Célia Maria (nome fictício) estava dormindo quando foi acordada pelo som de muitos latidos rua em que mora, no bairro do Jurunas, em Belém. Ao correr para a janela na madrugada do dia 23 de maio, por volta das 3 horas da manhã, ela viu uma dúzia de cães amontoados próximos ao portão do sobrado onde mora. No meio da matilha, um gato. Foi então que decidiu descer as escadas correndo e começou a gritar “para tentar separar os cachorros e salvar o gato”, explicou.
Uma vizinha, empunhando uma vassoura, se juntou a ela e ambas conseguiram espantar os cachorros e resgatar o gato "cheio de baba, sangue e coberto de marcas de mordidas", contou Célia Maria. O animal, porém, já estava morto. Acabara de se tornar mais uma vítima da “Gangue do Espetinho” - apelido dado à matilha, que desde o início do ano vem dizimando a população de gatos domésticos e em situação de rua, nos bairros do Jurunas, Batista Campos e Cremação, em Belém.
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A reportagem usa nomes fictícios porque as fontes temem sofrer represálias dos tutores dos cães. O caso já foi denunciado à Divisão Especializada em Meio Ambiente e Proteção Animal (DEMAPA-PA), que deve encaminhar a investigação para a Seccional do bairro do Jurunas.
“Nos disseram que como não se trata de um caso de maus tratos, mas simplesmente de uma briga entre animais, a Demapa não poderia fazer nada a respeito. Por isso, iriam encaminhar a denúncia para a delegacia ou seccional do bairro”, explicou a cuidadora de animais.
Por conta própria
Após aquele primeiro encontro com a matilha assassina, Célia Maria iniciou uma investigação por conta própria. Segundo ela, ao todo, cerca de uma dúzia de cães, do tipo vira-lata, fazem parte do grupo. “Comecei a investigar esses cachorros. O comportamento deles é muito parecido com o de cães de caça. Eles andam em grupo, que pode variar entre oito, dez e até 12 indivíduos. Enquanto eles farejam, sempre ficam em silêncio e só começam a latir quando avistam um ou mais gatos e iniciam o ataque”, revelou.
Ela já chegou a seguir a matilha durante a madrugada, na tentativa de encontrar seu ponto de origem e identificar seus tutores. Em certas ocasiões, até tentou evitar alguns ataques. “Como os cachorros aparentam ser bem cuidados, desde o início pensei que eles seriam mantidos em casa durante o dia e que, à noite, seriam soltos pelos tutores. Isso porque eles só eram vistos entre meia-noite e 5 horas da manhã”, detalhou.
No entanto, Célia Maria revelou que no último final de semana a matilha foi vista durante o dia, na esquina da rua dos Mundurucus com a travessa Doutor Moraes, em Batista Campos.
“Acredito que a repercussão do caso, após a publicação da matéria do DOL e as denúncias feitas por meio das redes sociais, na semana passada, alertou os tutores e agora eles estão deixando os animais o dia todo na rua”, ponderou.
Treinados para caçar?
Outro morador do Jurunas, que também iniciou uma investigação por conta própria, Zé Carlos, Para (nome fictício), concorda com Célia Maria no que diz respeito à semelhança do comportamento da “Gangue do Espetinho” com a de cães de caça.
“Como viajo constantemente para o Marajó, já pude ver como os cachorros são treinados para caçar. E o que essa matilha tem feito aqui em Belém é muito parecido. Por exemplo, em caçadas, os cães não matam a presa para comer. Eles abatem o animal e deixam ele no local ou o levam para seus donos. E é justamente o que esses cachorros estão fazendo aqui. Eles não matam para se alimentar”, explicou Zé Carlos. “Não parece um comportamento natural”, reforçou.
Outro sinal de treinamento, segundo a testemunha, seria o fato dos cães não atacarem humanos.
“A matilha só é agressiva durante os ataques contra os gatos. Nunca atacam ou latem para as pessoas. Pelo contrário, se são confrontados por alguém eles fogem”, contou o morador, que apesar disso não recomenda que as pessoas interajam com os animais. “Os animais são imprevisíveis”, alertou.
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