Caracterizada por intensas transformações urbanas que se desenrolaram, inclusive, até pouco tempo atrás, a avenida João Paulo II guarda uma ligação íntima com as mudanças vivenciadas pela cidade de Belém no período de atuação do então presidente da Câmara Municipal, Antônio Lemos. Inicialmente batizada com o nome de 1º de Dezembro, a via se desenvolveu ao longo do tempo e já nos anos 1980 recebeu a visita ilustre de um líder religioso que, três décadas mais tarde, viria a se tornar Santo, o Papa João Paulo II.
O historiador Jaime Cuellar Velarde explica que desde o século XVI, Belém (PA) teve seu espaço urbano forjado pelo regime das águas da foz do Rio Guamá e Baía do Guajará. Ele aponta que, naquele período, os rios eram os pontos de intersecção entre a sociedade ribeirinha e os espaços de produção de frutas, farinhas, peixes e outros gêneros. Logo, os vários portos da cidade eram os principais espaços de poder, trocas, acordos, negociações da cidade.
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Esse cenário passou a se modificar a partir do final do século XIX e início do XX, a partir do advento da pujança econômica proporcionada pelo ciclo da borracha. “Antonio Lemos, na condição de intendente, tratou de construir uma cidade que não fosse orientada somente pelo tempo das águas, mas pelo tempo do cartesianismo industrial. Foi uma revolução na forma de pensar a organização do espaço da capital pois a urbe avançava em direção à floresta, dando as costas para os portos”, aponta o professor.
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“As construções com cerâmicas, estilos e materiais europeus se tornaram comuns naquele período. O espaço urbano cada vez mais ‘imitava’, ou procurava imitar, costumes parisienses. Assim, casarões, praças, cafés, teatros e palácios com inspirações europeias são erigidos na Amazônia, em Belém e Manaus, em especial”. Já na condição de presidente da Câmara Municipal, após a Proclamação da República, Antônio Lemos começa a ocupar a região do Marco da Légua, o que se demonstrou um desafio urbanístico.
Na época, a hoje avenida Almirante Barroso já existia, porém, recebia o nome de avenida Tito Franco. Apesar disso, Antônio Lemos toma a iniciativa de implantar outra via na região, o que viria a se tornar a avenida João Paulo II. “Com a publicação da Lei 282, de 1900, a Primeira de Dezembro, foi autorizada a abertura da Avenida 1º de Dezembro”, explica Jaime Cuellar Velarde.
“A princípio, a avenida iria até a altura do Marco da Légua, somente, pois o espaço urbano chegava até ali na época. Mas, a verdade é que o trecho iniciado em Canudos jamais foi transitável em sua totalidade. Por conta das muitas áreas alagadiças, com mato alto, as pessoas não se arriscavam a utilizar a via. E assim, em meio ao desuso das pessoas, que preferiam transitar na Tito Franco, e ao abandono do poder público, a 1º de Dezembro atravessou mais da metade do século XX”.
O historiador lembra que somente no período da Ditadura (1964-85) houve interesse governamental em promover alterações na avenida. “Em 1972 houve asfaltamento e iluminação pública iniciada pelo prefeito de Belém Nélio Dacier Lobato e governador Fernando Guilhon. Queriam impressionar o ministro Jarbas Passarinho que visitaria a capital. Aconteceu então sua reinauguração com pompas e discursos”, relata o historiador.
“Mas o projeto de Antonio Lemos de ver uma suntuosa avenida paralela à Tito Franco até o distante Entroncamento não chegou a se concretizar. Houve até interesse do Departamento Municipal de Estradas de Rodagem, mas foi impedido de prolongar a avenida pois seria preciso avançar em áreas do estande de tiros do Utinga, pertencente ao Exército. Desta forma, a urbanização da Avenida 1º de Dezembro se dá de forma lenta no século XX e em doses homeopáticas, ainda no XXI”.
Ainda em 1980, no dia 08 de julho, a via teve a sua história atravessada pela celebração de uma missa campal presidida pelo Papa João Paulo II. “Em 8 de julho de 1980, o Papa aterrissou no aeroporto de Val-de-Cans. Cansado, descansou no Seminário São Pio X, no km 6 da BR. Dali, à tarde, visitou um leprosário em Marituba. E, de tarde, retornou para Belém para realizar uma missa campal. A princípio, a missa se daria em Nazaré, mas depois de supostas ameaças, houve a decisão da esquina da Primeiro de Dezembro com a Mauriti”, relata Jaime. “Então às 18h45, aproximadamente, o Santo Padre começou sua homilia”.
A multidão que tomou conta da avenida para acompanhar a missa presidida pelo Papa segue registrada não apenas nas fotografias, mas também na memória de quem presenciou o fato histórico. O porteiro Jair de Nazaré, 60 anos, até hoje lembra de como ficou a avenida quando a missa foi celebrada no local. “Isso aqui ficou tomado e eu assisti tudo de camarote porque a minha casa fica bem na esquina”, recorda. “A rua mudou muito, antigamente a situação era triste, não tinha asfalto, isso aqui alagava tudo”.
Dentre as mudanças urbanísticas vivenciadas pela avenida, a formação de um longo corredor de calçada, no canteiro central, é a que mais agrada à aposentada Socorro Araújo, 61 anos. Moradora há mais de cinco anos, ela não abre mão de praticar exercícios no local. “É uma avenida muito boa de morar. Eu gosto muito de fazer exercício aqui porque tem um espaço bom para caminhar”.
MONUMENTO
Exatamente no ponto onde o Papa João Paulo II celebrou uma missa no dia 08 de julho de 1980, na esquina da avenida João Paulo II com a travessa Mauriti, um monumento rememora a presença ilustre do líder religioso que viria a se tornar Santo. Na placa, está registrada a frase dita pelo Papa à época: “Belém e Nazaré nos falam antes de tudo de Jesus, o Salvador”.
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