localizada no Complexo Ver-O-Peso, o preço do paneiro do fruto varia entre R$ 60 a R$ 90, a depender da qualidade, que pode ser natural ou gelado, da localidade em que foi coletado pelos produtores e das condições de transporte. Nessa época de entressafra, marcada pela baixa produtividade do produto, o fruto comercializado na feira vem, principalmente, do município de Anajás, na Ilha do Marajó, e de Macapá. O deslocamento é feito majoritariamente por embarcações que transportam de 700 a cerca de 2 mil latas para a venda no espaço. A feira é um importante polo de descarregamento do fruto que é vendido nos pontos de produção artesanal dos bairros e consumidos pela população da capital.
Litro do açaí teve alta de mais de 18% no início de 2022
Geralmente, os produtores produzem o fruto no interior do Estado, que gera de 20 a 30 paneiros no período da entressafra. Os barqueiros recolhem os paneiros do fruto e os trazem nos barcos. Já na Feira, os atravessadores compram o açaí diretamente dos barqueiros e vendem, no local, para os batedores dos pontos de açaí da capital. Há aqueles que fazem parte da rede de negócios do açaí e pagam os barqueiros para trazerem as latas de 14 quilos do fruto diretamente para eles, sem passar pelos vendedores da feira. Esses mesmos empresários também podem revender o fruto para que as fábricas produzam as polpas de exportação para o resto do país.
O açaí vendido por Lucas Dias, de 54 anos, vem todo dia do município de Anajás, na Ilha do Marajó, chegando a R$ 70 cada paneiro. Segundo ele, as circunstâncias de encarecimento do fruto têm dificultado a venda no local. Para não sair no prejuízo, o vendedor tem contado com uma estratégia para driblar a baixa procura e vender o produto. “Pelo menos hoje tá ruim a venda, tá saindo a R$ 70, mas tá fraco. Aqui nem que seja barato tem que vender. Se não tiver como vender aqui, a gente dá um jeito de vender para a fábrica, que é só ligar para o cara e ele já vem buscar e sai nos caminhões. Aqui a gente compra de vários produtores de lá. Às vezes compra dez, compra quinze, vinte, compra cinquenta, mas depende do dia. A venda tem diminuído durante o período e tem dias que sai até mais caro”, esclarece.
Edielson Santos, 40, vende o açaí de várias localidades do Estado e região Norte, que demoram cerca de uma semana para chegar à capital. O paneiro do açaí gelado vindo de Macapá custa R$ 80 reais. Já o açaí natural, que tem melhor qualidade, vindo do município de Peixe-Boi e Anajás, sai entre R$ 75 e R$ 80. “A gente consegue pegar dos barqueiros em torno de 150 a 200 latas por dia. Pelo preço até que tá saindo. Vai devagar, mas vai saindo. Se a gente não consegue vender, a gente escolhe o melhor e vai dando uma baixada nesse preço, a gente dá um jeito de gelar, faz fiado para algum cliente, só não pode deixar de vender”, afirma o atravessador.
No mesmo espaço, também trabalha Ronaldo Martins, 47, que explica que o preço do fruto vendido na feira depende das condições de transporte. “O preço do açaí é muito relativo. Você anda de ponta a ponta aqui na feira e vai encontrar dez preços de açaí porque cada barco oferece uma condição para o atravessador negociar. Quem paga o pato é o consumidor. O atravessador pega o açaí no escuro e é maior polêmica na hora de acertar com o barqueiro. O consumidor vai tomar e não sabe nem qual é o tipo do açaí que ele tá tomando”, explica.
O empresário Paulo Maciel, de 22 anos, é batedor e distribuidor do açaí. Nos pontos de venda, o açaí produzido é encontrado a R$20 o litro do açaí do tipo médio. Segundo ele, durante a entressafra, o investimento aplicado é alto em comparação com o baixo lucro. “Regularmente, o preço do açaí tá alto. Aqui a gente compra a R$ 85 o paneiro. Em Abaetetuba tá mais caro porque é o açaí natural, que não vem no gelo, tá R$ 100. Hoje eu investi aqui R$ 5.600, mas varia muito, tem dias que eu compro até 10 mil”, afirma.
O batedor artesanal Waldinei Ribeiro, 55, levava dez paneiros do fruto para a produção de 50 litros do açaí que seriam vendidos no bairro da Pratinha. Ele confirmou que o preço do açaí está diretamente atrelado à época e a saída é acompanhar o preço do fruto para não sair no prejuízo. “Isso aqui depende muito. Depende da qualidade, depende do dia, tem dia que é mais caro, tem dia que é mais barato. Hoje tá saindo até R$100, o gelado. Com a entressafra não tá muito bom não, mas dá pra trabalhar e sai a R$20 ou R$30, o litro, o médio. Quando tá caro não tem como vender barato, até o mais fraco vende caro também. A entressafra sempre foi problema. A produção falha mesmo, não tem como fazer muita coisa porque é pouco o açaí. Então a gente não pode interferir”, finalizou.
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar