Aos quatro anos de idade, a jornalista Thaiane Martins aprendeu a ler e escrever, por meio do sistema de escrita tátil utilizado pelas pessoas cegas ou com baixa visão: o sistema braille. Frequentadadora há mais de 15 anos da Seção Braille da Biblioteca Pública Arthur Vianna, da Fundação Cultural do Pará (FCP), em Belém, Thaiane afirma que o espaço é uma ótima oportunidade para pessoas com redução ou incapacidade total de visão acessarem novos conhecimentos.“
Desde o ensino fundamental, em 2007, comecei a frequentar a biblioteca do Centur. Trazia o material da escola pra imprimir em braile e ficar em formato acessível para que eu pudesse entender o conteúdo. Esse espaço é de extrema importância, porque aqui nós aprendemos a ter inclusão. Antes de conhecer o trabalho da seção, não tinha acesso a muita informação. A biblioteca abriu para mim diversas possibilidades de conhecimento. Se consegui me formar em 2018 na Universidade Federal do Pará, o papel desse espaço e dos serviços disponíveis aqui foram fundamentais”, conta Thaiane Martins.
Neste sábado (8) é celebrado o Dia Nacional do Sistema Braille, em homenagem ao nascimento de José Álvares de Azevedo, o primeiro professor cego do Brasil, e a Biblioteca Artur Vianna, que há 48 anos oferece diferentes serviços inclusivos, é a principal referência em acessibilidade ao referido sistema de códigos no estado paraense para a integração de pessoas com deficiência visual e no combate à discriminação e ao preconceito. Entre os serviços disponíveis, estão: computadores com sintetizadores de voz que facilitam a navegação e o acesso à internet, digitalização de textos, empréstimo de audiolivros, periódicos e livros em braille, leitura oral, impressões em braille, lupa eletrônica para quem tem baixa visão, máquina braille, dentre outros.
“Essa data é de extrema importância por colocar esse sistema em foco, que garante maior autonomia para uma pessoa com deficiência visual, representa uma identidade, uma identificação, um símbolo por proporcionar a primeira oportunidade de uma pessoa cega poder se expressar, produzir seus textos, ler notícias, livros, revistas. Tem um significado muito grande. Deve ter o respeito merecido por tudo que ele representa e ser utilizado em conjunto com todo o avanço tecnológico”, explica o pedagogo Dailton Helder, servidor da Seção Braille da Biblioteca Arthur Vianna.
Pedro da Silva Neto, 66 anos, bibliotecário de atendimento ao público do Centur há mais de 25 anos, perdeu a visão por conta de complicações de glaucoma aos 24 anos. “Aqui é um ponto de referência, também de socialização. É um espaço de convivência, um lugar que acolhe, me acolheu desde a época em que era usuário e segue acolhendo como servidor. Todos estão aptos a atender de forma profissional e carinhosa, isso faz a diferença. Sempre quis trabalhar aqui, justamente para fazer a mediação entre os cegos e a biblioteca e garantir acesso a outras pessoas com deficiência”, pontua.
MAIS TECNOLOGIA
Desde 2022, a Biblioteca Pública Arthur Vianna conta com um novo serviço, os óculos “Orcam MyEye”, que permitem a leitura instantânea de materiais como livros, revistas, apostilas e código de barras. Os óculos apresentam uma câmera acoplada que reconhece os objetos e cores situados a sua frente.
“O braille não pode andar separado da tecnologia e os óculos são exemplos disso, porque proporcionam leitura imediada, a partir do scanner da página e a leitura por um dispositivo que acopla a armação. Isso dá independência porque a pessoa lê o que quer e a hora que quer, sem precisar passar pelo processo de conversão. Temos três óculos disponíveis para utilizar no espaço”, conta o pedagogo. Thaiane comemora a possibilidade de poder ler qualquer livro com os óculos. “Em muito menos tempo e com mais facilidade, leio livros de forma imediata. Eu amo ler livros de ficção e de comunicação. Essa tecnologia é uma revolução”, assegura a jornalista.
O espaço fica no segundo andar do Centur, aberto ao público, de segunda-feira a sexta-feira, das 9h às 18h. A Fundação também oferece, a cada três meses, oficinas gratuitas de braille direcionadas para estudantes e professores que trabalham na área. A seção braille recebe em torno de 200 usuários por mês.
PROGRAMAÇÃO
Do dia 10 ao dia 14 de abril, a biblioteca terá programação de vivências em braille com rodas de conversa, experiências de vida, além de ação cultural com leituras em braille. Na terça-feira (11), a Unidade Educacional Especializada José Álvares de Azevedo vai realizar uma oficina lúdica de braille com os alunos e familiares, parte do projeto: braille meu mundo de possibilidades.
O Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR) também tem uma biblioteca inclusiva, recheada de histórias dentro de um acervo com 200 livros contando literaturas infantis e fantasias, além de revistas em quadrinhos, com exemplares em braille. O espaço foi criado para dar um suporte ao acesso à informação e mais independência à pessoa cega, através da leitura, em meio às terapias oferecidas pelo CIIR. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone: (91) 4042.2157 / 58 / 59.
“A biblioteca é um espaço de livre acesso dentro do Centro. Qualquer pessoa que estiver fazendo algum tipo de atendimento pode visitar o espaço, usar os recursos disponíveis, participar das atividades que estiverem acontecendo. Atualmente, a biblioteca conta diversificados títulos em braille, o que favorece o acesso à informação de pessoas com deficiência visual, uma vez que o formato braile é importante para a alfabetização dessas pessoas e a inserção dentro da sociedade”, destaca Denise Morais, bibliotecária do CIIR.
SERVIÇO
A Biblioteca Arthur Vianna funciona na avenida Gentil Bittencourt, nº 650, no bairro de Nazaré, em Belém.
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