O empreendedorismo indígena ganha destaque mais uma vez no Chocolat Xingu 2024, festival internacional que acontece entre 13 e 16 de junho e chega à sua terceira edição, em Altamira, no Pará, sexto maior produtor de Cacau do Estado. De origem amazônica e produzidos a partir das amêndoas do fruto, os chocolates Karaum Paru, que significa “Arara da Água” e Yudjá, nome da etnia, lançados nesta quinta-feira (13), primeiro dia do evento, também carregam em suas composições os saberes dos povos originários e a preservação da natureza e da biodiversidade.
Os dois chocolates nasceram do trabalho dos povos indígenas Yudjá e Arara da Volta Grande do Xingu, com a Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, e com a Cacauway, primeira fábrica de chocolate da região. A partir de agora, a expectativa é que a parceria gere renda para seis aldeias da Terra Indígena Paquiçamba e quatro da Terra Indígena Arara da Volta Grande do Xingu.
O Karaum Paru e o Yudjá foram criados após o sucesso de outras duas marcas de chocolates com proposta semelhante e que também surgiram na região. O Sidjá Wahiü (Mulher Forte), produzido por indígenas da etnia Xipaya, vem conquistando o Brasil e participando de diversos eventos do setor. Outro caso bem-sucedido é o do chocolate Iawá - nome é uma homenagem a matriarca da comunidade - desenvolvido pelos Kuruaya, premiado com o 3° lugar na categoria Melhor Chocolate ao Leite 50% Cacau, na Chocolat Xingu 2023.
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Uma das representantes da marca Yudjá, Leliane Jacinto Juruna, da aldeia Mïratu, da Terra Indígena Paquiçamba, esperava a oportunidade de trabalhar com a produção de chocolate desde que uma oficina foi realizada na comunidade em 2022. “É uma oportunidade muito boa que estamos tendo, porque é única. Eu tive uma criação, por morar na aldeia, mas os meus filhos vão ter outra visão, porque eles já vão aprender a trabalhar com cacau e com chocolate, o que vai gerar uma boa renda e valorizar o que a gente está fazendo”, comemora a Leliane, grávida do quinto filho.
Gerente de Projetos de Sustentabilidade da Norte Energia, Thomás Sottili destaca a importância da valorização da cultura indígena e da geração de renda para as comunidades.
“Nosso objetivo é construir um legado positivo e contribuir para o desenvolvimento socioeconômico dos territórios onde a Usina está inserida. Temos como premissas no processo de desenvolvimento dos chocolates potencializar as produções indígenas, incentivar o empreendedorismo sustentável, dialogar com as comunidades na elaboração das identidades visuais, agregar valor nas vendas e trazer desenvolvimento socioeconômico com foco na qualidade de vida da população e na proteção ambiental da bacia do rio Xingu. Queremos criar uma experiência sensorial capaz de honrar, pelo menos, parte de toda biodiversidade amazônica”, disse Thomás Sottili, responsável pelo programa.
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Apesar dos quatro chocolates serem resultados recente do apoio do Belo Monte Comunidade, a jornada dos indígenas com o cacau começou bem antes, há cerca de dez anos, com o apoio do Plano Básico Ambiental do Componente Indígena da Usina Hidrelétrica Belo Monte.
“Nos últimos anos, os povos indígenas vêm desconstruindo estereótipos e lançando-se em empreendimentos próprios, inclusive os gerados em torno do licenciamento ambiental. Ações dessa natureza, além de implementar o etnodesenvolvimento, oportunizam criar seus próprios negócios e gerar melhorias para suas comunidades, o que também contribui para a economia em geral.”, avaliou Sabrina Miranda Borges, Gerência Socioambiental do Componente Indígena.
Karaum Paru - As quatro aldeias da Terra Indígena Arara da Volta Grande do Xingu ( Terrawangã, Guary-Duan, Itkoum e Maricá), no Pará, abrigam cerca de 78 famílias que cultivam as amêndoas usadas no Karaum Paru. O chocolate é leve, com 53% de cacau, contém cupuaçu desidratado, equilibrando a acidez típica da fruta amazônica com o doce do chocolate ao leite, o que resulta em um sabor único.
Yudjá - As seis aldeias da Terra Indígena Paquiçamba (Mïratu, Iya -Pukaká, Lakariká, Pupekuri, Jaguá, além da Paquiçamba), no Pará, abrigam aproximadamente 92 famílias que cultivam, de maneira integrada com a floresta, as amêndoas do Yudjá. O chocolate, feito com manteiga de cupuaçu, tem 63% de cacau e leva mangarataia, um gengibre cultivado na Amazônia, que traz um toque forte e apimentado, realçando o sabor intenso desse delicioso alimento.
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