O Brasil é um país multicultural, diverso e repleto de crenças e religiões. A Constituição Brasileira assegura o direito e a liberdade ao culto religioso, independente de qual seja. No entanto, episódios de intolerância e racismo religioso acabam por desrespeitar não só a legislação, como as próprias crenças das pessoas.
Pais, mães, filhos e zeladores e zeladoras de santo da Ilha de Mosqueiro estão preparando um ato público para denunciar e pedir providências contra os crimes de intolerância religiosa praticados contra os espaços de funcionamento das religiões de matrizes africanas no distrito de Belém.
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A manifestação está marcada para a próxima sexta-feira (15), na praça da Matriz, a partir das 17h. O ato quer chamar atenção para o caso violento de intolerância religiosa, ocorrido na madrugada do dia 3 deste mês, na cabana Jurema e Morada de Marabô, localizada em Castanhalzinho do Mari-Mari, território rural de Mosqueiro. Na ocasião, foram quebradas duas imagens de entidades e derrubadas muretas de proteção do espaço.
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Segundo Ângela Cezar, mãe de santo e zeladora do espaço, o ataque contra o local não pode ser visto apenas como vandalismo. “Nós, povo de terreiro de Mosqueiro, queremos justiça porque isso foi um crime de intolerância religiosa”, disse ela.
SUSTO
O ato de vandalismo praticado contra o espaço Jurema e Morada de Mirabô assustou bastante Mãe Ângela, zeladora do espaço, e toda sua família. Eles mantêm uma residência ao lado do templo na localidade há mais de dez anos e ainda não tinham assistido nada parecido dado à violência.
O ataque ocorreu de madrugada de domingo (3), quando não havia qualquer movimento nas redondezas, pois a localidade é formada, em sua maioria, por sítios e áreas extensas de plantações de açaí e mandioca, a oito quilômetros de distância da Rodovia PA-391, de acesso a Mosqueiro.
“O povo de terreiro de Mosqueiro está denunciando e querendo providências porque a impunidade pode gerar outros ataques iguais a esse, aqui em Mosqueiro, porque temos uma grande comunidade de praticantes de religiões de matrizes africanas”, destacou Mãe Ângela. “Isso é um crime, pois nossa prática religiosa é para fazer o bem e a caridade”, completou.
INVESTIGAÇÃO
Até agora, ninguém foi preso. O caso foi registrado no dia seguinte, 4 de dezembro, na Delegacia de Combate aos Crimes Discriminatórios e Homofóbicos, com sede em Belém, e tramitou para a Seccional Urbana de Mosqueiro, sob a responsabilidade do delegado Nélio Magalhães, que continua a procura de pessoas suspeitas.
De acordo com advogado Pedro Cavalero, diretor de Igualdade Racial, da Secretaria de Igualdade Racial e Direitos Humanos do Governo do Estado (Seirdh), o caso está sendo investigado como um crime de racismo religioso, mediante a conduta do agressor (a) que, segundo a linha de investigação policial, pode ter utilizado um machado ou outra ferramenta de igual tamanho para desferir os golpes contra as imagens.
A imagem de “Dona Mariana”, entidade popularmente cultuada pelos povos de terreiros, em tamanho natural, recebeu golpes no rosto e na coxa e a imagem de Xangô foi totalmente destruída, ocasionando prejuízos financeiros acima de R$ 3 mil, e religioso e emocional para os simpatizantes.
“Estamos muito tristes, porque, em dez anos, não tínhamos passado por isso, porque a vizinhança é tranquila. Agora, não sabemos mais quem pode ter praticado esse crime, porém, não vamos nos calar”, destacou Mãe Ângela.
RACISMO
Este foi o terceiro caso de crime de racismo religioso praticado contra os chamados povos de terreiro, em 2023, em Belém. Além da ação da Coordenadoria Antirracista, da Prefeitura de Belém, os casos também são acompanhados pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Igualdade Racial e Direitos Humanos.
O advogado Pedro Cavalero disse que já foram tomadas medidas de acompanhamento das vítimas e solicitação de policiamento ostensivo para área rural de Mosqueiro, assim como uma reunião com delegado-geral de Polícia Civil do Pará, Walter Rezende.
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