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TECNOLOGIA

Como os videogames influenciam o comportamento das pessoas

Afinal, até que ponto os jogos podem influenciar o comportamento das pessoas? Para tentar responder a esta pergunta o DIÁRIO ouviu dois especialistas. Confira!

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Imagem ilustrativa da notícia Como os videogames influenciam o comportamento das pessoas camera Sobre a influência dos games, os estudos têm apontado tanto aspectos positivos quanto negativos | ( Divulgação )

A discussão acerca da influência dos videogames e jogos eletrônicos no comportamento das crianças e jovens não é necessariamente uma novidade, mas com a presença cada vez maior dos jogos digitais na vida cotidiana e a grande noção de realidade alcançada pela tecnologia o assunto é retomado de tempos em tempos.

A questão é ainda mais acirrada quando se consideram jogos que simulam situações violentas, como os que os personagens não hesitam em atirar em outras pessoas, roubar ou explodir carros para alcançar um objetivo. Mas, afinal, até que ponto os jogos podem influenciar o comportamento das pessoas?

A pedagoga, especialista em neuropsicopedagogia e mestranda em educação, Bruna Pinto, considera que não existe uma resposta simples e direta para esta questão. Ainda que os jogos eletrônicos não sejam uma novidade na pauta de discussão entre especialistas no assunto do desenvolvimento infantil, ela aponta que se deve considerar o fato de o cenário do desenvolvimento infantil hoje ser o de uma geração nativa digital.

“As crianças já nascem nesse mundo digital e desde cedo estão tendo acesso a instrumentos tecnológicos digitais que as expõem a muitas informações e estímulos, como no caso dos jogos eletrônicos. Quando uma criança joga excessivamente em celulares, tabletes ou videogames, ela acostuma o cérebro a ser bombardeado de estímulos e respostas por meio de recompensas rápidas e isso faz com que o cérebro libere dopamina, e quando liberada provoca a sensação de prazer, satisfação e aumenta a motivação, mas quando liberada em excesso está diretamente ligada ao vício, o que já se torna preocupante, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento infantil”.

A pedagoga considera, inclusive, que é possível observar crianças que jogam excessivamente em eletrônicos mais ansiosas, querendo cada vez mais respostas prontas e rápidas, além de apresentarem dificuldade em desenvolver competências socioemocionais. Não à toa, em 2020 a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu o vício em videogames na nova Classificação Internacional de Doenças (CID), caracterizando-o como distúrbio em jogos (Game Disorder).

INFLUÊNCIA

Mais especificamente sobre a influência dos games no comportamento, o que os estudos têm apontado são tanto aspectos positivos, quanto negativos. “As pesquisas realizadas nos últimos 5 anos sobre a influência dos jogos eletrônicos de qualquer categoria no comportamento das pessoas, sobretudo as meta-análises, apontam que há influências positivas e negativas”, explica Bruna Pinto.

“Agora, quando relacionamos jogos eletrônicos de violência aos casos violentos reais, como os ataques recentes às escolas, por exemplo, é necessário considerar outros aspectos. Não é possível afirmar que uma pessoa que apresenta comportamentos agressivos ou comete algum ato criminoso seja influenciada apenas pelos jogos eletrônicos de violência”.

A especialista em neuropsicopedagogia considera que é evidente que eventos trágicos como os citados são consequências de inúmeros fatores e têm raízes muito profundas em uma sociedade cheia de problemas sociais.

“Algumas pesquisas apontam para pequenas correlações entre jogos violentos e alguns comportamentos mais agressivos em crianças, como o de gritar e empurrar, mas culpar os videogames sobre os casos de violência na sociedade não é cientificamente sólido e desvia a atenção de outros fatores”, pontua.

“Agora, é de extrema importância ressaltar que deixar crianças jogarem jogos não adequados à faixa etária e sobretudo violentos não é saudável, pois pode confundir a cabeça da criança que ainda está aprendendo a diferenciar fantasia da realidade, além de aguçar a curiosidade no manuseio de armas de fogo, por exemplo, o que é muito perigoso”.

Considerando, justamente, a possibilidade de influências tanto positivas, quanto negativas, a pedagoga aponta a necessidade de que, no caso de uso dos jogos eletrônicos por parte das crianças, os pais e responsáveis se mantenham atentos.

“Também há influências positivas dos jogos eletrônicos, porém, os adultos responsáveis precisam estar atentos aos excessos e à faixa etária adequada aos tipos de jogos que as crianças estão consumindo. É importante saber que, quando usados de maneira adequada, os jogos eletrônicos podem trazer benefícios, então, cabe a nós, adultos, sabermos utilizar essa tecnologia para o bem, para o desenvolvimento positivo dessas crianças. Tem jogos eletrônicos que são utilizados até em terapias, são jogos colaborativos que estimulam algumas habilidades importantes nessa faixa etária da primeira infância até a adolescência, então, há sim influência positiva também”.

ESTÍMULOS

O psicólogo e conselheiro do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Rodrigo Acioli, considera que, para além da questão do videogame especificamente, é possível abrir o debate e considerar que qualquer estímulo pode influenciar o comportamento.

Quando se fala em comportamento humano, deve-se considerar que o homem está inserido em uma sociedade, portanto, ele vive em um ambiente plural, com muitos estímulos tanto sociais, quanto ambientais, e, mais ainda, a estímulos externos, que vêm de fora, e estímulos internos, que são aqueles estímulos naturais, orgânicos, chamados de comportamentos privados. São os pensamentos, as sensações diante de circunstâncias e que impulsionam, estimulam, encorajam ou não o indivíduo a tomar determinadas atitudes e ter determinados comportamentos.

Neste cenário, é natural pensar que os videogames também podem influenciar comportamentos, mas o psicólogo considera que não é possível culpabilizar os videogames por comportamentos violentos observados na realidade, por exemplo.

“O videogame pode estimular, sim, pensamentos e sentimentos nas pessoas. No jogo de videogame também existe adrenalina, através de jogos de videogame as pessoas também aprendem, estimulam reflexos, estimulam a intelectualidade, existem jogos de videogames que são educacionais, então, o mais importante nessa história não é culpabilizar os videogames ou os jogos”, avalia. “É óbvio que existem jogos que são bacanas e jogos que não são tão bacanas, e existem pessoas que se sentem estimuladas de acordo com o jogo”.

Ainda que o game que passa na tela não seja uma realidade, e sim uma virtualidade, o jogo está acontecendo, o que faz com que a atitude e a ação sejam reais. Neste contexto, o psicólogo considera que existem crianças e mesmo adolescentes, jovens e adultos que acabam reproduzindo esses comportamentos em brincadeiras, mas não se deve esquecer que não só o videogame pode influenciar comportamentos.

“Pessoas podem influenciar comportamentos, o que aquela pessoa vive na sociedade pode influenciar comportamentos, então é um somatório. Penso que não dá para dizer que o videogame é o principal influenciador nesses comportamentos de violência que existem. Nós estaríamos culpabilizando um objeto inanimado, que não tem direito de resposta”, considera.

“Então, a responsabilidade está muito maior em nós mesmos, responsáveis, pais, amigos, parceiros, colegas na construção dessa identidade, na construção desses seres éticos, desses seres críticos na sociedade. Não dá para responsabilizar o videogame porque isso é um somatório de circunstâncias de acordo com o ambiente que vivemos”.

Para além dos comportamentos, os jogos eletrônicos ou os videogames também estimulam a produção de determinadas substâncias químicas no organismo, característica que pode levar a uma relação não tão saudável com esta ferramenta, mas, mais uma vez, essa condição depende do uso feito pelo indivíduo.

O conselheiro do CFP, Rodrigo Acioli, aponta que a relação de dependência com os jogos eletrônicos já era descrita pela literatura há bastante tempo, em diferentes estudos, artigos e publicações.

“Existem pessoas que ficam dependentes desses estímulos gerados pelos jogos, independentemente de quais sejam eles, e isso passa a ser, em alguns momentos, um problema de saúde também. Hoje em dia, com certeza, essa temática já desenvolveu e cresceu muito, mas antigamente, até mesmo em livros de dependência química você encontrava capítulos, artigos sobre jogos de videogame. Na época isso era chamado de ciberdependência. Então, o mais importante não é o controle do jogo em si, mas a relação que nós temos com esses jogos”, avalia, antes de concluir que “é preciso reconhecer que as nossas relações são o somatório da interação das ferramentas que nós temos com o mundo que nós vivemos, com as pessoas que nós vivemos, com a natureza, enfim. O desafio é navegarmos de maneira saudável sobre todas essas áreas”.

Limite de tempo no uso dessa tecnologia por crianças

Independentemente do tipo de jogo eletrônico, um ponto fundamental é o limite, principalmente de tempo, no uso dessa tecnologia por crianças. É preciso que pais e responsáveis determinem o tempo de uso, respeitando as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria de acordo com cada faixa etária, já que, segundo aponta a pedagoga, o uso excessivo de telas e longas jornadas em jogos eletrônicos podem prejudicar o desenvolvimento infantil em aspectos de saúde física e emocional.

“Os pais precisam acompanhar tudo o que os filhos consomem na internet, seja por meio de vídeos, redes sociais ou jogos. Atualmente, muitas crianças menores de 10 anos já possuem celular e é possível controlar o acesso dos pequenos através de aplicativos que vinculam o celular da criança ao celular dos pais, e tudo que é baixado e acessado os responsáveis têm acesso às informações, inclusive sobre o tempo de uso de cada aplicativo do aparelho da criança”.

Outra maneira de acompanhar esse uso é os pais jogarem com os filhos, buscando entender a dinâmica dos jogos, qual tipo de ação precisa fazer para ganhar a recompensa, se o jogo é adequado para a faixa etária, quais estímulos pode provocar e se há interação com desconhecidos.

“Vale ressaltar a observação também em relação aos comportamentos da criança, se ela está deixando de interagir com amigos e familiares, deixando de participar de atividades que gostava e priorizando os jogos, se está muito irritada, intolerante, com baixo desempenho acadêmico ou ainda se imita comportamentos inadequados ou não de personagens dos jogos eletrônicos. E, se for necessário, procurar ajuda de especialistas na área”.

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