O presidente Jair Bolsonaro (PL) ignorou as suspeitas levantadas na investigação sobre o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e, durante discurso em evento evangélico em Balneário Camboriú (SC), repetiu neste sábado (25) que as eleições de 2022 representam uma "luta do bem contra o mal".
Bolsonaro pediu a apoiadores que não se arrependam por não terem atuado e, logo após fazer a defesa do armamento da população ao público religioso, citou passagem bíblica em que Jesus conclama seus discípulos a vender suas capas e comprar espadas.
Bolsonaro discursou por cerca de 20 minutos, mas não fez nenhuma referência à prisão de Ribeiro, que é pastor evangélico, nem às suspeitas de que avisou o ex-ministro de operação da Polícia Federal para investigar corrupção no governo.
Ribeiro foi preso preventivamente na quarta (22) e solto por habeas corpus do STJ (Superior Tribunal de Justiça) no dia seguinte. As investigações miraram também os pastores ligados a Bolsonaro Gilmar Santos e Arilton Moura, por suspeitas de criação de um balcão de negócios no MEC.
Durante as investigações, a Polícia Federal interceptou telefonema do ex-ministro à filha, contando que Bolsonaro lhe disse que estava com "pressentimento" de que iriam atingi-lo por meio da investigação. Ribeiro disse também que Bolsonaro relatou achar que haveria uma operação de busca e apreensão. O advogado do presidente, Frederick Wassef, nega que a conversa tenha ocorrido.
A suspeita de interferência de Bolsonaro levou a Justiça a encaminhar a investigação para a análise do STF (Supremo Tribunal Federal).
Em seu discurso neste sábado, Bolsonaro preferiu focar temas caros ao eleitor religioso, como aborto, que se tornou um dos alvos das redes sociais bolsonaristas com o caso da menina de 11 anos que vinha sendo impedida de abortar pela Justiça de Santa Catarina.
"Um lado defende o aborto, o outro é contra. Um lado defende a família, o outro quer cada vez mais desgastar os seus valores. Um lado é contra a ideologia de gênero, o outro é favorável. Um lado quer que seu povo se arme para que cada vez mais se afaste a sombra daqueles que querem roubar essa nossa tão sagrada liberdade", afirmou.
"E eu tenho dito: um povo armado jamais será escravizado. Vendam as suas capas, comprem espadas, está naquele livro que nós chamamos de Bíblia Sagrada", completou o presidente, que depois afirmou "ter um exército" de quase 200 milhões de brasileiros.
A maior parcela da população, no entanto, reprova a gestão Bolsonaro, que se mantém como o presidente eleito pior avaliado a essa altura do mandato desde a redemocratização.
Segundo pesquisa Datafolha feita em 22 e 23 de junho, Bolsonaro tem sua gestão rejeitada por 47%. Eram 48% em 25 e 26 de maio, na rodada anterior.
Aqueles que o acham regular oscilaram de 27% para 26% no período, enquanto quem o aprova com a avaliação de que faz um governo ótimo ou bom foram de 25% para 26%.
Neste sábado, Bolsonaro voltou a dizer que "é melhor perder o oxigênio do que a liberdade" e afirmou que "não podemos aceitar passivamente aqueles que querem impor a sua vontade sobre nós", citando a Venezuela e outros países sul-americanos governados pela esquerda.
"Não podemos esperar chegar a 2023 ou 2024 e olhar para trás, nós aqui, e perguntarmos a nós mesmos o que nós não fizemos para chegar a essa situação difícil", afirmou.
Segundo a pesquisa Datafolha, ​o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 19 pontos de vantagem sobre Bolsonaro nas intenções de voto no primeiro turno (47%, contra 28%).
Em Santa Catarina, na entrada para a concentração do evento, foi esticada uma bandeira branca com o símbolo comunista no meio e um risco vermelho de "fora", com as palavras "não são bem-vindos".
Alvo de investigações no inquérito das fake news do STF (Supremo Tribunal Federal), o militante bolsonarista Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão, estava presente. No palco, além de políticos aliados, estavam a primeira-dama Michelle Bolsonaro e o empresário Luciano Hang.
Um grande número de pessoas vestia camisetas verde-amarelo ou da seleção brasileira e carregavam bandeiras do Brasil amarradas nas costas ou nas mãos. Algumas pessoas levavam toalhas com o rosto do presidente estampado e com os dizeres "fechado com Bolsonaro".
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