A etapa da coleta censitária dos quilombolas iniciou ontem, por todo território nacional. É a primeira vez na história do Brasil que o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai contar com essa população. A pesquisa objetiva a geração de dados oficiais de quantos são e como vivem os residentes quilombolas em todo o país.
O Pará foi uma das cinco localidades brasileiras escolhidas para o evento de abertura, que ocorreu no Território Quilombola Guajará Mirim, no município de Acará, nordeste do Estado. A comunidade representou os territórios quilombolas da região Amazônica, onde o evento foi marcado pela fala de lideranças locais e a presença dos moradores. Ao final, houve uma simulação de coleta feita pela recenseadora Luana Cruz com uma moradora voluntária da comunidade com fins lúdicos e de esclarecimento.
Durante a coleta, serão visitadas 516 localidades quilombolas no Pará, do total de 5.972 localidades distribuídas pelo país. Somente em Guajará Mirim são 194, divididas em seis vilas: Vila Central, Cruzeirinho, Matinha, São Miguel, Vila da Paz e Babacal, além das comunidades ribeirinhas que vivem próximo ao rio Arapiranga. A maioria dos moradores vive do extrativismo de bacaba, pupunha e açaí, além da produção de farinha e da pesca artesanal.
Devido às particularidades que permeiam essas populações, o questionário foi elaborado pensando na realidade em que vivem os povos quilombolas, processo que iniciou ainda em 2016. Para entrar em contato com os povos tradicionais, os recenseadores ainda passaram por um dia de treinamento, em que receberam orientações gerais sobre normas de conduta, circulação nessas áreas, assim como a abordagem adequada das lideranças para a explicação de como funciona o Censo e o entendimento da organização espacial da comunidade.
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“A gente iniciou todo um processo de consulta livre, prévia e esclarecida à população por meio das suas lideranças nacionais, visando um conjunto de adaptações no Censo para poder melhor retratar essa população. Isso envolveu a introdução de uma pergunta de autodeclaração que foi altamente testada na população de interesse. Depois, um conjunto de adaptações na preparação do recenseador para chegar nessas áreas. Em terceiro lugar, o envolvimento das comunidades, que precisavam entender a importância dessa pesquisa e como eles podiam atuar efetivamente como facilitadores desse processo”, explicou Fernando Damasco, porta-voz do IBGE.
PIONEIRISMO
O Pará é pioneiro na organização da metodologia de mapeamento e cartográfica dos territórios quilombolas no Brasil. O estado é marcado pela grande concentração de comunidades, que apresentam organização social muito expressivas e representativas do conjunto de comunidades quilombolas do país. Por isso, para organizar o planejamento de operação censitária, o IBGE contou com o apoio da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).
Segundo Valéria Carneiro, coordenadora nacional do CONAQ e coordenadora estadual de igualdade de gênero das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos (Malungu), a inserção no Censo 2022 faz parte da construção do reconhecimento dessas comunidades pelas unidades federativas do país. Com a abrangência ampliada, a pesquisa deve garantir o levantamento de dados seguros para a criação e manutenção de políticas públicas para essa população tradicional. “Para a gente é muito importante porque faz parte de um processo histórico. Eu faço questão de registrar que o Censo tem 150 anos, a Constituição tem quase 40 anos e somente agora, através de uma luta do movimento quilombola, a gente tem essa conquista. Então, para a gente não é só importante estar no Censo, mas também, em especial, para registrar cada um e cada uma quilombola no Brasil, para que eles possam receber o Censo dentro das comunidades com a particularidade de ser quilombola. É importante também ver como o Censo trata os impactos das mudanças climáticas dentro dos nossos territórios”, afirmou Valéria.
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