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BELÉM 408 ANOS

A expansão de Belém passou por aqui: avenida Tamandaré

A expansão para o interior do território de Belém se deu a partir do aterramento de alguns igarapés, como o Igarapé do Piri, já nos séculos XVIII e XIX, surgindo a partir daí a futura avenida Tamandaré.

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Imagem ilustrativa da notícia A expansão de Belém passou por aqui: avenida Tamandaré camera Seu Hélio Câmara mora desde que nasceu na avenida Tamandaré e relembra as transformações da via. | Mauro Ângelo / Diário do Pará

A atual configuração da avenida Almirante Tamandaré, no bairro da Cidade Velha, em pouco lembra as características que a representavam no período em que a cidade de Belém ainda vivenciava a expansão do seu território para além do núcleo inicial. A extensa avenida marcada, hoje, pelo fluxo de veículos de pequeno e grande porte, além da presença de inúmeros estabelecimentos comerciais, é fruto do intenso processo de transformação vivenciado pela via ao longo dos anos. No passado, que guarda não apenas a memória da própria avenida, como também de parte da formação da cidade de Belém, a região não passava de uma área de mata alagadiça, marcada pela presença de um grande igarapé.

A via que hoje recebe o nome de Joaquim Marques Lisboa, figura tida como importante pela Marinha de Guerra do Brasil, é um marco de um processo de urbanização que foi fundamental para a formação e interiorização de Belém, o aterramento do antigo Pântano do Piri. A historiografia aponta que, até o século XVIII, a cidade de Belém se restringia à parte próxima ao rio, no entorno do local onde se instalou o Forte do Presépio.

À época do período da fundação de Belém, o entorno do Forte era cortado, por terra, por um grande pântano chamado Pântano do Piri e por um igarapé de mesmo nome que iniciava onde hoje está a Doca do Ver-o-Peso e seguia até próximo do que hoje é o bairro de Batista Campos. Tal configuração limitava o crescimento da cidade, portanto, a expansão para o interior do território se deu a partir do aterramento de alguns igarapés, como o Igarapé do Piri, já nos séculos XVIII e XIX.

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Segundo aponta o engenheiro e historiador Augusto Meira Filho, no livro “Evolução Histórica de Belém do Grão-Pará”, o aterro do Alagado do Piri iniciou ainda em meados de 1803. Sob o comando do então governador da Capitania do Grão-Pará, Conde dos Arcos, o trabalho empreendido se concentrou sobre três estradas, entre elas uma grande artéria onde se localizaram as linhas máximas de descarga da água, justamente a hoje chamada Avenida Almirante Tamandaré. “Aquelas estradas que serviram de base operacional para o primeiro desvio e descarga das águas poluídas da imensa baixada histórica, o foram: estrada das Mongubeiras (Almirante Tamandaré), estrada de São José (Av. 16 de novembro) e estrada de São Matheus (Av. Padre Eutíquio) que por si só chefiaram a drenagem suplementar de outras artérias menores, abertas e fixadas no local”, relata Augusto Meira Filho.

O aterramento transformou aquela região da cidade, possibilitando novas ocupações e modificações que se intensificaram com o passar dos séculos. Mesmo na memória de quem conheceu aquela região há apenas algumas décadas, o cenário já é bastante diferente do visto hoje. “Há 70 anos a Tamandaré não tinha nada de asfalto ainda, tinha o igarapé no meio, mas era bem diferente”, recorda o jornalista Hélio Câmara, 71 anos.

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Nascido na avenida Tamandaré, Hélio lembra de um passado em que a avenida já havia, naturalmente, sido aterrada, mas cujo cenário lembrava muito mais a de um igarapé cercado por vegetação, do que o canal de alvenaria que se tem hoje. Foi neste local, acompanhando as mudanças do tempo, que ele se criou, formou a sua família e se mantém até hoje. “A minha vida toda foi aqui na Tamandaré. Até hoje eu revejo o pessoal que estudou comigo no (Colégio) Rui Barbosa, aqui eu me casei, meu filho também se casou. Não tem quem faça eu sair da Cidade Velha”, conta. “Antigamente isso aqui era um igarapé que ia até a (avenida) Padre Eutíquio. A gente atravessava por cima de uma ponte de madeira, depois é que foram asfaltando”.

Aos 82 anos de idade, a aposentada Raimunda Costa também guarda na memória a lembrança da antiga ponte de madeira. “Mudou muito. Antigamente era um igarapé aqui, essa praça aí (a atual Praça Onze de Junho) era um aningal, depois foram concretando tudo, fizeram o canal como é hoje”.

O ALMIRANTE

Não só na Praça Onze de Junho, citada por Raimunda, mas também na vizinha Praça Carneiro da Rocha (mais conhecida como Praça do Arsenal), é possível ver o busto do homem que passou a emprestar o nome à avenida canalizada. No livro ‘Ruas de Belém’, o historiador Ernesto Cruz registra que o Almirante Tamandaré era Joaquim Marques Lisboa, um português nascido em 1807 que foi considerado a “mais impressionante figura da Marinha de Guerra do Brasil, da qual é símbolo e patrono”. Cruz lembra que Tamandaré esteve no Pará por ocasião da Cabanagem, sendo um dos responsáveis por reprimir a revolta popular. “Era, nesse tempo, comandante do brigue Cacique. Ajudou a vencer os balaios, do Maranhão, e os praieiros, de Pernambuco. Na guerra do Paraguai, levou o Brasil ao triunfo e à glória. O imperador agraciou-o com o título de Marquês de Tamandaré”.

CABANAGEM

A homenagem à figura que teve participação na repressão a um movimento tão importante quanto a Cabanagem é, inclusive, destacada pelo historiador Jaime Cuéllar Velarde. O professor lembra que o ato de nomear espaços públicos como praças e ruas, normalmente, é feito para homenagens e o fato de uma importante avenida de Belém receber o nome de um Almirante que lutou contra os ideais cabanos chama à reflexão. “A Cabanagem, segundo Caio Prado Júnior, foi o mais notável movimento popular do Brasil. Chiavenato, em 1984, nos diz que o Pará eliminou quase todas as formas de opressão. Silveira, em 94 ainda, diz que foi um movimento que deixou marcas profundas e significativas na região e no Brasil. Reis, em 78, diz que foi um movimento de explosão de multidões mestiças e indígenas feito por homens do povo. Guimarães, que estuda o movimento, diz que foi um momento em que chegou ao poder o povo, por um período considerável de tempo. De Paolo fala que a Cabanagem foi uma Revolução Popular importante na Amazônia e significativa para a história do Brasil. Vicente Sales, em 92, nos diz que a Cabanagem se caracterizou por ser um movimento tipicamente social, uma expressão autêntica de guerra de libertação”, introduz. “A Cabanagem, pelo visto, foi um episódio da história do Pará que nos dá muito orgulho, nos dá muita alegria. Então, o que dizer de uma pessoa, de um homem que veio até o Pará e lutou contra esses ideais de liberdade e de autonomia? Esse homem tem um nome, se chama Joaquim Marques Lisboa”.

A expansão de Belém passou por aqui: avenida Tamandaré
📷 |ARTE / DOL E RBA
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