O momento da formatura vive no imaginário de milhares de estudantes universitários, especialmente quando a conquista vem à base de muito esforço e superação pessoal, com desejo de conseguir o diploma e iniciar as mudanças para melhor na própria vida.
Após realizar a conquista da graduação em Serviço Social, uma estudante da Universidade Federal do Pará (UFPA) publicou as fotos da formatura nas redes sociais. Mas, fugindo do que é comum de ser visto entre outros formandos, Lais Ribeiro Gama, de 30 anos, resolveu valorizar suas origens e fez seu ensaio fotográfico nas ruas de sua "baixada", na comunidade Irmã Dulce, localizada no conjunto Eduardo Angelim, em Belém.
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As imagens e o texto da legenda despertaram a atenção dos internautas, que enalteceram a atitude da jovem e a publicação, feita em 21 de junho, acabou viralizando nas redes sociais. Até a noite desta quarta-feira (29), o post de Lais conta com cerca de 9 mil compartilhamentos no Facebook.
Na foto, usada como perfil da estudante na rede social, Laís aparece vestida com a beca e capelo e segura o canudo com o nome de seu curso, enquanto caminha em uma rua de "piçarra", sem asfalto, saneamento básico ou qualquer infraestrutura urbana. No texto, ela defendeu o motivo de ter escolhido o ambiente como fundo para seu ensaio fotográfico.
"Eu escolhi fazer as fotos de formatura na minha baixada, porque foi desse lugar onde não passa ônibus, onde Uber não desce e onde não existe saneamento básico que eu caminhei todos os dias rumo à UFPA", inicia a formanda na publicação.
Além das condições precárias da via onde mora, Lais também relatou algumas das dificuldades vividas dentro da própria universidade.
"Eu não tinha computador e meus professores me emprestaram para eu conseguir ser bolsista de iniciação científica e, assim, me manter financeiramente durante a graduação. Eu não tinha internet em casa e minhas amigas abriram as portas das suas casas para eu fazer todos os trabalhos e coletas de dados necessários", afirma.
Assim como muitos estudantes da UFPA, Laís considera a universidade como uma "segunda casa", pois a distância entre o Campus do Guamá e o bairro onde ela morava tornava a estadia na instituição mais longa durante os dias: "a UFPA também se tornou minha casa, porque, devido morar muito distante, era mais vantagem passar o dia todo na universidade e comer no RU (Restaurante Universitário)."
REALIDADE
Apesar da história parecer cair no clichê da frase "quem acredita sempre alcança", Lais é contra tais discursos meritocráticos que buscam valorizar mais a conquista do que a própria jornada de lutas e dificuldades.
"Foi muito difícil terminar essa graduação e não quero que essa dificuldade seja romantizada, porque o discurso da meritocracia é uma farsa. Nem sempre 'quem quer consegue', porque estudar sem ter condições financeira é uma barra e ultrapassar os obstáculos não depende só de nós. Eu fui agraciada por encontrar no meu caminho dentro da UFPA pessoas que me ajudaram a romper as barreiras que as dificuldades financeiras me impuseram. Então não quero que minha história seja usada para reforçar o discurso meritocrático", desabafa.
"Ninguém deveria ter passado por tantas dificuldades para ter acesso a educação de qualidade. Além de passar pelo "crivo" do vestibular, tive que lutar para permanecer dentro da UFPA. Para isso, usufrui de todos os programas para discentes de baixa renda. Recebi auxílio permanência antes de conseguir a minha primeira bolsa de Iniciação Científica, usei o Programa Estudante Saudável para ter acesso a consultas médicas entre outros serviços. Além disso, contei com o apoio de professores/as e amigos/as durante toda a graduação", relata
REPRESENTATIVIDADE
Justamente por ter contado com o apoio de várias pessoas durante os problemas vividos na graduação que Lais é tão grata às suas origens e vê sua conquista como uma vitória coletiva.
"Eu tenho plena consciência que essa foi uma conquista coletiva. Que eu represento a minha família e muitas outras pessoas que não tiveram as mesmas oportunidades que eu. Logo, me sinto na responsabilidade de devolver para a sociedade tudo que recebi dentro da universidade pública. Foi um sonho, sonhado pelos meus, que eu realizei", defende a jovem.
VIRAL
Sobre a repercussão da sua história, Lais conta que seu perfil era privado, mas, a partir do momento em que seus amigos passaram a compartilhar a publicação com o desabafo, notou que várias pessoas se identificavam com a jornada vivida pela estudante. "Decidi abrir as minhas redes sociais para incentivá-las, para que não se sintam sozinhas e que encontrem apoio, como eu encontrei", ressalta.
Já comentando o que fará daqui em diante, Lais revela que conseguiu a aprovação para cursar o mestrado profissional na UFPA como bolsista e visa atuar futuramente como assistente social, profissão a qual a enche de orgulho. "Além disso, meu sonho é ser professora universitária e uma pesquisadora reconhecida. Amo ensinar e amo a pesquisa. Acredito que não há melhor forma de devolver para sociedade tudo que recebi através da educação pública", conta.
Veja a publicação de Lais:
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