De cara, o primeiro desafio foi manusear a primeira máquina na mineração, uma Liber 994, de grande porte, que pesava 250 toneladas.
"Quando eu cheguei aqui eram vários homens. As mulheres que tinham eram do treinamento. Vim para ajudar nesse processo do início da planta e graças a Deus fui muito bem recebida. Não sofri preconceito. Sempre fui elogiada pelos companheiros, pela empresa, então eu me sinto muito honrada por isso. Trabalho numa profissão que gosto, que sempre gostei que é operar equipamentos", destaca Odimária.
Representatividade
Para Karen Santos, socióloga e mestra em ciência política, doutorando em desenvolvimento sustentável do trópico úmido, a presença de mulheres no comando de grandes máquinas representa uma localização do poder, aquilo de mais primitivo e que faz parte do imaginário da virilidade masculina, como a ideia de que ser dominado por uma mulher no campo profissional determina uma fraqueza.
“Há um incomodo muito visível e que faz parte sobre a leveza linguística de qualquer forma de discriminação, exemplo, ‘mulher ao volante perigo constante’, imagina quando se trata do manuseio de grandes máquinas? Isso é importante porque a inferioridade da hierarquia de gênero acaba desqualificando o ser mulher. Errar faz parte do ser humano, mas um homem errando na operacionalização de grandes máquinas na mineração não será recebida da mesma forma que o erro de uma mulher”, alerta a também pesquisadora e professora universitária.
Apesar de parecerem temas atuais e já discutidos, para Karen Santos, a mineração, especificamente, caminha rumo à adequação, mas ainda precisa desenvolver um ambiente de trabalho com inclusão, diversidade e respeito. Para ela, a mulher ocupar lugares que antes eram mais restritos traz um censo de identificação, representatividade e pertencimento.
“A questão é compreender de que forma isso vem se tornando efetivo. Grande parte da extração de minério brasileiro tem como principal destino o mercado externo, os principais parceiros do Brasil são Estados Unidos, Europa – Reino Unido com mais força – e Japão. Quando se fala em aumento da diversidade no quadro funcional e integração das mulheres na mineração, esses dados econômicos têm total influência. Além das políticas públicas de Estado é necessário o enfrentamento enérgico da desigualdade de gênero na escola, família e espaços sociais. Um problema múltiplo requer ações em diversas frentes”, reforça a mestra em ciência política.
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Quebrando tabu: quem disse que é um trabalho de homem?
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