As ruas do município de Bragança, no nordeste paraense, estão sendo preparadas para receber, mais uma vez, o vermelho e o azul dos marujos e marujas que homenageiam São Benedito, co-padroeiro da cidade. O evento, que ocorre entre os próximos dias 18 e 26, é uma tradição mantida há 225 anos. A estimativa dos organizadores é que esse ano atraia cerca de 120 mil pessoas.
Nesta edição, o tema escolhido para a programação da festividade e da Marujada foi: “A exemplo de São Benedito, sejamos fiéis a nossa vocação”. “A escolha desse enfoque é também uma conjunção de outros temas de festividades anteriores ao Santo, incentivando e alimentando o fervor e a devoção ao padroeiro do povo bragantino”, explicou o historiador Dário Benedito Rodrigues.
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Durante os nove dias serão realizadas atividades que incluem desde almoço, café da manhã, até danças, disputa de cavaleiros na cavalhada, leilão, procissões, entre outras manifestações. A Marujada de São Benedito e a festividade em si são duas expressões que, juntas, simbolizam a devoção religiosa e um grito de resistência à escravidão.
“Se eu pudesse resumir em uma frase o significado de tudo isso, diria que São Benedito é a essência do povo bragantino. As pessoas se veem representadas por esse momento, que não apenas traz celebrações, mas também testemunhos de fé. Aqueles que devotam encontram na festa um momento de gratidão pela vida. É a nossa identidade”, detalha Dário, que também é um dos organizadores da festividade.
O ápice da programação ocorre em dois momentos: dia 25, quando marujos e marujas se vestem de azul e branco, traje que faz uma alusão ao nascimento de Jesus Cristo, cuja imagem em criança é carregada no colo pelo co-padroeiro. No dia 26, ocorre diversas atividades, além da procissão com os participantes trajando vermelho e branco, por cerca de 4,73 quilômetros.
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Dário lembra que a festividade em homenagem ao santo negro é organizada desde que, em 3 de setembro de 1798, os negros escravizados, libertos e livres da Vila de Bragança criaram a Irmandade do Glorioso São Benedito de Bragança. Na época começou a organizar a festa para reunir os seus pares ao redor da devoção e construir uma igreja, uma aliança de resistência cultural através da Marujada.
“Eles também tinham o objetivo de fazer as esmolações, ir de casa em casa, levando São Benedito nas regiões rurais da cidade anunciando a festa e também preparando os donativos para receber o Santo e, por último, de fazer com que a irmandade tivesse essa aliança de resistência cultural que é a Marujada, algo indissociável da festividade”, lembra o professor.
A herança deixada por essa irmandade católica no final do século XVIII não apenas se converte em um símbolo cultural, mas também se estabelece como parte da identidade da cidade de Bragança. “Mas esse momento só passa a ser massificado no final dos anos 80 com os projetos do Preamar. Já no final da década seguinte, a festa se massificou e chegou a receber cerca de 100 mil pessoas”, detalha Dário.
A Marujada de São Benedito é reconhecida como Patrimônio Histórico do Estado do Pará. Neste ano a festividade avançou mais um passo para se tornar Patrimônio Cultural do Brasil. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional realizou no município onde a festa é realizada uma reunião de consulta pública, que faz parte do processo de inventário de referências culturais exigido pelo órgão.
O trabalho de inventário só foi possível graças ao senador Jader Barbalho (MDB), que indicou duas emendas parlamentares para que a Universidade Federal do Pará (UFPA) realizasse o levantamento documental necessário para a preservação de uma das mais importantes e tradicionais festas populares do Estado. A coleta de material e pesquisa foi feita por alunos e professores da UFPA.
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