Promover uma economia sustentável é um dos objetivos da Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP 30. Isso inclui o desenvolvimento de setores econômicos que sejam ambientalmente responsáveis e socialmente justos. Além disso, a conferência explora maneiras de mobilizar financiamento para projetos e iniciativas sustentáveis, garantindo recursos para a implementação de ações climáticas.
Neste último fascículo da Série Diário Documento Sustentabilidade, o leitor vai conhecer alguns exemplos desenvolvidos na Amazônia que adotam a chamada Economia Verde e Financiamento Sustentável. São ideias que têm dado certo e que podem servir como referência para a transformação da região a partir das discussões do evento de novembro de 2025 e incentivar a mudança de hábitos da população.
Conteúdos relacionados
- COP 30 acelera a jornada de Belém para sustentabilidade
- Sustentabilidade: uma questão de sobrevivência
Para começar, apresentamos o projeto Rede Andorinhas de Economia Solidária, uma estratégia de comercialização de múltiplos produtos, serviços e negócios, envolvendo coleta seletiva, cooperativismo e sustentabilidade. A iniciativa é desenvolvida pelo professor João Cláudio Tupinambá Arroyo, economista autor de livros como “Amazônia: Desenvolvimento Sustentável em debate”, editado pelo Fórum da Amazônia Oriental (FAOR) em 1997 e “Como lidar com uma Amazônia Sensível”, 2021, pela editora Unama, onde leciona.
“A Rede Andorinha de Economia Solidária é uma construção que formalmente começamos como projeto de extensão, eu como professor de economia. A ideia é que a aplicação prática da teoria consiga ser amadurecida para se transformar em soluções para problemas práticos efetivos de como a sociedade enfrenta a pobreza, a miséria, toda sorte de mazelas que enfrentamos no Brasil e no mundo”, apresenta. “O ponto de partida é a economia solidária, o que as comunidades fazem para sobreviver e garantir sua vida com qualidade mínima, mesmo no advento das indústrias”.
Segundo Arroyo, a ideia é fazer com que as pessoas melhorem suas condições de vida a partir do próprio trabalho. “A economia solidária não tem cesta básica, não tem doação de nada. Tem a cooperação pelo trabalho, uma reorganização do trabalho a partir dos trabalhadores, sem que haja concentração de um terceiro, que seria o patrão”, ilustra.
“Nós estamos testando toda essa teoria na prática, vendo no que ela se adequa, no que ela não se adequa. Essa é a motivação inicial da Rede Andorinhas”, prossegue. “Ela funciona com a organização de empreendedores populares, geralmente artesãos, cozinheiras, pessoal que trabalha com confecção, é muito diverso. São pessoas que buscam sua sobrevivência a partir do auto trabalho. A gente passa então a dar uma perspectiva econômica coletiva fazendo eles alcançarem uma condição econômica que eles não têm como fazer sozinhos”.
Quer saber mais sobre as notícias do Pará? Acesse nosso canal no Whatsapp
O professor conta que a rede solidária está em fase inicial e na primeira fase chegou a ter duas lojas, coisa que os empreendedores dificilmente conseguiriam ter sozinhos. “Depois chegamos a ter uma terceira loja, fazendo até o calçadão da economia solidária, mas tivemos problemas de gestão, tivemos que fechar”, admite.
“Criamos um site junto com eles. Só tem sentido esse processo se eles se auto empoderarem. Tudo é dirigido por eles . Temos reunião toda terça-feira. Alguns não conseguem participar porque não percebem que estão se apossando de um novo patamar econômico”, analisa. “Os que já perceberam, vão. Estamos oferecendo um conjunto de vivências que eles não tinham, gerando um conhecimento que não é rápido que se adquire, ainda mais na vida adulta, com todos os percalços que se enfrenta. É uma organização teoricamente definida como autogestão”.
Na Rede Andorinhas, a vantagem é que os empreendedores têm, além do negócio próprio, como confecção, brechó e artesanato, um outro negócio, que é de organização coletiva. “Eles têm ponto de venda, estrutura de marketing, outro ferramental econômico que possa tornar a sua potência econômica muito maior”, explica Arroyo. “É todo um aprendizado, é todo um trabalho novo. Pode participar qualquer pessoa, porque na economia solidária é considerado agente econômico tanto quem produz quanto quem consome. E já se está organizando o consumo consciente, porque na economia solidária isso é importante”, cita.
A rede iniciou há dois meses a coleta seletiva remunerada com um posto de coleta seletiva. “Quem leva (itens recicláveis) é remunerado com a moeda social, a Andorinha. Um quilo de latinha, se paga R$ 4 no Aurá - R$ 2 para a cooperativa e R$ 2 para quem levou a latinha -, seja quem for. Isso é mais uma frente de educação ambiental”, considera Arroyo.
CONSUMIDOR
O professor ressalta que o consumidor também precisa se organizar economicamente, já que faz parte da economia solidária. “Por isso estamos criando o Banco Andorinha, com moeda social própria, que a gente deve caminhar para a cooperativa de consumo. Então, qualquer pessoa pode se beneficiar”, garante.
“A gente passa a entender que a qualidade de vida coletiva, segurança, ar puro, qualidade ambiental, são bens fundamentais. Uma hora o cara tem carro, muro alto, mas uma hora ele vai ser vulnerável e pode sofrer violência. Uma hora o vírus não escolhe o pobre ou rico, ele vai nos dois. Vimos isso na Covid. A insalubridade social, econômica e sanitária só se resolve se tivermos vida digna para todo mundo”, defende.
“Essa é a base e o propósito da economia solidária como projeto de sociedade. Ela vai quebrar paradigmas. Q que gera riqueza não é dinheiro, é o trabalho, o intelectual, o valor que você tem do conhecimento, mas o fetiche do dinheiro serve para manipular quem não tem”, critica. “O benefício é ter uma sociedade equilibrada, de partilha para que todos possam crescer e somar juntos, gerar esse padrão de riqueza que a sociedade nunca sonhou em ter”, completa o professor.
Outra informação importante é que o projeto “não tem um centavo de dinheiro público, nem privado. Só o apoio institucional da universidade, que cede o espaço”, conta o docente. “Tudo é ambiental, mas carregamos uma cultura do conhecimento fragmentado, das disciplinas, isso aqui é matemática, isso aqui é biologia, mas no mundo é tudo misturado. Todos os produtos da economia solidária são feitos no rigor do controle ambiental e sustentabilidade. O que é plantado não tem agrotóxico, não tem trabalho escravo nem de criança. Mulher não ganha menos que o homem”.
PARA PARTICIPAR
- A Rede Andorinhas de Economia Solidária é um empreendimento onde todos que trabalham são sócios com poderes iguais sob autogestão, comprometidos com a produção sustentável, sem degradação ambiental, com o fim das desigualdades de direitos e um consumo consciente. Um espaço democrático 360°, de construção da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Para fazer parte como produtor, fornecedor, consumidor, revendedor, formador, divulgador ou apoiador se inscreva no link https://forms.gle/bxb47 TD33hghrZT88 ou faça contato com a coordenação - [email protected] e (91) 99121.3999 - WhatsApp.
Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.
Comentar